Livros de Thais Matarazzo dão voz às mulheres negras

Romances da escritora paulistana misturam ficção e pesquisa histórica

Por: Egle Cisterna & Da Redação &  -  31/03/20  -  11:18
Reportagens e documentários inspiraram a escritora paulistana, que tem forte ligação com Santos
Reportagens e documentários inspiraram a escritora paulistana, que tem forte ligação com Santos   Foto: Divulgação

Misturar ficção com uma extensa pesquisa histórica e dar voz e protagonismo às mulheres negras. Este é o objetivo da jornalista e escritora paulistana Thais Matarazzo, que lança dois livros digitais na próxima semana seguindo essa linha: A Mulher do Alcácer e Memórias Reveladas: Territórios – SP (Sé e Liberdade).


“Em 2017, fazendo pesquisas sobre o antigo cemitério dos Pretos Novos, no Rio de Janeiro, para um outro projeto, descobri um mundo de coisas e resolvi recolher esse material para um trabalho de ficção e pesquisa”, conta a autora.


Em A Mulher do Alcácer, ela narra a saga de quatro gerações de mulheres negras, entre Moçambique, Portugal e Brasil. A história épica trata de personagens escravas, forras e livres e é baseada numa genealogia imaginária, com personagens que vivem entre 1800 e 1962. 


Thais se inspirou em reportagens e documentários sobre mulheres da etnia Macua, de Moçambique, trazendo suas influências e contribuições afros para a cultura lusitana e a herança genética africana presente no DNA de parte da população portuguesa, especialmente em aldeias ao longo do curso do Rio Sado e na cidade de Alcácer do Sal; entre outras curiosidades. 


A saga tem início com Ermelinda (1800-1898), africana da etnia Macua, de Moçambique. Escravizada e abusada sexualmente por Afonso e Adriano, filhos de seu proprietário português, ela é obrigada a servir Adriano Alves de Mello como mulher. 


Ao dar à luz uma menina, Constança, Ermelinda não sabe se a criança é filha de Afonso ou Adriano. Registrada no nome de Afonso, por este ser solteiro e sem herdeiros, Constança herda toda a fortuna do seu tutor, compra a liberdade da mãe, vive maritalmente com o primo Jacinto (filho de Adriano Alves de Mello com outra mulher), com quem tem duas filhas, Ada e Laurinda, e se muda com a família para Portugal, onde dirige com maestria os negócios e a quinta da Vila Morena, em Alcácer do Sal, na região de Setúbal. 


A narrativa se desenvolve em diferentes tempos históricos: neste século 21, quando duas amigas universitárias se dedicam a descobrir a árvore genealógica da família de uma delas, de ascendência moçambicana, e entre os séculos 19 e 20. 


Outro livro


Memórias Reveladas será uma trilogia. O primeiro livro trata da região da Liberdade, em São Paulo. O enredo do primeiro livro gira em torno de diversos personagens, sendo a principal Elisa, uma afrodescendente que trabalha em um museu paulistano, sempre escuta seus colegas falarem de suas famílias e suas origens. Intrigada, ela resolve procurar um velho tio que lhe fará revelações surpreendentes sobre os seus ancestrais, a ligação familiar com festas religiosas e profanas, carnavalescas de São Paulo.


Trata-se de um encontro com o passado, a memória e a cultura, desvendando sentimentos e tradições. O próximo livro deve tratar do bairro Barra Funda e a história se encerra com a Bela Vista. Os três livros terão ilustrações da artista plástica Camila Giudice.


Ligação com Santos


A autora já publicou autores santistas, ligados ao Clube do Choro de Santos, na editora que lançou em 2015. A ideia de Thais era fazer o lançamento dos livros aqui, em abril, mas por conta da pandemia o evento foi adiado para junho, quando ela terá os livros impressos.


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