Museu da Língua Portuguesa reserva novas experiências focadas na diversidade e celebração da língua

Totalmente reconstruído após o incêndio de 2015, Museu fará reabertura adaptada ao público neste domingo (1º)

Por: Bia Viana  -  30/07/21  -  10:10
 Museu da Língua Portuguesa reabre com renovação de exposições e propostas diversas
Museu da Língua Portuguesa reabre com renovação de exposições e propostas diversas   Foto: Ciete Silvério

A tão esperada reabertura do Museu da Língua Portuguesa ao público acontece nesse domingo (1º) sob altas expectativas, seguindo os protocolos contra a covid-19. Totalmente reconstruído após o incêndio de dezembro de 2015, o museu é um dos primeiros inteiramente dedicados a um idioma e volta a celebrar a importância da língua como patrimônio cultural brasileiro com novas atrações. No sábado (31), ocorre a cerimônia oficial de abertura, que terá a presença de autoridades. O evento fechado será transmitido ao vivo pelas redes sociais do Museu.


Clique e Assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe acesso completo ao Portal e dezenas de descontos em lojas, restaurantes e serviços!


Além do aumento na segurança e mudanças arquitetônicas, a principal mudança está na adaptação de suas exposições. Segundo Marília Bonas, diretora técnica do Museu, o contexto da pandemia trouxe novos desdobramentos nessa reconstrução. “O momento trouxe ao museu um desdobramento de uma vida virtual. Em breve, abriremos uma exposição virtual sobre a Estação da Luz e teremos muitos conteúdos que serão disponibilizados na internet. Já era um Museu bastante interativo e imersivo, mas houve uma adaptação para esse contexto da pandemia”.


Para garantir as medidas de prevenção ao coronavírus, cada um dos visitantes receberá uma caneta touch para poder tocar e interagir com as atividades na exposição. As visitas serão agendadas a partir da compra on-line pela plataforma Sympla, com público limitado a grupos de 40 pessoas para cada sessão de visitas, que deve durar 45 minutos.


Exposições no Museu da Língua Portuguesa


O conteúdo original do Museu foi repaginado nessa fase, contando com novas camadas, vídeos, informações e diversas ações que inspiram interatividade e acessibilidade ao público. Algumas já conhecidas, como a linha do tempo de história da língua, o Beco das Palavras e a sessão de Palavras Cruzadas se mantém, mas com novidades.


“Tivemos muitos especialistas na reconstrução, sob a coordenação de Isa Grinspum Ferraz e Hugo Barreto. A exposição principal se mantém, mas a gente tem novas atrações, como a Nós da Língua, uma área dedicada aos países de língua portuguesa por todo o globo. Também temos o Falares, uma área que reúne diversos grupos, idades e vozes celebrando a diversidade da língua portuguesa falada no Brasil, com seus sotaques e expressões. O Museu mantém uma frente colaborativa da riqueza da língua portuguesa”, ressalta.


A grande novidade é a exposição temporária Língua Solta, que traz os diversos desdobramentos da língua portuguesa na arte e no cotidiano. Ao todo, são 180 peças, que vão desde mantos bordados por Bispo do Rosário até uma projeção de memes do coletivo Saquinho de Lixo, com curadoria de Fabiana Moraes e Moacir dos Anjos.


“É uma exposição muito especial pra gente nesse momento. Ela celebra essa questão da língua viva nos diferentes pontos de vista traduzidos na arte, e na arte rompendo qualquer hierarquia. Temos grandes artistas renomados junto aos menos conhecidos, artistas de rua que não estão em galerias, e um jogo do que é arte, de como a língua é representada como signo, como objeto, como meio de comunicação e ferramenta”.


“É uma exposição extremamente barroca nesse sentido, pois rompe hierarquias” destaca Marília, que afirma o potencial da exposição em democratizar a arte e a língua. “É muito bonita, muito bem humorada, traz memes e uma leveza para essa discussão, rompendo a ideia de que só existe a norma culta ou popular na língua portuguesa. A exposição brinca e rompe com as expectativas gerais que se tem sobre a arte e a língua. As pessoas vão se identificar com ela em diversos níveis”, completa, inspirando a reflexão sobre a riqueza da fala e do patrimônio linguístico de nosso idioma.


 A exposição temporária 'Língua Solta' é uma das novidades no Museu da Língua Portuguesa
A exposição temporária 'Língua Solta' é uma das novidades no Museu da Língua Portuguesa   Foto: Ciete Silvério

Celebração da diversidade


Após fazer uso de pronomes neutros para anunciar a reabertura do Museu para “todos e todes”, a administração sofreu críticas sobre uma suposta implementação “ideológica” na língua portuguesa. Na verdade, como explica Marília, a publicação do Museu celebra a riqueza da língua e as mudanças que a perpassam ao longo do tempo, contemplando todos os grupos e comunidades lusófonas e as questões sociais presentes no Brasil e no mundo.


“Todos os temas contemporâneos estão aqui para discussão, e temos uma questão muito forte em relação à educação, de como propor e trazer para diversos públicos as questões que perpassam a discussão da língua — que é viva, uma mudança constante. Não é uma questão de afirmar [posicionamentos], é questão de celebrar a língua viva, dinâmica, de todas as camadas de possiblidades e transformações que ela teve desde sua origem”.


Um exemplo da flexibilidade e constante transformação da língua é a mudança do pronome de tratamento “vossa mercê”, que virou “vosmicê” até se tornar o “você” que conhecemos hoje. “São debates importantes, e é no ponto de vista da riqueza da língua portuguesa que a gente trabalha”.


O dinamismo da língua portuguesa também propõe reflexões sobre a própria origem do idioma, que conflita com o histórico turbulento de dominação portuguesa no período colonial. “Na Linha do Tempo, trazemos a questão da colonização; logo depois a gente traz o Ailton Krenak falando 'não foi colonização, foi invasão'. Então existem maneiras diferentes de abordar [o mesmo assunto], e o museu traz diferentes pontos de vista para que as pessoas possam pensar a respeito. Buscamos nunca fechar o debate, mas sempre estimular a reflexão sobre esse patrimônio vivo”, conclui.


Mudanças estruturais


Para a reconstrução após o incêndio, foram tomadas medidas extras de segurança nos restauros do Museu da Língua Portuguesa. Áreas externas e maior conexão com a Estação da Luz são algumas das alternativas para tornar a visita do público mais ativa no espaço repaginado. “O terraço tem uma vista muito privilegiada do Parque da Luz, da Estação Júlio Prestes, Pinacoteca, que dá uma visão histórica do desenvolvimento urbano da ferrovia. Do ponto de vista da segurança, que foi o grande protagonista e destaque desse restauro, o Museu reabre num nível de segurança de última geração, com todo um sistema de alarme, aviso, e sistema de emergências de ponta”.


Atualmente, a diretora técnica afirma que o Museu possui “o sistema de segurança mais moderno de todas as instituições museológicas do Brasil”, e que, portanto, estaria mais seguro contra acidentes como o ocorrido em 2015. Na reabertura, o Museu da Língua Portuguesa tem a expectativa de receber uma média de 500 pessoas por dia.


Logo A Tribuna
Newsletter