Sem teatros, companhias investem em lives

Grupos da região têm apostado em vídeos no Youtube, Facebook e Instagram

Por: Egle Cisterna  -  19/04/20  -  22:35

A falta da plateia devido à restrição de aglomeração pela covid-19 deixou um vazio para as companhias teatrais da região, que pararam as apresentações de espetáculos. Sem público presente, alguns tentam não ficar distantes da atividade artística e reinventam formas de oferecer conteúdos culturais para quem está em casa.


É o caso da Trupe Olho da Rua, que depois de ter a agenda de apresentações canceladas começou a produzir uma série de vídeos para internet, a "Quarentena no Olho da Rua", que está disponível do Facebook e no canal do YouTube da companhia, com nove episódios prontos. 


“Estamos produzindo cada um de sua casa, uma tentativa de transpor nossa linguagem de humor crítico para essa plataforma virtual”, explica o integrante da Trupe, Caio Pacheco. 


Em Cubatão, o Coletivo 302 aproveitou a época de isolamento para fazer a 3ª edição de seu projeto de ciclo de estudos, com o objetivo de apresentar ao público conteúdo histórico, levantar discussões sobre Cubatão e dar continuidade às pesquisas do grupo. 


O projeto, que estreou no dia do aniversário da cidade, na semana passada, acontece em formato de lives e podcast. O primeiro episódio, "De Cuipataã a Chernobyl do 4º Mundo", o grupo falou da história de Cubatão, desde os Sambaquis, passando pela formação da cidade, industrialização, até chegar na Vila Parisi, bairro que é o tema do último espetáculo do coletivo. Eles fizeram ainda, no último domingo, uma "live" sobre o processo criativo desta peça.


Neste domingo (19), o grupo tem mais uma live no Instagram (@coletivo302), a partir das 18 horas, com o tema "Zanzalá, a cidade do futuro?", onde convidam o público a pensar o que querem para Cubatão nos próximos anos.


O Teatro Experimental de Pesquisas (TEP) estava nos preparativos finais para montar a peça "Que Mistérios tem Clarice", em homenagem ao centenário do nascimento da escritora Clarice Lispector.


“Havia acabado de realizar audição para montagem quando veio este distanciamento todo. Não deu nem tempo para conhecer um pouco mais os novos integrantes, criar laços e atalhos. Férias coletivas. Planos adiados”, conta o diretor Gilson de Melo Barros.


Barros também integra a Cia Aplauso Contemporâneo, que teve caminho diferente para a quarentena. “Ainda cheguei a ter um último encontro presencial com a trupe e depois disto, partimos para a resistência, aulas em zoom (aplicativo de videoconferência), atividades criativas realizadas de forma alternativa”, conta ele que estou abordando exercícios de interpretação a partir da observação de textos da literatura lírica brasileira.


Ele avalia que o resultado tem sido produtivo. “Demos a está iniciativa o nome de "Vau da Flor de Palha - Viral de Poesias", sociabilizando na internet o produto. Não está fácil, mas é o que podemos fazer”, diz. O projeto pode ser visto no canal do YouTube da companhia.


Sem recursos


A preocupação dos artistas com esse período sem atividade também passa pela questão financeira. Pacheco, da Trupe Olho da Rua, que realiza o trabalho de forma não remunerada, é um dos que temem os impactos econômicos para o setor cultural.


“Essa situação é arrasadora, em diferentes aspectos. No curto prazo, está jogando todos em situação de miserabilidade; ao longo prazo, a instabilidade de não saber como serão as atividades culturais presenciais”.


Ele diz que os artistas estão “se virando” como podem. “Alguns contando com a ajuda da família, outros se endividando com os bancos. O contexto já era complicado antes da pandemia, agora, não sabemos como vai ser”. 


Apoio público
Uma possibilidade que ele aventa é poder contar com uma ação da Prefeitura de Santos. “Pelo Conselho (Municipal) de Cultura estamos dialogando com a Secult (Secretaria Municipal de Cultura) uma ação para área cultural. Ribeirão Preto, Sorocaba e Presidente Prudente já soltaram ações para resguardar o setor”. 


Pacheco lembra ainda que o Governo do Estado abriu uma linha de crédito para empresas do setor cultural. “Mas tal medida não atinge quem está na ponta”, lamenta. 


A Prefeitura de Santos vem focando esforços no combate ao coronavírus, inclusive utilizando equipes e espaços da Secult, mas avalia ações que possam ajudar o setor cultural. 


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