Um percussionista nascido na Baixada Santista e formado em Cubatão é destaque na música da Europa. Nesta semana, Sergio Coutinho, de 33 anos, venceu a Swiss Percussion Competition, concurso que incentiva o desenvolvimento nas diversas áreas da percussão na Suíça.
“Ela (a competição) representou uma oportunidade de tocar um repertório difícil para um instrumento que não é tão explorado como solista quanto, por exemplo, um violino ou piano, para dois grandes solistas e professores, e receber um feedback sobre o que apresentei”, conta Coutinho sobre a sua primeira conquista em solo internacional, em entrevista a A Tribuna, via WhatsApp.
Coutinho está morando em Zurique, na Suíça, desde 2019, para fazer mestrado em tímpanos e percussão de orquestra.
Na apresentação de 20 minutos que lhe rendeu o primeiro lugar na competição, o músico tocou peças de dois compositores americanos: Saëtta e Improvisation, de Elliott Carter, e Angels of the wind e Homage (to Gustav Mahler), de William Kraft.
Influência regional
Santista de nascimento, o músico viveu até os 19 anos em Cubatão, onde começou a tomar gosto pelos instrumentos. “A minha família sempre teve um pé na música. Minha mãe toca piano, dá aulas e foi professora no Conservatório de Cubatão durante um período”, conta ele, que também foi influenciado por tias que tocavam em bandas, frequentando ensaios e shows desde pequeno. “Minha mãe sempre incentivava o estudo e eu era bem curioso, gostava de ler as capas dos CDs de música clássica e ouvir as músicas. Ficava batendo em panelas”.
Coutinho sonhava aprender a tocar um instrumento e se encontrou quando foi assistir a um ensaio da Banda Sinfônica de Cubatão. A professora que tocava na banda dava aulas no Projeto Guri, que foi sua porta de entrada para a percussão. Enquanto se formava na Escola Municipal de Música de São Paulo e no Bacharelado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), ele fez parte da Banda Sinfônica de Cubatão e do Grupo Rinascita.
“Cubatão sempre teve uma tradição de bandas muito grande. Quando estava na faculdade, sempre tinha alguém que me perguntava se conhecia os grandes músicos da cidade, como o Ivanildo Rebouças e seu irmão Vagner e a família Farias, com o maestro Roberto e seus irmãos, Renato e Reginaldo”.
Durante oito anos, Coutinho integrou a Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo como percussionista e assistente de tímpanos, e foi convidado como percussionista da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), Orquestra Sinfônica Brasileira, Orquestra Sinfônica da USP.
Com o objetivo de ampliar os estudos, o músico começou a fazer aulas na Filarmônica da Alemanha, ficando entre Berlim e São Paulo durante quatro anos. No ano passado, de olho em uma atuação na Europa, veio a oportunidade de mestrado.
Sem se apresentar desde fevereiro, Coutinho aproveitou o período para dar aulas on-line e se dedicar aos estudos. Mas, de longe, lamenta a atual situação dos grupos culturais de Cubatão, que estão sem receber repasse da Prefeitura desde o começo do ano. “Cubatão sempre teve esse problema dos grupos e dos artistas não serem valorizados. Arte é vista como um artigo de luxo, quando, na verdade, é um artigo básico na vida das pessoas”, critica.
Sobre voltar a trabalhar no Brasil, Coutinho ainda é reticente. “Essa é uma questão que só o tempo pode responder. É uma questão de oportunidade de existir uma prova para uma vaga de timpanista em uma boa orquestra, com boa estrutura para desenvolver um trabalho e, ao mesmo tempo, continuar crescendo”.