Depois de sete anos longe dos estúdios, Pearl Jam retorna com Gigaton

álbum renova neoclassicismo pós-grunge da banda de Seattle

Por: Eduardo Cavalcanti & Colaborador &  -  12/04/20  -  22:20
Banda é uma das principais referências do rock mundial
Banda é uma das principais referências do rock mundial   Foto: Divulgação

Há dois tipos de banda de rock. As que explodem, brilham e desaparecem. E as que seguem em frente, depois do sucesso inicial, e tentam ser relevantes para as gerações seguintes, ao mesmo tempo em que administram o próprio legado musical. Esse equilíbrio entre a incerteza do novo e a segurança do tradicional é a própria definição do Pearl Jam – não agora, mas desde que a banda surgiu como uma das pioneiras da cena grunge, há 30 anos.


Foi assim com o álbum de estreia, Ten (1991), e continua com o recém-lançado Gigaton, depois de um hiato de sete anos desde Lightning Bolt (2013). É o maior intervalo entre lançamentos, e poderia sugerir um certo desgaste criativo, mas na prática, assim como outra instituição, o U2, o Pearl Jam passou desse estágio.


Não é razoável esperar ousadia de músicos que estão há décadas na estrada, e menos ainda inovação. No caso da banda de Washington, esse último elemento nunca fez parte, de fato, da equação. Apesar de ter sido imediatamente identificado como parte de um movimento no qual assumir riscos era parte integral da experiência, o Pearl Jam se mostrou uma proposta muito mais viável a longo prazo, justamente por representar o lado mais conservador do grunge.


Quando o Nirvana transformou o riff de guitarra de More Than a Feeling, do Boston, na base de Smells Like Teen Spirit, o efeito foi de uma oposição até então inédita entre o rock de arena dos anos 70 e o indie-punk americano da década de 80. Em nenhum de seus 11 discos de estúdio, o Pearl Jam demonstrou qualquer interesse em cruzar o território seguro do classic rock de Neil Young e The Who.


Gigaton é mais uma prova de que não há mal algum em deixar a ousadia de lado, quando a música se impõe por ela mesma. Na verdade, há vários caminhos pouco ou nunca trilhados no álbum. Boa parte das faixas apresenta ritmos e teclados eletrônicos discretos. Nada que não seja o feijão com arroz de inúmeras outras bandas, mas em termos de Pearl Jam, o resultado é surpreendente, em especial em Dance of the Clairvoyants, a faixa central e primeiro single.


Sintomático que, quando a banda se mantém dentro do seu neoclassicismo, o resultado tende a ser tão ou mais interessante. O solo do guitarrista Mike McReady em Quick Escape é uma aula de economia e punch, numa faixa que remete diretamente ao Led Zeppelin de Physical Graffiti (1975), assim como a pegada folk da acústica Come Then Goes.


Mas por mais que o Pearl Jam tenha poucos concorrentes em termos de competência técnica, são os vocais de Eddie Vedder que ainda definem o som. Qualquer um que já tenha visto a banda ao vivo sabe que Vedder tem total domínio sobre o público. É a mesma autoridade com a qual Bono comanda as performances do U2, só que muito mais livre de pretensão. 


Ocasionalmente, o vocalista tem seus momentos de Roger Waters, pelo teor político de várias letras, mas ninguém vai confundir o Pearl Jam com o Rage Against the Machine. E seja qual for a mensagem, são os vocais de Eddie Vedder que se impõem, e não menos em River Cross, a quase épica faixa final.


Seria fácil dizer que o Pearl Jam prega para os convertidos, se o sentido todo da banda não fosse, justamente, esse. Na prática, ela entrou no pacote do grunge mais por uma questão geográfica e pela afinidade de seus integrantes com muitos dos músicos que estiveram no processo de formação da cena de Seattle, no início dos anos 90, do que por qualquer razão de ordem musical.


Gigaton consegue ser muito bom, mesmo sem trazer grandes novidades, o que, na prática, é tudo que quem acompanha a carreira da banda quer. Dizer que o som do Pearl Jam nunca apresentou nenhuma mudança substancial desde ‘Ten' é menos uma crítica que um atestado de coerência que poucos podem ostentar.


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