Duo paulista Atalhos promove viagem musical com disco indie: 'Ligação latina'
Gabriel Soares e Conrado Passarelli reúnem Brasil, Argentina e Paraguai no single 'Te Encontrei em SP'
Inspirado na multiculturalidade latina, o duo paulista Atalhos, formado por Gabriel Soares e Conrado Passarelli, estreita as fronteiras entre Brasil, Argentina e Paraguai no single Te Encontrei em SP. A canção, que fará parte do disco A Tentação do Fracasso, já estava pronta, mas foi redesenhada ao incluir a participação especial da cantora Delfina Campos, de Buenos Aires.
Eles se conheceram na capital argentina quando a dupla foi assinar um contrato com o selo argentino Scatter Records. “A gente já teria lançado o disco, mas com a pandemia tivemos mais tempo para organizar. Essa música já estava pronta, mas durante a pandemia, conheci o trabalho da Delfina e resolvemos voltar pra mixagem, em castelhano”. A faixa é a única com participação especial, mas o álbum conta com produção de outros músicos internacionais.
“A gente já tá trabalhando nesse disco há muito tempo; começou a ser gravado em São Paulo, foi pra Santiago no Chile e depois a gente mixou em Buenos Aires, no Estúdio Panda. O Ives Sepúlveda, vocalista da banda chilena The Holydrug Couple, saiu de Santiago pra me encontrar e a gente mixou o disco lá. Vários artistas que gostamos trabalharam lá, Charly García, Fito Páez... Então o disco já estava nascendo com essa cara mais multicultural, com vários países no meio, e a gente sempre gostou dessa ligação latina”, explica Gabriel. Outra contribuição é de Gordon Raphael, produtor americano que trabalhou com The Strokes, que será lançada nas plataformas digitais.
A mudança em Te Encontrei em SP também contribui com a transição do duo, que migra do estilo folk para o indie latino, pouco explorado pelas bandas brasileiras. “Apesar da gente ter esse limite territorial com países que falam espanhol, somos o único país que fala português. Por incrível que pareça existe uma barreira. Existem várias bandas indies no Brasil, lançando coisas todos os dias, mas poucas tem tentado esse mercado, porque é difícil. É uma coisa muito natural nossa, então estamos criando essa ‘cara’ de banda não só brasileira, mas latina”. A sonoridade tem inspiração em artistas argentinos, como Gustavo Cerati.
O clipe acompanha com ar bucólico a história de um ex-casal se reencontrando na terra da garoa. Curiosamente, o vídeo não foi gravado na cidade título, mas sim em Assunção, capital do Paraguai. “A ideia era fazer essa coisa mais simples, vintage; sempre gostamos muito de cinema e tínhamos algumas referências, então era hora de experimentarmos mais. A gente já tinha a ideia de fazer uma textura de vídeos antigos, nas ruas de Assunção, mas queríamos fazer uma cidade utópica".
Relação com São Paulo
Gabriel e Conrado vivem uma história de amor antiga com a capital paulista. Da amizade que nasceu em Birigui, no interior, os dois moraram juntos em São Paulo durante a faculdade. Ambos cursaram jornalismo, em instituições diferentes, e na mesma época começaram a gravação do primeiro disco, Em Busca do Tempo Perdido.
“Nosso começo profissional foi em São Paulo, onde gravamos focando em música autoral. A gente tem quase 10 anos de banda antes do primeiro disco, só entramos profissionalmente em 2012”, revela Gabriel. Conrado explica como se deu o processo lírico do projeto: “Esse disco retrata um pouco da vida nas grandes cidades, as viagens diárias de metrô. Eu escutava todo dia ‘ao desembarcar, cuidado com o espaço entre o trem e a plataforma’, e usei isso na letra”. As estações Liberdade, Paraíso, Consolação, viram metáfora para os sentimentos conflitantes na vida urbana, gerando identificação com os ouvintes.
Em tempos de pandemia, essa identidade é ainda mais importante para lembrarmos a vida na capital. “São quase dois anos de isolamento. A gente vê a cidade de São Paulo, que é tão efervescente culturalmente, de repente não ter mais show, não ter mais nada, é muito estranho. Dez dias depois do nosso show no Cine Joia tudo começou a fechar. Aproveitamos essa pausa geral pra reorganizar, pensar na parte estratégica da banda, e não só a artística”, complementa.
Adaptação na pandemia
Apaixonado por literatura e música, Gabriel, que é jornalista de formação, músico e escritor, descobriu na pandemia a oportunidade de aprender sobre outro universo: o marketing musical. “É tipo um jogo de xadrez”, diz o músico. “Toda banda independente tem que estudar o mercado pra saber como vai lançar as coisas. Tem a estimativa de serem lançadas umas 30 mil faixas diariamente no Spotify pelo mundo, e não tem como as pessoas ouvirem todas essas músicas. Acaba sendo um mar de lançamentos, e a gente tem que entender como se posicionar no meio disso. Tem muitas variantes para lançar e conseguimos nos aprofundar nesse sentido”.
O tempo passou tão rápido que até o aniversário de 10 anos do primeiro disco foi despercebido. “Lançar o quarto disco já é especial por si só, mas é até uma boa ideia! Quem sabe na hora desse show de lançamento já fazer alguma coisa pensando em comemorar os dez anos do Em Busca do Tempo Perdido, ou uma regravação”.
Agora, a banda se reencontra e conta com uma equipe mais estruturada, o que possibilita novidades. Com título inspirado no livro do escritor peruano Julio Ramón Ribeyro, A Tentação do Fracasso será lançado em janeiro de 2022, mas outras produções serão divulgadas nas plataformas digitais. “Estamos fechando uma parceria com uma banda mexicana, Películas Geniales, e tem tudo para dar certo. O lançamento pode acontecer em agosto, só nas plataformas. Teremos versões alternativas e uma faixa nova no fim do ano, e nos próximos trabalhos, buscamos parcerias com mais artistas latinos”, conclui.
