De série em série: 'Histórias Para Vestir' ilustra como as roupas definem o que somos
Baseada no best-seller Worn Stories, de Emily Spivack, a série documental é exibida na Netflix
Sabe aquela camisa velha que nem te serve mais, mas está guardada no fundo do armário com todo o carinho por trazer a memória viva de um evento especial? Baseada no best-seller Worn Stories, de Emily Spivack, a série documental Histórias Para Vestir, original Netflix, investe nas memórias para ilustrar, de forma cativante, a forma como nossas roupas ajudam a definir quem somos – e como elas são personagens ativas em nossas histórias. Propondo uma perspectiva mais sensível sobre como nos vestimos, com a atitude e intenção investida nessa ação no dia a dia, a série propõe diversas funções das roupas além da proteção contra a temperatura ou seus méritos estéticos.
Cada um dos oito episódios reúne três ou quatro crônicas centradas em um personagem e sua peça de roupa, fazendo viagens no tempo pela memória. Enquanto algumas são extremamente cômicas – como uma jornada inusitada por toda Nova Iorque atrás de um casaco perdido –, outras trazem relatos emocionantes que nos fazem refletir sobre autoestima, identidade e liberdade, ou até como a porta de entrada em determinados grupos sociais se dá pela vestimenta. Histórias como a de ressociabilização de presos, luto familiar e experiências de quase morte são conduzidas pelas roupas.
Os episódios são divididos por temas. Em Comunidade, por exemplo, revela-se como as roupas (ou a falta delas) podem unir as pessoas e formar um senso de pertencimento. Em Achados e Perdidos, discute-se o significado da perda e as diferentes perspectivas humanas sobre luto e mudanças. A série mostra como as roupas estão atreladas às memórias afetivas, por meio de itens compartilhados ou presentes que formam laços familiares, pessoais e românticos.
Muito longe de ser uma série de moda, Histórias Para Vestir reúne narrativas interessantes e abrangentes sobre a vida, mostrando pessoas diversas e suas histórias, sem tabus ou clichês. Desconsiderando completamente a parte econômica da coisa – em nenhum momento se faz alusão ao valor material, marcas ou grifes; as roupas só são retratadas por seu valor afetivo –, a série nos tira do lugar comum e provoca os sentidos, incentivando uma busca pelas nossas próprias lembranças.
Ideal para maratonar no fim de semana, a obra é reflexiva e leve ao mesmo tempo, tratando todos os temas a que se propõe com muito respeito e dando voz à representatividade em nossa sociedade. Vale a pena conhecer essas histórias enquanto tiramos nossas próprias lembranças das gavetas para tomarem um ar fresco.
