Política X Ciência: 'Sob Total Controle' detalha falhas na crise de covid-19 nos EUA

Documentário reflete falhas do governo norte-americano na resposta à covid-19

Por: Bia Viana  -  12/04/21  -  12:11
Documentário revela falhas do governo americano em tratar o início da pandemia de covid-19
Documentário revela falhas do governo americano em tratar o início da pandemia de covid-19   Foto: Divulgação

Em 7 de fevereiro de 2020, Donald Trump foi questionado pelo jornalista Bob Woodward (aquele mesmo, responsável junto a Carl Bernstein pelo desdobramento do escândalo Watergate) se ele sabia da gravidade do tal "vírus chinês". Naquela época, antes de todo o caos que levaria milhares de vítimas da covid-19 somente nos Estados Unidos, Trump respondeu que aquela era uma doença muito mais letal do que qualquer vírus de gripe. Pouco depois, em coletivas, dizia que não era motivo de preocupação.


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Juntamente com sua administração, Trump falhou em responder rapidamente à maior crise de saúde pública global do milênio, que se propagou pela desinformação e motivações políticas. Isso é o que mostra o documentário Sob Total Controle (2020), exibido no Festival É Tudo Verdade neste fim de semana.


O filme questiona o papel dos líderes na atual situação da pandemia, comparando a reação e desdobramentos da pandemia na Coréia do Sul e nos EUA. Com isso, desvela conexões políticas, silenciamento de cientistas e profissionais da saúde, negligenciamento de testes durante a fase inicial de transmissão móvel do vírus, desvio de recursos essenciais aos hospitais e vários outros pontos-chave que poderiam ter evitado a situação caótica em que vivemos atualmente.


Extremamente necessário para entender os impactos de uma administração falha em gerenciamento de crises sanitárias, muito similar à realidade que vivemos no Brasil, a obra reflete sobre como as decisões politizadas e a falta de transparência com o público levaram o governo Trump ao total fracasso em sua tentativa de conter o vírus, servindo como uma vitrine do que "não fazer" ao resto do mundo.


Em um dos arcos do filme, é feita uma pesquisa sobre a falta de máscaras N95 nos hospitais, posicionando o espectador sobre o peso da economia capitalista incendiária na fabricação de recursos essenciais. O argumento principal é de que a economia tem as mãos sujas por todas as vítimas de covid-19 mortas pela falta de insumos. Ainda sobre máscaras, o longa também explora a "politização" conservadora do recurso de proteção, que se tornou um símbolo de lealdade partidária entre os republicanos, levando as pessoas a tirarem suas proteções faciais como prova de lealdade ao governo Trump.


"Está tudo sob total controle", proferiu o ex-presidente dos EUA em várias de suas entrevistas coletivas enquanto o vírus se espalhava a vontade, sem medidas de restrição adequadas ou normas sanitárias devidamente aplicadas. Em todos os pontos de virada, o governo tomou decisões falhas enquanto a ciência aconselhava cautela.


Até a hidroxocloroquina e todo seu "kit covid" são destacados, mostrando como esse suposto "milagre" fármaco no combate ao vírus produziu um verdadeiro culto à soluções infundadas e completamente cegas às verdadeiras terapias de combate à doença, dificultando diagnósticos e até provocando mortes.


Definitivamente, é estranho assistir a uma investigação tão complexa sobre um momento histórico que ainda vivemos na mesma intensidade de quando foi gravado, em 2020. Porém, o filme constitui um instrumento essencial para o momento, sendo inquietante e revelador.


Ele traz um recorte importante sobre o comportamento nocivo da desinformação (em especial, de todos nós, americanos), seu "efeito manada" e o culto ao discurso político como se viesse de um messias da salvação. Claramente traz um sentimento de impotência saber que ainda há muito desinteresse em tratar a situação com seriedade, como vemos no quintal de casa. Por isso, ao fim do longa, reacendemos a mesma pergunta feita desde o ano passado: será que vamos aprender alguma coisa com essa pandemia?


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