Sérgio Rezende relembra períodos difíceis sem incentivos públicos

Cineasta é um dos homenageados da 5ª edição do Santos Film Fest

Por: Egle Cisterna  -  05/10/20  -  00:11
Premiado cineasta, Sérgio Rezende é um dos homenageados do Santos Film Fest
Premiado cineasta, Sérgio Rezende é um dos homenageados do Santos Film Fest   Foto: Divulgação

O cineasta Sérgio Rezende é um dos homenageados desta edição do Santos Film Fest pela sua obra. Mas além de um currículo invejável com premiações, ele tem a experiência de já ter passado por um momento muito semelhante ao atual, quando a produção do audiovisual perdeu os incentivos públicos. Mesmo sem apoio financeiro, ele acredita que esse é só mais um desafio do cinema nacional, que tem que se reinventar e resistir.


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“Eu vivi isso lá atrás e sabendo como isso acontece. No Governo Collor tivemos o fim da Embrafilme ( Empresa Brasileira de Filmes Sociedade Anônima) e a paralisação do cinema brasileiro. Quando fiz Lamarca, em 1993, foi o único filme daquele ano e tínhamos a certeza de que o cinema não iria acabar, como também não vai acabar agora", explica o cineasta. 


Ele lembra que depois de Lamarca, a atriz e diretora Carla Camurati (que também atuou no filme de Rezende) começou a fazer Carlota Joaquina, Princesa do Brasil, que foi um marco na retomada do cinema nacional na segunda metade dos anos 1990.


Trajetória


Quando lançou seu primeiro longa-metragem, Até a Última Gota, em 1980, na fase final do período dos governos militares no País - que foi premiado nos festivais de Gramado, no de Manhein, na Alemanha, e no de Havana -, o cineasta conta que a Embrafilme já existia e ele conseguiu rodar ainda O Sonho Não Acabou, O Homem da Capa Preta e Doida Demais.


Em 1990, com a extinção da Embrafilme, o diretor partiu para o exterior. "Eu tive que me virar. Fui trabalhar fora do Brasil e fiz um filme inglês rodado na África”, diz ele, referindo-se ao filme A Child from the South, uma trama que envolve um jornalista sul-africano exilado após o assassinato do pai e que 20 anos depois regressa à pátria para cobrir uma conferência da ONU.


Depois desse período, com a criação da Lei do Audiovisual, em 1993, e da Agência Nacional do Cinema (Ancine) ele retornou ao Brasil e retomou sua produção, lançando filmes como Lamarca, Guerra de Canudos, Mauá - O Imperador e o Rei, Zuzu Angel e Salve Geral. Este último que conta a história sobre a rebelião em diversos presídios de São Paulo, em 2005, organizada pelo Primeiro Comando da Capital, traz no elenco Andrea Beltrão, recebeu vários prêmios e foi escolhido para ser o representante brasileiro ao Oscar de melhor filme estrangeiro, em 2010.


Retomada


Mas o diretor vê agora neste momento, um retrocesso à uma fase que ele já viveu na produção cinematográfica. “As portas se fecharam novamente. O movimento do Governo de fechar os financiamentos está nos sufocando, mas não tenho uma impressão desesperada, agora, pois sei que vamos sobrevivendo", afirma.


Ele aponta que o caminho para a retomada do audiovisual é único: não deixar de fazer cinema. “Antes, quando comecei a fazer filmes, uma lata de negativo custava uma fortuna. Se não tivesse financiamento, não tinha como fazer. Hoje, com a tecnologia, nada nos impede de pegar um celular e realizar. A dramaturgia ainda é cara, mas a poesia é de graça. A gente não pode se calar. Temos que nos expressar.”


Ele compara a vontade de fazer cinema com um vício. “E isso o Governo não entende. Eles podem cortar a oferta que a gente vai até o fim do mundo atrás dessa ‘droga’. E como aconteceu antes, esse processo vai trazer uma nova geração para fazer o cinema”, avalia.


Para continuar se expressando e contando histórias, ele já está com o filme <CF71>O Jardim Secreto de Mariana, com a atriz Andrea Horta em fase de finalização. “Tivemos que parar por conta do isolamento. Falta cerca de uma semana de trabalho para concluirmos. Mas estou aproveitando esse período para também desenvolver uma série”, adianta o diretor.


O filme Lamarca faz parte do Santos Film Fest e pode ser assistido gratuitamente até o final do evento, na terça-feira, pelo site www.videocamp.com.br. Na plataforma também é possível assistir aos 67 filmes que participam das mostras competitivas e retrospectivas. A programação completa do festival está em www.santosfilmfest.com.br.


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