Diretoras são foco do 8 ½ Festa do Cinema Italiano 2021, que mergulha no universo feminino

Nesta edição, Emma Dante e Alice Rohrwacher ganham destaque como diretoras proeminentes da atualidade

Por: ATribuna.com.br  -  16/06/21  -  10:18
  Corpo Celeste é um dos primeiros filmes de Alice Rohrwacher, homenageada do festival
Corpo Celeste é um dos primeiros filmes de Alice Rohrwacher, homenageada do festival   Foto: Divulgação

A 8 ½ Festa do Cinema Italiano traz um foco especial ao trabalho das cineastas italianas, que a cada ano conquistam o merecido espaço no cenário italiano e internacional. A obra das diretoras italianas é consistente e traz olhares únicos e simultaneamente diversos sobre a realidade, a sociedade e as histórias da Itália.


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Neste ano, duas realizadoras ganham destaque: Emma Dante e Alice Rohrwacher. Nesta quinta (17), a cineasta, dramaturga e diretora de teatro Emma Dante conversa com o público do festival sobre sua obra, sua carreira, suas paixões e sobre os desafios de adaptar sua peça de sucesso As Irmãs Macaluso, para o cinema.


Mergulho poético e contundente no universo feminino, o longa conta a história de cinco irmãs e como o tempo atravessa as relações e a vida destas mulheres. Emma traz um olhar atento não só sobre a trama e as histórias destas mulheres, mas também sobre as relações humanas, a morte, o amor, o que nos une. A conversa vai ao ar às 19 horas no canal do Youtube do 8 ½ Festa do Cinema Italiano e Institutos Italianos de Cultura do Rio de Janeiro e de São Paulo.


Sobre a decisão de não se dedicar somente aos palcos mas também ao cinema, Emma conta que a ideia surgiu a partir de um episódio que ocorreu com ela há sete anos: “Eu dirigia em uma rua muito estreita e diante de mim parou um carro; quem dirigia era uma senhora, uma anciã, que levava sua família neste carro. Esta senhora, muda, silenciosa, muito fascinante, não saía do lugar. Eu pensei que era uma história muito interessante de ser contada, mas não podia fazer no teatro. Assim nasceu minha vontade de fazer cinema”.


Já o projeto de levar a peça As Irmãs Macaluso para o cinema exigiu adaptações para o formato, como, por exemplo, o trabalho de direção de arte, que no palco era completamente diferente, pois as irmãs Macaluso no teatro estão praticamente suspensas no escuro, no tempo. “O trabalho de cenografia foi crucial para o projeto. Há uma construção da memória por meio dos objetos. Ensaiamos na casa por um mês, com a casa toda vazia, antes de ser decorada pela diretora de arte. Nós ensaiamos durante todo este período. E este ensaio era muito importante. As atrizes, nas três fases da história e da vida, não são idênticas. O que as une através do tempo são os gestos, a forma de olhar, de caminhar”, explicou a diretora.


Para construir esta unidade entre as atrizes que interpretam as irmãs nas três fases da vida, Emma trabalhou exaustivamente os gestos, as expressões, os movimentos de cada uma das atrizes, das mais jovens às mais maduras. “Marcamos os pequenos gestos, os ângulos, os fragmentos do corpo sobre qual devíamos trabalhar também o tempo. Por exemplo, a forma como uma irmã passa o batom de uma forma na frente do espelho quando jovem vai ser a mesma forma como ela vai também passar este batom quando ficar mais velha, talvez por toda a vida. Me concentrei sobre os detalhes, a geografia do corpo para contar o corpo que muda, as rugas, talvez o tremor das mãos, mas partindo de um movimento, um gesto que permanece sempre o mesmo. Ou seja, as atrizes estudaram os movimentos das mais jovens e vice-versa para que as semelhanças entre elas se tornassem possíveis. Trabalhamos esses detalhes de forma quase obsessiva, compulsiva, nos concentramos muito nisso”, comentou.


Para a cineasta, As Irmãs Macaluso trata do passar do tempo, da morte, de amor, de família, mas, ainda que seja um filme pleno de poesia e melancolia, há espaço para a poesia e trata de temas que todos lidamos na vida. “Acho que os momentos solares, alegres, a vida nos dá, apesar das tragédias. Ao mesmo tempo, todos nós temos um encontro marcado com a morte. Isso faz parte da vida e tem de ser encarado. Este filme encara três encontros com a morte, mas de forma absolutamente natural”.


“Na verdade, o filme trata de algo banal. Conta uma história comum. Nas famílias, ocorrem tragédias, mas as famílias seguem suas vidas. Eu acredito que as irmãs Macaluso também tiveram uma vida feliz. Quando as vemos nos momentos-chave do filme são momentos em que alguma delas se desprende deste grande organismo que é a irmandade entre elas”, conclui a diretora.


Foco em Alice Rohrwacher


Nesta quinta-feira (17), às 9h, começa o Foco Alice Rohrwacher, com a exibição de quatro obras essenciais para conhecer o trabalho da diretora. Na seleção, há desde o primeiro filme realizado por ela em 2011, Corpo Celeste, que aborda o contato de uma menina de 13 anos com os dogmas da Igreja Católica Romana, até o premiado As Maravilhas, protagonizado pela sua irmã Alba Rohrwacher e com Monica Bellucci no elenco. A lista ainda inclui dois curtas: Una Canzone, produzido com imagens do acervo do Instituto Luce, e Omelia Contadina, realizado em parceria com o artista francês JR e exibido no Festival de Veneza 2020.


Além de atualmente rodar um novo longa-metragem, teve seu mais recente projeto selecionado para a Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes 2021, que ocorre em julho. Dirigido em parceria com Pietro Marcello e Francesco Munzi, Futura viaja pela Itália ouvindo os jovens do país sobre suas esperanças, sonhos e expectativas para o futuro.


Alice Rohrwacher é uma das realizadoras italianas mais prestigiadas da atualidade. Formada em Literatura e Filosofia pela Universidade de Turim, ela é diretora de obras como Lazzaro Felice, vencedor do Melhor Roteiro do Festival de Cannes 2018, e tem uma obra que retrata a alma humana em histórias nada convencionais. Seu longa de estreia, Corpo Celeste (2011), marcou também sua estreia nos sets, pois ela e a irmã, a atriz Alba Rohrwacher, cresceram no campo e sem acesso ao mundo do cinema. A produção estreou na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes e recebeu o conceituado prêmio Nastro D’Argento.


Em 2014, voltou a Cannes com As Maravilhas, dessa vez na competição oficial. O longa conta a história de Gelsomina (a atriz Maria Alexandra Lungu que, na trama, tem o mesmo nome da heroína de A Estrada, de Federico Fellini), uma jovem que também vive no campo, mas sonha em ser famosa. A produção conta com Monica Bellucci e Alba Rohrwacher no elenco e levou o Grande Prêmio do Júri em Cannes, o que garantiu o passaporte de Alice para o hall dos diretores mais respeitados do circuito internacional.


Em 2020 levou à Mostra di Cinema de Venezia (o Festival de Veneza) o curta Omelia Contadina, realizado em parceria com o artista francês JR. Uma proposta experimental de protesto visual ao realizar o velório simbólico da agricultura camponesa.


Nesta retrospectiva, o público poderá conferir a maioria da produção de Alice Rohrwacher, entre filmes inéditos, curtas e documentários. Para todos os espectadores do evento, será disponibilizada nos nossos canais uma masterclass com Alice Rohrwacher organizada pela Festa do Cinema Italiano onde a cineasta irá falar do seu trabalho com críticos e jornalistas. O Foco Alice Rohrwacher fica online durante todo o festival até o dia 27 de junho.


Programação


Este ano, o festival apresenta uma programação composta praticamente por estreias, com grandes produções inéditas nos cinemas brasileiros. Entre os destaques, A Vida Solitária de Antonio Ligabue, de Giorgio Diritti, que deu ao ator Elio Germano o Urso de Ouro de Melhor Ator no Festival de Berlim 2020; e Fábulas Sombrias, dos irmãos Damiano D'Innocenzo e Fabio D'Innocenzo, que também foi premiado em Berlim com o Urso de Prata de Melhor Roteiro, além de Rômulo & Remo: O Primeiro Rei, uma ousada produção totalmente falada em proto-latim que reconta o mito dos fundadores de Roma em um filme repleto de ação e aventura.


Este ano, as sessões dos filmes do Festival serão realizadas em dias específicos e ficarão disponíveis por 24h, sempre a partir das 18h. Os filmes que integram o Foco Alice Rohrwacher estarão disponíveis durante todo o festival, a partir das 9h do dia 17 até as 9h do dia 28 de junho. Para acessar a programação é preciso se cadastrar na plataforma Looke (www.looke.com.br).


Confira a programação completa.


Quinta-feira (17)
- As irmãs Macaluso (de Emma Dante)
- 5 é o Número Perfeito (de Igor "Igort" Tuveri)
Sexta-feira (18)
- Fábulas Sombrias (de Damiano D'Innocenzo, Fabio D'Innocenzo)
- Bangla (de Phaim Bhuiyan)
Sábado (19)
- Volare (de Gabriele Salvatores)
- Troca Tudo! (de Guido Chiesa)
Domingo (20)
- Rômulo & Remo: O Primeiro Rei (de Matteo Rovere)
- Irmãos à Italiana (de Claudio Noce)
Segunda-feira (21)
- Era uma vez a Máfia (de Franco Maresco)
- As irmãs Macaluso (de Emma Dante)
Terça-feira (22)
- A Vida Solitária de Antonio Ligabue (de Giorgio Diritti)
- 5 é o Número Perfeito (de Igor "Igort" Tuveri)
Quarta-feira (23)
- Rômulo & Remo: O Primeiro Rei (de Matteo Rovere)
- Troca Tudo! (de Guido Chiesa)
Quinta-feira (24)
- Os predadores (de Pietro Castellitto)
- Era uma vez a Máfia (de Franco Maresco)
Sexta-feira (25)
- A Vida Solitária de Antonio Ligabue (de Giorgio Diritti)
- Volare (de Gabriele Salvatores)
Sábado (26)
- Bangla (de Phaim Bhuiyan)
- Irmãos à Italiana (de Claudio Noce)
Domingo (27)
- Os predadores (de Pietro Castellitto)
- Fábulas Sombrias (de Damiano D'Innocenzo, Fabio D'Innocenzo)
Foco Alice Rohrwacher
9h de quinta-feira (17) até 9h de segunda-feira (28)

- As Maravilhas
- Corpo Celeste
- Omelia Contadina
- Una Canzone (9x10 Novanta)


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