Cineasta Bárbara Paz representa o Brasil em disputa por vaga no Oscar

Bárbara é a única brasileira na competição por uma vaga este ano: 'Não esperem que o outro faça, não esperem o aval de ninguém'

Por: Beatriz Viana  -  21/01/21  -  16:01
Documentário é a primeira experiência solo na direção de Bárbara Paz, que mergulhou na obra
Documentário é a primeira experiência solo na direção de Bárbara Paz, que mergulhou na obra   Foto: Divulgação

Após nove anos de união com o diretor Héctor Babenco, Bárbara Paz entendeu como o cinema fazia parte de seu casamento. Em homenagem ao marido, que faleceu em 2016, ela dirigiu o longa Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou, onde reflete, com sensibilidade ímpar, a relação intrínseca entre vida e arte.


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Héctor Babenco ressignificou a morte, mesmo que não intencionalmente. Diagnosticado com câncer linfático aos 38 anos, o cineasta recebeu a temida notícia que costuma cravar um ponto final antecipado. Felizmente, a sentença perdurou hesitante: Babenco viveu até os 70, realizando várias obras-primas sob a espreita dos créditos finais.


O documentário se tornou o primeiro escolhido oficialmente pela Academia Brasileira de Cinema (ABC) como candidato do Brasil a uma vaga entre os indicados ao Oscar de Melhor Filme Internacional. Este é o segundo ano consecutivo que uma diretora brasileira entra na disputa pela tão estimada estatueta. Na edição anterior, o documentário Democracia em Vertigem, dirigido por Petra Costa, foi indicado na categoria Melhor Documentário.


Para Bárbara, o fomento do gênero documentário está no gosto popular. “Acho que as pessoas estão um pouco cansadas de ficção, desejando a realidade. Tiveram muitos documentários inscritos esse ano para representar seus países”, revela a diretora.


A partir da candidatura, o processo de divulgação para uma indicação oficial na cerimônia não é nada fácil. Sem distribuidores ou qualquer apoio do Governo, o filme conta com campanha de crowdfunding para sustentar sua divulgação, que será realizada por mais 10 dias.


“Eu fiquei muito emocionada e surpresa com a indicação da Academia Brasileira de Cinema. Realmente não esperava. Agora estamos focados na campanha do filme no Oscar. É praticamente uma campanha política”, conta a cineasta. O único órgão público que apoiou o filme desde seu embrião foi a Spcine.


O filme estreou no Festival Internacional de Veneza em 2019, quando foi laureado como Melhor Documentário na competição Venice Classics. “Foi a primeira vez que um filme brasileiro ganhou Veneza. Eu não esperava, fiquei muito emocionada. Estávamos competindo com documentários incríveis. Escrevi um discurso correndo, pois tinha recebido um convite para a premiação e a partir daí, imaginei que poderia ter algum prêmio”, relembra Bárbara.


Estreia


Após várias experiências em atuação, além da direção de curtas e dois programas no Canal Brasil, Bárbara teve sua primeira experiência solo na direção de um longa com Babenco. Estudiosa do cinema, ela mergulhou no projeto intimista completamente sozinha, criando uma obra que exala paixão em cada detalhe.


A inspiração de Babenco não poderia ser outra além do amor que o cineasta nutriu pela vida. “Ele sempre quis viver, era apaixonado pela vida. É o filme de um grande homem, de um leão, que lutou pela vida sempre e fez do cinema sua força para viver. Eu quis fazer um filme sobre isso”, adianta a cineasta.


Entre suas influências na direção, Bárbara Paz menciona Eduardo Coutinho, João Moreira Salles, Walter Salles e o Karim Ainouz. Além, é claro, do próprio Babenco, “nosso brasileiro-argentino”.


Refletindo sobre a presença feminina em cargos de direção no cinema atual, a diretora fala sobre o poder de criação feminino. “Eu acho que ser mulher é uma dádiva, é procriar em todos os sentidos. Mulheres: façam, produzam! Não esperem que o outro faça, não esperem o aval de ninguém”, aconselha.


As indicações do Oscar 2021 serão anunciadas em 15 de março, de acordo com o novo calendário da Academia. Até lá, a divulgação de Babenco segue a todo vapor.


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