Conheça mais de Elza Soares, uma das maiores cantoras do Brasil em todos os tempos

Artista sempre se impôs em um mundo muitas vezes hostil com mulheres e, sobretudo, com as negras

Por: Ronaldo Abreu Vaio  -  21/01/22  -  06:50
Elza Soares morreu aos 91 anos, no Rio de Janeiro
Elza Soares morreu aos 91 anos, no Rio de Janeiro   Foto: Reprodução

Elza Soares morreu nesta quinta-feira (20), em sua casa, no Rio de Janeiro, aos 91 anos, de causas naturais. A ironia: a cantora partiu no mesmo dia do amor de sua vida, o ex-jogador Garrincha, também falecido em um 20 de janeiro, 39 anos atrás.


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Elza Gomes da Conceição, considerada uma das maiores cantoras da música brasileira, começou a carreira no samba, no final dos anos 50. O início veio como parte da cena do sambalanço com Se Acaso Você Chegasse, em 1959.


Dona de uma personalidade tão forte quanto sua voz, Elza se impôs em um mundo muitas vezes hostil com mulheres e, sobretudo, com mulheres negras.


Certa vez, em um programa de calouros ainda nos anos 50, a cantora, uma ilustre desconhecida, enfrentou o já famoso compositor Ary Barroso, que apresentava o programa . A certa altura, ele perguntou: “De que planeta você vem, menina?”. Elza respondeu: “Do mesmo planeta que você, seu Ary: do planeta fome”.


Não por acaso, Planeta Fome é o nome de seu último álbum, o 34o da carreira, lançado em 2019. Na segunda e terça-feira, ela havia gravado um DVD no Theatro Municipal de São Paulo.


Empoderamento
“É uma coisa impactante, essa história como mulher negra, do empoderamento. Não se podia empoderar (a mulher), ainda mais negra”, analisa João Maria, um dos maiores cantores da noite santista.


João enfatiza a questão da personalidade de Elza: sendo negra e na época em que começou, esperava-se que fosse uma cantora de samba. No entanto, ela misturava as cores do samba com as do bolero, do forró, do blues, do jazz e até do funk e do hip hop.


“Ela cantava o que Vicente Celestino estava cantando. Uma vez eu vi um show e ela cantou Meu Guri... era uma cantora de blues, tinha uma coisa do samba que virava o blues...”, diz João, para exemplificar o quanto Elza fugia de rótulos. E como marcou o seu próprio canto. “Impacto total em mim: sabe aquela história de que você canta para morrer? Sigo essa linhagem, como se fosse a última”.


Ultramoderna
O jornalista e crítico musical de A Tribuna Julinho Bittencourt lembra do dia em que conheceu Elza, no Sesc Bertioga. “Entreguei um disco meu para ela, que foi muito simpática. Ela estava com uns 60 e poucos anos à época, retomando a carreira. Tinha acabado de voltar, teve uma participação no disco do Caetano, em que ela cantou Língua (1984). A partir disso, ela teve um resgate”.


Julinho relembra que Elza parte um dia após os 40 anos de morte de Elis Regina. “Parece que a gente nem teve tempo de respirar”. E volta ao Sesc Bertioga, 30 anos atrás, para exemplificar a importância de Elza para a música brasileira.


“Ela fez um show de arrebentar. Estava sempre um passo à frente, tinha uma banda espetacular e uma característica parecida com a da Elis, de ter uma interação grande com os músicos. E ela estava sempre antenada. Os últimos discos dela são de música eletrônica, ultramodernos. É uma perda enorme, mas ela deixa uma obra imensa, que deve ser sempre ouvida”.


Redes sociais
A repercussão foi grande nas redes sociais. “Grande Elza Soares, sempre divertida. Uma das maiores cantoras de samba que já conheci, minha queridona, vai com Deus”, divulgou Zeca Pagodinho em vídeo.


Mano Brown também se manifestou. “Música brasileira perde uma das maiores vozes, vá em paz Elza Soares”. O Botafogo também se manifestou e divulgou uma foto de Elza com o Mané Garrincha, ídolo alvinegro. “O Botafogo lamenta a morte da cantora e compositora Elza Soares, ícone para a música popular brasileira, e ex-esposa de Mané Garrincha, ídolo alvinegro e maior jogador de todos os tempos. Por ironia do destino, ela nos deixa em um 20 de janeiro, mesmo dia que o craque se foi”.


Elza e Garrincha foram casados por 17 anos e tiveram um filho.


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