Mauricio de Sousa comenta sobre seu legado e futuro da Turma da Mônica: 'Ideias novas a cada dia'
Em entrevista exclusiva à A Tribuna, ele fala sobre o lançamento de 'Viagem aos países de Língua Portuguesa' e projetos
Desde criança, Mauricio de Sousa sempre foi apaixonado por histórias em quadrinhos. Aos 86 anos, o cartunista mais conhecido do país fez de seu sonho de infância um patrimônio da literatura. Focado em lançamentos internacionais, ele divulga o livro Turma da Mônica: Viagem aos países de Língua Portuguesa, escrito junto ao escritor José Santos.
O autor percebe o impacto da Turminha na globalização da literatura brasileira, que graças ao meio virtual, alcança cada vez mais público no exterior. "É gostoso saber que a Turma da Mônica está falando o português com alguns sotaques diferenciados. Quando cheguei em Portugal pela primeira vez e comecei a conversar sobre os personagens, na conversa vinham 'nós estamos a ler a Mónica', ou 'o Cebulinha'. É muito gostoso ver que os personagens vivem a língua".
"A língua portuguesa é muito rica, tão rica que às vezes fica difícil falar dela em sua totalidade. Acho que está na hora de usarmos nossa força de comunicação para lembrar que a língua portuguesa varre o mundo".
Embaixadores do idioma, os personagens vivem a quarta aventura co-escrita com José Santos. Juntos, já publicaramTurma da Mônica: Uma viagem a Portugal,Turma da Mônica: Uma viagem à América Latinae Turma da Mônica: Uma Viagem do Brasil ao Japão.
Acompanhando as mudanças
Muitos leitores que cresceram com suas histórias seguem acompanhando a Turminha, mas com expectativas diferentes. "Há muitos anos, vendíamos milhões de revistas. De repente percebemos que as vendas estavam decaindo aos pouquinhos. Fomos pesquisar e descobrimos que o leitor estava querendo uma coisa mais madurinha, uma linguagem dos jovens, estavam começando a achar [a Turma da Mônica] uma coisa de criança - e era, e é! Fizemos os personagens crescerem, ficarem jovens. A turminha vai acompanhando o tempo". A Turma da Mônica Jovem surgiu desse "amadurecimento" junto ao público. Hoje, o segmento se prepara para uma modernização visual.
"O desenho ficou ainda mais fantástico. Estamos fazendo mudanças gráficas, mas também temos alguns cuidados para atualizar ao máximo os textos, temas e chegar mais perto dos jovens-adultos". Novos formatos, como os livros e graphic novels, também estão sendo projetados para encorajar o público de várias idades.
Para Mauricio, é importante que a Turminha passe mensagens positivas e esteja sempre alinhada com sua geração. Em tempos de pandemia, fez um movimento histórico ao mostrar o Cascão lavando as mãos para incentivar as medidas de prevenção contra a covid-19. "Se as personagens são simpáticas ao público, porquê não usá-las como porta-vozes de mensagens positivas, mensagens necessárias, mensagens que precisam ser divulgadas?".
O autor, que já tomou as duas doses da vacina, revela que os projetos continuam a todo vapor, acompanhando as tendências. "A pandemia atrasou um pouco algumas coisas, mas não brecou, de jeito nenhum".
“A minha sensação é de objetivo quase cumprido, porque a cada dia surgem ideias novas, uma oportunidade diferente". Manter o ritmo da Turminha é um desafio, afinal, são centenas de personagens a serem incluídos na equação. “Quem mandou eu criar 200 personagens?", brinca Mauricio, aos risos. “Agora tenho que dar atenção para cada personagem ou núcleo de personagens e criar comissões para que eles não falem abobrinha, digam coisas interessantes, para que atendam à expectativa do leitor. Eles estão na ativa, e eu tento estar na ativa com eles, e principalmente do leitor que nos acompanha. Temos que ter novidades sempre”, reflete.
Tudo em família
O trabalho em equipe foi essencial para expandir esse universo ao longo dos anos. "Eu nunca tive receio, medo, ciúme de repassar trabalho para o pessoal, ou não teria conseguido tudo que eu consegui. Só trabalhando em equipe é que a gente pode fazer revistas, criar desenhos animados. Eu criei o mundo, eduquei as personagens, e tá dando certo", afirma. Atualmente, Mauricio conta com um grande time de artistas - "alguns até melhores do que eu", ressaltou - que o acompanham no desenvolvimento artístico da Turma da Mônica.
Seus "filhos reais e filhos no papel" caminham junto com ele, mantendo o legado das histórias em família. "Eu peguei uns desenhos da minha filha Marina, que é diretora de conteúdo. Ela desenhou um personagem com as características do Martin, o filho dela! Falei 'a mãe tá desenhando, olha que bonitinho' (risos). A Marina desenha como eu, nasceu com esse dom, com essa mania de ficar brincando de desenhar. Ela é uma jovem que tem tudo pela frente, me dá a sensação de realização, tranquilidade e de uma continuação”.
O autor se orgulha do talento de todos os dez filhos, que em sua maioria, trabalham com o pai. “Mauro escreve maravilhosamente, Mauricio Takeda é muito inteligente... A garotada que aprendeu a ler nos gibis está escrevendo bem, então é um bom sinal! (risos)", se alegra Mauricio.
O amor pelos quadrinhos segue inspirando novos personagens e histórias. O neto Martin tem seus primeiros passos e descobertas documentados por Mauricio pelo Instagram, mas por enquanto, ainda não se tornou um personagem, como os filhos. "Vai depender dele, do que ele vai achar do mundo. Eu vou esperar ele crescer um pouco mais, ver como é a personalidade dele”. Destaca, porém, algumas observações que saltaram os olhos. “Já vi que ele é muito alegre, muito feliz. Ele não chora! É a primeira criança na minha família que não chora. É uma delícia de ver. E para os pais uma maravilha (risos). Estou estudando o Martin para ver quando ele desabrocha, ele está começando a se comunicar com a sociedade".
