Jazz band só de mulheres lança seu primeiro disco

"Quando te Vejo" sai em setembro. "Jazzmin’s" é o primeiro grupo do gênero no País

Por: Egle Cisterna  -  22/07/20  -  15:13
Jazzmin’s traz o som característico das madeiras, como flauta, clarinete e clarone
Jazzmin’s traz o som característico das madeiras, como flauta, clarinete e clarone   Foto: Divulgação

Empoderar mulheres e dar espaço para que elas se desenvolvam dentro de uma das áreas da música que eram ocupadas apenas por homens. Foi com esse objetivo que nasceu a primeira banda de jazz brasileira feminina, a Jazzmin’s, que se prepara para lançar seu primeiro disco, Quando te Vejo


A ideia veio da pianista Lis de Carvalho e da saxofonista Paula Valente. As duas são professoras da Escola de Música do Estado de São Paulo (Emesp) e sentiam falta de um espaço voltado para as mulheres nas jazz bands que já existiam. 


“São Paulo tem grandes jazz bands, mas quando vamos ver a participação feminina, é zero por cento. Até nossos colegas músicos, quando tratavam de substituições em suas bandas, nunca cogitavam uma mulher”, afirma Lis, que coordena a banda. 
A iniciativa ganhou apoio do diretor artístico da Emesp, Paulo Zuben, que em 2016 participou de um congresso de regentes mulheres e ficou espantado com os números. “Ele voltou de lá com a ideia de transformar o ano seguinte no ano das mulheres na escola e foi neste momento também que nós começamos a pensar no formato da banda”, lembra a coordenadora do grupo musical. 


Ela e Paulo definiram que grupo teria características próprias, bem diferentes das tradicionais bandas de jazz, que iriam além da formação exclusiva por mulheres. Em vez do foco nos metais, a banda traz o som característico das madeiras, como flauta, clarinete e clarone. O vibrafone também é outro diferencial sonoro. 


O estilo musical também foi pensado para abrir mais espaço onde as mulheres têm bem menos acesso: a música popular. “No erudito, ainda é comum encontrar mais mulheres. Há instrumentos, como a harpa, por exemplo, que são vistos como femininos”, diz Lis. 


Além de Lis e Paula Valente, o grupo é formado pelas instrumentistas Marta Ozzetti (flautas), Lais Francischinelli, (clarinete), Fabrícia Medeiros (clarinete, clarone), Bia Pacheco, Mayara Almeida e Tais Cavalcanti (saxofones), Isabelle Menegasse (trompa), Grazi Pizani e Estefane Santos (trompetes), Cindy Borgani e Sheila Batista (trombones), Carol Oliveira (vibrafone/percussão), Re Montanari (guitarra), Gê Cortes (baixo) e Priscila Brigante (bateria). 


Álbum


Os três anos de carreira já contam com apresentações marcantes, como a que ocorreu na Sala São Paulo, no ano passado, com a clarinetista Anat Cohen. Os trabalhos tiveram que ser interrompidos por conta da pandemia, inclusive a finalização do primeiro álbum da banda, Quando te Vejo, que deve ser lançado em setembro. O nome é o título da primeira música composta pelo maestro Rodrigo Morte, que também é diretor artístico do disco. 


O projeto, realizado com recursos do Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo (ProAc-SP), traz um repertório voltado à música popular sem fronteiras, porém, com um olhar predominante para a brasileira, com arranjos feitos especialmente para o grupo. Ao todo, são nove músicas no disco, algumas compostas por integrantes da Jazzmin’s.
O álbum traz ainda duas canções bônus: Radamés y Pelé, de Tom Jobim, com arranjos de Morte, e Doralice, de Dorival Caymmi, com arranjos de Tiago Costa. 


Lis, que compôs uma das músicas – Esperança – afirma que apesar da abertura que conseguiram para as mulheres, o espaço ainda segue restrito. “Não dá para dizer que muita coisa mudou desde que começamos. Mas já sentimos as meninas da Jazzmin’s mais empoderadas. Claro que o sonho é termos arranjadoras, mas isso ainda está difícil. Mas vamos mudar também essa realidade”, aposta a pianista.


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