Como foi o seu processo de se tornar em Mank?
David Fincher me apresentou bem o universo em que toda a história se passaria, como Mank existiria dentro dela, e então eu comecei a conectar todas as partes e colocá-las em seu devido lugar. Existe uma grande frase de Orson Welles em que ele diz que Mank era um monumento à auto-destruição. E você podia perceber isso apenas com a quantidade de álcool que ele ingeria, do desprezo e da amargura que ele sentia pela indústria de entretenimento, pelas pessoas com quem trabalhava, por escrever roteiros e pelos filmes. Ele sentia uma aversão muito grande a si próprio, acho que ele se afogou no alcoolismo por isso.
E que tipo de desafio o personagem lhe trouxe?
O desafio foi fazer alguém como Mank se tornar charmoso na tela, porque seria muito amargo assistir duas horas inteiras de mordacidade. E nas conversas que tive com David Fincher e lendo o material sobre a vida de Mank, eu tentei achar uma maneira de adicionar uma colherada de açúcar no lado amargo dele.
Como foi trabalhar com David Fincher?
David foi muito preciso e meticuloso a respeito do filme que ele estava fazendo e o que ele queria da gente como retorno. Ele via o filme todo em sua mente. Eu tive que refrescar minha memória, assistindo filmes da época, pois existe uma cadência toda própria de como os diálogos eram falados naquela época, e David queria capturar exatamente aquilo. Eu queria um timbre particular para Mank, e não existem muitas imagens de arquivos ou entrevistas gravadas com ele. Não é que tive acesso a um vasto material. Por outro lado, existem muitos filmes de arquivo que mostram o irmão dele, Joseph Mankiewicz, então eu usei Joseph como referência.
Alguns de seus personagens recentes no cinema exigiram um trabalho minucioso de cabelo e maquiagem. Foi mais fácil para você dessa vez não precisar de ter um aparato carregado para criar Mank?
Fisicamente eu não pareço com o verdadeiro Herman Mankiewicz, mas David foi bastante claro comigo. Ele me disse: ‘eu quero você o mais ‘despido’ possível que já tenha sido, não quero nenhum véu ou nada entre você e o público. Não para os narizes falsos ou perucas’.
Então perguntei a ele se podia criar uma barriga de pessoa que bebe muito. Eu queria esse barrigão inchado de quem bebe muito uísque. Ele disse OK e eu engordei alguns quilos – e agora está sendo difícil perdê-los (risos). Mas, claro, eu resisti um pouco pois meu método é tentar ser o mais parecido fisicamente com o Mank verdadeiro. Mas depois eu pensei no que David tinha dito, achei que ele estava certo e decidi confiar plenamente nele. E acabei achando uma experiência libertadora.