Próxima Parada: Álbum da banda Joy Division completa 40 anos

Álbum de estreia da banda inglesa, Unknown Pleasures, joga luz sobre o mito Ian Curtis

Por:  -  12/05/19  -  13:37
  Foto: Divulgação

Na galeria de mortos precoces do rock, um espaço de honra é ocupado por Ian Curtis, a figura de frente do Joy Division. A banda inglesa é uma das mais influentes e cultuadas da história, apesar de ter lançado apenas dois álbuns – e só um deles enquanto seu vocalista estava vivo.


O álbum em questão, Unknown Pleasures, está completando 40 anos, e é o melhor documento para se entender o culto a Ian Curtis e a reverência ao Joy Division. Lançado em junho de 1979, logo após a implosão do punk, ele apresenta o som da banda de Manchester já inteiramente desenvolvido. É como se, até alguns meses antes, ela não fosse só mais uma, entre dezenas de outras que buscavam o estrelato no firmamento do rock britânico.


Claro que falar em estrelato, no caso, é uma hipérbole. A ideia de sucesso na cena original do punk era aprender três acordes (ou menos), gravar um punhado de singles, fazer shows com algum efeito de choque, e ser polêmico o bastante para chegar à capa de um dos semanários musicais ingleses.


Unknown Pleasures foi o anúncio de que o punk havia mesmo acabado. Não havia raiva, revolta ou sarcasmo na música do Joy Division. Seus integrantes não queriam ser os Sex Pistols ou o Clash. A inspiração vinha, basicamente, dos clássicos eletro-eletrônicos The Idiot, de Iggy Pop, e Low, de David Bowie, então recém-lançados.


Esse era o som que daria forma ao futuro do rock na primeira metade dos anos 80 - uma música sombria, intensa, cheia de preocupações existenciais e temáticas impensáveis para os padrões atuais. Ian Curtis falava da própria experiência nas letras, o que significava tratar de assuntos com o menor teor de atratividade pop imaginável.


Músicas sobre depressão, frustração e medo não eram exatamente estranhas ao rock. Nick Drake era um cantor-compositor inglês cultuado, nos anos 70, por tematizar a melancolia. Mas onde Drake era sensível, Curtis não hesitava em ser visceral – e,no limite, perturbador. She’s Lost Control, a canção mais popular de Unknown Pleasures, fala de epilepsia, nada menos, assim como Disorder, a faixa de abertura. O vocalista era epiléptico, condição que, junto com a depressão, contribuiu para que acabasse tirando a própria vida menos de um ano depois do lançamento do álbum. Ele iria completar 24 anos, e estava prestes a embarcar naquela que seria a primeira turnê pelos Estados Unidos.


O mito de Ian Curtis começou aí, mas em termos musicais, o Joy Division definiu o espírito do estilo que viria a ser conhecido como pós-punk. A percussão eletrônica nervosa, derivada do krautrock (o art-rock alemão da década de 70), e as texturas glaciais de sintetizadores de Unknown Pleasures estariam a seguir em toda parte, mas é difícil imaginar algum outro lugar onde elas sejam tão expressivas quanto aqui, no álbum seguinte, Closer (1980), e no single da célebre e definitiva balada Love Will Tear Us Apart.


Parte dessas inovações se devem ao produtor Martin Hannett, que foi, na prática, um quinto integrante da banda. Ele usou um arsenal de efeitos de eco, e deu ao som uma profundidade, até então, raras vezes ouvida no rock. A faixa final, I Remember Nothing, é pontuada pelo barulho de vidro estilhaçado, e se tivesse sido gravada dentro de uma caverna,não soaria muito diferente.


Com a morte de Curtis, os demais integrantes – o guitarrista Bernard Sumner, o baixista Peter Hook e o baterista Stephen Morris – formaram o igualmente inovador e influente New Order,que transformou Manchester na meca do rock britânico durante a maior parte da década de 80. Mas,por mais bem-sucedida que seja, inclusive comercialmente, falta à banda que surgiu das cinzas do Joy Divisio na mesma aura de mistério sobre-humano que a tragédia consegue conferir às estrelas atingidas por ela.


Unknown Pleasures é um dos momentos que mais merecem ser celebrados no pop. Não só pela música brilhante que contém, mas também pelas trilhas que abriu e pelo que revelou da genialidade torturada, e ainda incomparável,de Ian Curtis.


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