Roberta Estrela D´Alva: “Não é só você! É o que você pode fazer”

O poder do slam segundo a responsável por propagar a prática no Brasil

Por: Isabela dos Santos & Colaboradora &  -  09/06/19  -  09:01
Roberta trouxe a competição de slam para o Brasil e completa três anos de programa na Cultura
Roberta trouxe a competição de slam para o Brasil e completa três anos de programa na Cultura   Foto: Facebook/Divulgação

O título desta matéria, que exprime o significado de ocupar espaços, é de autoria de Roberta Estrela D’Alva, responsável por trazer a competição de poesia falada (slam) ao Brasil e apresentadora do Manos e Minas. Este mês, ela completa três anos à frente do programa da TV Cultura, dedicado às vertentes do Hip Hop.


Ao lado do repórter Rodney Suguita, da banda Projetonave, e do DJ Erick Jay, o programa apresenta poetas de slam, matérias ligadas a questões sociais e rappers convidados para cantar e bater um papo. A transmissão é ao vivo, com a presença da plateia, toda sexta-feira, às 23h.


O início da temporada 2019 ocorreu em 16 de março, com a presença do rapper Marcelo D2 e do poeta 4ó para abrir o programa. Roberta, que foi uma das responsáveis por idealizar o ZAP! Zona Autônoma da palavra no ano de 2008, primeiro slam do País, fala sobre a importância de ter espaços como esses para se expressar.


“Não é só a voz que é ouvida, mas o que vem com ela, como o seu discurso, sua história. É o depoimento de um povo todo que fala por aquela voz. E a gente evita usar o termo “Dar Voz”, que você já deve ter ouvido por aí. Buscamos alcançar pessoas que já tenham voz, mas ainda não foram ouvidas”, explica Roberta. “Tem muita gente sufocada, engasgada e esses espaços são feitos para soltar sua voz, o que é muito importante, porque geralmente quando ouvimos, há uma fala muito hegemônica e é necessário ter vozes diferentes, porque o Brasil é um país diversificado”.


Por ter sua voz ouvida, o slam ajudou Roberta a ver outras formas de enxergar o mundo e o território nacional. “Tive a oportunidade de visitar lugares e acho que pude conhecer um pouco mais das pessoas e também pude me encontrar. O slam me abriu muitas portas e, com essas portas abertas, pude abrir para outras pessoas.”


Essa abertura proporcionada pela poesia foi o que propiciou o convite da TV Cultura para a apresentação do programa.


Vale destacar que a arte do slam está ganhando cada vez mais visibilidade nas ruas, como também na mídia. Tanto assim que a aclamada série norte-americana The Handmaid’s Tale – O Conto de Aia foi disponibilizada pela plataforma Globo Play em fevereiro deste ano. E como abertura da trama, foi lançado um vídeo com imagens da série acompanhada da poesia falada da slammer Kimani, intitulado Mostra Pra Eles, Mulher.


Representatividade


Sobre a questão da representatividade como uma das poucas apresentadoras de televisão negra, Roberta ressalta: “Para além do fenótipo, da aparência como representatividade, tenho papel de pautar, fazer roteiro e sugerir matérias. Quando me chamaram para compor o elenco, eu falei: ‘minha pauta vai ser mulher e mulher negra’. Então tem toda uma voz além do microfone. Sou uma presença que solicita pautas identitárias também”.


Ao trazer assuntos e pessoas pouco notadas pela grande mídia, a apresentadora explica que essa é uma das formas de exercitar o termo “ocupar espaços”, não só na TV, como também em outros ambientes.


“Nós devemos ocupar espaços. Durante meu doutorado, pensei em desistir várias vezes, mas minha orientadora sempre dizia que confiava em mim e na minha pesquisa. Ela me incentivava ao lembrar que se eu me formar, posso ser banca avaliadora de outras teses, assim como orientadora de outras mulheres negras. Isso me dá forças, porque não é só você, é o que você pode fazer com aquilo”, enfatiza.


Um de seus feitos que uniu o slam com poder falar sobre sua identidade como negra aconteceu em 2014, em uma conferência de combate ao racismo realizada na África do Sul. Na época, Roberta teve a oportunidade de representar o Brasil ao homenagear a professora e ativista norte-americana do movimento negro, Angela Davis. Roberta recitou, em português, seu poema chamado Diáspora que fala da importância de conhecer a própria história.


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