Isolado desde março, Ney Latorraca lamenta a privação: 'Quem vive do teatro vive de público'

Ator santista comenta o momento de pandemia para os atores, apoia as vacinas e torce pela volta à rotina

Por: Beatriz Viana  -  20/02/21  -  16:00
Aos 76 anos, o ator santista tenta manter a rotina saudável
Aos 76 anos, o ator santista tenta manter a rotina saudável   Foto: Juliana Coutinho/Globo

Em um mundo distorcido diante de uma pandemia que parece infinita, é difícil conviver com certas angústias. Entretanto, para Ney Latorraca, “é preciso ter mais tranquilidade” para conseguir colocar a vida nos trilhos nesse momento.


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Aos 76 anos, o ator santista tenta manter a rotina saudável, mesmo com as dificuldades da quarentena. Isolado desde 14 de março de 2020, Ney não sai de casa há quase um ano e adaptou sua rotina ao lar. “Eu moro na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, e adquiri o hábito de andar pela lagoa desde que parei de fumar. São oito quilômetros, e me fazia muito bem ir até a praia, tomar água de coco, já fazia parte do meu cotidiano. Eu consegui substituir a lagoa pela minha casa. Tenho uma varanda muito grande, então ando seis quilômetros todos os dias em casa e dou um mergulho na piscina. Depois disso, eu tomo um banho e estou pronto”.


O distanciamento social também tornou as relações cada vez mais frias, impessoais. “Costumo ligar para os amigos, para os aniversariantes... Adoro telefone. As pessoas ficam só no WhatsApp e fica tudo muito frio”. Além de ansiar por novos projetos, o ator espera encontrar seus amigos em breve.


Para quem vive de arte, o distanciamento também significou, além de várias outras perdas, a privação do próprio ofício. Para tentar reduzir essas dificuldades, Ney apoia os colegas nesse momento das formas possíveis. “Tenho feito muitos contatos, muitas lives para tentar ajudar as pessoas. São quase 5 mil atores desempregados. Quem vive do teatro vive de público. É muito difícil, mesmo com as lives. Você cobra R$ 10 só para mostrar que está vivo (na live)”, desabafa.


Público ativo


O formato digital pode manter o público ativo, mas nada substitui o calor dos palcos. “É sempre assim. Já disseram que não existiria mais rádio, cinema, mas as coisas vão se mantendo. O público pode diminuir, mas o leque aumenta. É o futuro, mas se você quiser sair de casa e ver um ator no palco, ao vivo, ainda vai conseguir".


Dentro dessa dinâmica, Ney inclui os prazeres pessoais, como a leitura. "Eu gosto de livros. Gosto de sentir o cheiro do livro, porque cada livro tem um cheiro de história. Eu preciso desse contato. Não vai acabar nunca. Pode diminuir, mas não acaba".


Na expectativa para a vacina, o ator revela que está empolgado com a imunização. “Fico igual criança na fila para ganhar uma bala. Estava planejado, coloquei na minha agenda, mas mudou. Vamos em frente. Acho que na próxima semana deve sair mais um pouco”.


Ansioso pelo fim de toda essa estranheza, Ney renova as esperanças ao assistir vídeos de vacinados. “Eu gosto de ver a reação das pessoas que tomam a vacina e dos acompanhantes. É lindo. Temos que ir contra o negacionismo”, afirma. Mesmo diante de tantas incertezas, o otimismo do povo brasileiro combate todas as intempéries. Para o ator, é essa personalidade alegre que ajuda o País a resistir diante de tanta dor.


“O brasileiro tem um temperamento muito doce. Não somos cruéis, a índole brasileira é boa. A tendência é ir para a solução, para o sorriso. Acho isso saudável. É um país ensolarado, por mais que seja massacrado por coisas ruins".


'Amo a minha terra'


Ney tem muito orgulho de suas origens. “Eu nasci na Rua Paissandú, na mesma casa em que nasceu o Mário Covas. Coincidência, né? Bem em frente à Vila Belmiro. A casa está lá até hoje”. O ator disse que voltaria a morar na cidade sem pestanejar. “Pensei em comprar um apartamento aí, na praia, claro. Vou até a praia, mergulho, volto... Por que não, né?”


Para o ator, a cidade sempre foi um berço de grandes artistas. “Tem alguma coisa na água em Santos que dá bons atores. Nuno Leal Maia, Plínio Marcos, são vários. Acho que eles jogam algum produto na caixa d'água”, brinca.


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