Produtor de 'Pulp Fiction' é acusado de estupro no início de seu julgamento

Harvey Weinstein, de 67 anos, teria abusado sexualmente de duas mulheres não identificadas em 2013

Por: Da AFP  -  07/01/20  -  10:57
Atualizado em 07/01/20 - 11:06
Harvey Weinstein era considerado um produtor
Harvey Weinstein era considerado um produtor "todo poderoso" em Hollywood   Foto: KENA BETANCUR/GETTY IMAGES NORTH AMERICA/AFP

O outrora todo-poderoso produtor de Hollywood HarveyWeinsteinfoi acusado nesta segunda-feira (6) de novos crimes sexuais em Los Angeles, no mesmo dia do início de seu julgamento penal em Nova York, em um dia histórico para o movimento #MeToo.


Weinstein, de 67 anos, foi acusado em Los Angeles de abusar sexualmente de duas mulheres não identificadas em 2013.


O primeiro abuso teria ocorrido em 18 de fevereiro de 2013, quando, segundo o Ministério Público,Weinsteinentrou sem permissão no qual de hotel de uma mulher e a estuprou. No dia seguinte, supostamente abusou sexualmente de outra mulher em seu quarto de um hotel em Beverly Hills.


"As provas demonstrarão que o acusado utilizou seu poder e influência para ter acesso a suas vítimas e em seguida cometer crimes violentos contra elas", disse a promotora Jackie Lacey em nota. "Quero elogiar as vítimas que se apresentaram e contaram corajosamente o que aconteceu com elas".


Weinsteinafirma ser inocente.


"Suficientemente degradadas"


Mais cedo, em Nova York,Weinsteinfoi a tribunal vestindo um terno escuro e usando um andador depois de passar por uma recente cirurgia nas costas devido a um acidente de carro que sofreu em agosto. Ele parecia pálido e fraco.


Nos arredores da corte, umas 15 mulheres protestavam, inclusive as atrizes Rosanna Arquette e Rose McGowan.


"O tempo acabou, 'Time's Up'. O tempo do assédio sexual no trabalho acabou, o tempo de culpar os sobreviventes acabou, o tempo de desculpas vazias sem consequências e da ampla cultura do silêncio que permitiu que agressores comoWeinsteinagissem", disse Arquette.


Desde que o movimento surgiu após o tsunami de acusações contraWeinstein, quase todos os homens que foram acusados e perderam seus postos de trabalho evitaram processos penais.


O produtor de "Pulp Fiction - Tempo de violência" pode ser condenado à prisão perpétua se for considerado culpado neste julgamento sobre agressões contra duas mulheres, que deve durar de seis a oito semanas.


A audiência desta segunda, em Nova York, presidida pelo juiz James Burke durou uma hora e 15 minutos e definiu aspectos logísticos do julgamento.


A primeira batalha será a seleção do júri, que começa amanhã e pode durar até duas semanas.


Durante a audiência, a Promotoria pediu que o juiz ordene a defesa a manter silêncio sobre o processo fora do tribunal.


"As mulheres já foram suficientemente degradadas", disse a promotora Joan Illuzi-Orbon, acusando a advogada de defesa, Donna Rotunno de sugerir que, como muitas acusadoras são atrizes, elas estão atuando quando denunciam os abusos.


Rotunno garantiu que não fez nada errado, e criticou a promotora por classificar seu cliente como "predador" na corte.


"Não foram em vão"


Quase 90 mulheres, incluindo atrizes famosas como Angelina Jolie e Gwyneth Paltrow, denunciaram o ex-produtor por assédio, agressão sexual, ou estupro, desde que o jornal "The New York Times" revelou várias acusações contra ele em 5 de outubro de 2017.


Weinsteinestá sendo julgado em Nova York apenas por agressões contra duas mulheres, já que os demais crimes prescreveram.


O mesmo aconteceu em Los Angeles, onde o Ministério Público reportou casos de estupro que datam dos anos 1970 e não podem mais ser julgados.


Além das acusações apresentadas nesta segunda-feira, a promotora Lacey disse que analisa outras três denúncias.


Em um comunicado, 25 mulheres que romperam o silêncio contraWeinstein, entre as quais estão Arquette e McGowan, além de Mira Sorvino, comemoraram a acusação na Califórnia.


O início do julgamento em Nova York mais o anúncio de novas acusações "são um claro indício de que os riscos que assumimos [ao contar suas histórias] e as consequências que enfrentamos posteriormente não foram em vão".


No entanto, para Bennett Gershman, ex-promotor e professor de direito em Nova York, o anúncio de Lacey pode dificultar o julgamento e dar argumentos aos advogados deWeinsteinpara pedir um adiamento até que a situação se acalme, explicou à AFP.


A defesa já tinha pedido para "sequestrar" o júri para evitar que outros processos judiciais - como o de Los Angeles - influa em sua imparcialidade. O juiz recusou o pedido.


Testemunho de Sciorra


Uma das acusadoras é a ex-assistente de produção Mimi Haleyi, segundo a qual o produtor de "Pulp Fiction - tempo de violência" praticou sexo oral nela contra sua vontade no apartamento do réu, em Nova York, em julho de 2006.


A segunda acusadora permanece no anonimato. Ela afirma queWeinstein, cofundador da produtora Miramax Films, violentou-a em um quarto de hotel de Nova York em março de 2013.


A acusação foi modificada em agosto para incluir o depoimento da atriz da série "Família Soprano" Annabella Sciorra, que relata ter sido violentada porWeinsteinno inverno de 1993-94.


SeWeinsteinfor considerado culpado pelo júri e receber a pena de prisão, será um marco para o movimento #MeToo, que luta contra o abuso sexual e de poder em Hollywood e outras indústrias, como o jornalismo, a gastronomia e a música.


Logo A Tribuna
Newsletter