De Série em Série: Cidade Invisível retrata folclore brasileiro com fórmula improvável

Nova série brasileira da Netflix relaciona a cultura nacional em uma trama mística

Por: Beatriz Viana  -  20/02/21  -  15:20
Com estreia marcada para 5 de fevereiro, a trama, que explora diversas lendas brasileiras
Com estreia marcada para 5 de fevereiro, a trama, que explora diversas lendas brasileiras   Foto: Reprodução/Divulgação

Diante de uma premissa tão fértil quanto o folclore brasileiro, não surpreende o sucesso global que Cidade Invisível tem feito. A nova série brasileira da Netflix relaciona a cultura nacional em uma trama mística que cativa a atenção e aguça os sentidos.


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A trama acompanha uma investigação policial com desfecho mágico, focando em um investigador (interpretado por Marco Pigossi), obstinado a desvendar a morte de sua esposa e que acaba descobrindo um vínculo pessoal com sua investigação. Pode lembrar uma história parecida na própria Netflix, envolvendo uma criança misteriosa, seu pai policial e uma briga sobrenatural contra uma entidade maligna, porém, as similaridades não atrapalham a aventura ou impedem o telespectador de se conectar com a história.


Acompanhar as figuras conhecidas de nossa infância tomando vida é algo deslumbrante. Os principais destaques vão para Alessandra Negrini como a Cuca, que entrega uma interpretação sedutora da bruxa do sono; Fábio Lago como Iberê ou Curupira, um herói que se recusa a sucumbir ao próprio destino; e Wesley Guimarães, o jovem Isac (anagrama para Saci), um menino malandro, mas de grande coração.


Enquanto nas adaptações dos Contos de Fadas feitas pela Disney ao longo dos anos as histórias macabras tornaram-se doces, aqui vemos o caminho reverso. A trama faz questão de resgatar os traços sombrios das lendas folclóricas, remetendo à cantiga Nana, neném, (que a Cuca vem pegar...) um tom alarmante e fantasmagórico.
Claro que em sete episódios seria impossível aprofundar as origens de cada criatura, mas a falta de contexto acaba sendo frustrante aos que torciam por mais minutos de tela ao Saci Pererê e o Curupira, que mesmo tendo papéis cruciais para o desfecho da trama, aparecem pouco. Ainda há a questão de Cidade Invisível centralizar as principais figuras do folclore brasileiro no Rio de Janeiro, desencadeando situações bizarras como um boto cor-de-rosa, natural das bacias dos rios Amazonas e Solimões, vivendo em águas salgadas.


Ainda assim, a parte fantasiosa funciona melhor que o suspense policial. A investigação perpetua clichês do gênero e adota os mesmos gatilhos de roteiros policiais norte-americanos, como o embate entre órgãos policiais pela investigação de um caso. Em alguns momentos, essa parte da história fica completamente apagada diante das relações nebulosas entre o mundo real e o universo fantástico oculto pelas ruas da cidade.
Há de se ressaltar uma metáfora importante no retrato de figuras lendárias, como indivíduos à margem da sociedade. O Curupira é morador de rua, enquanto o Saci vive em uma ocupação no bairro da Lapa. Lembrando os mutantes de X-Men, essas criaturas precisam viver escondidas para sobreviver.


Outro diálogo proposto pela série é sobre meio ambiente. Entretanto, apenas no último episódio descobrimos a relação entre a reserva da Vila Toré e todo o mal que assombra as entidades protetoras da floresta.
Com bons efeitos CGI e cuidados especiais na cinematografia e mixagem de som, a mística ambientada em Cidade Invisível estimula a imaginação e revive um pouco de nossa cultura ancestral, que muitas vezes é esquecida como uma lembrancinha no fundo do armário após tanto consumo de cultura internacional. Mesmo com alguns deslizes e pontos cegos no enredo, a série é um entretenimento garantido aos fãs de fantasia, mistério e até de um terror soft.


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