Cineasta Adélia Sampaio fala sobre a luta pela equiparação dos direitos raciais

Adélia será a homenageada da edição especial do Santos Film Fest – Festival Internacional de Cinema de Santos, entre os dias 16 e 23 de março

Por: Júnior Batista  -  25/02/21  -  12:18
Adélia será homenageada no Santos Film Fest
Adélia será homenageada no Santos Film Fest   Foto: Divulgação

Ainda há muito o que caminhar para que os direitos raciais sejam equiparados, na opinião da cineasta negra Adélia Sampaio, de 77 anos. “Este País nos deve muito. E não é prêmio, são conquistas. Quando vejo uma Maju Coutinho narrando um telejornal, é uma preta com talento que chegou lá. O caminho é longo, mas vamos chegando”, diz.


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Adélia será a homenageada da edição especial do Santos Film Fest – Festival Internacional de Cinema de Santos, entre os dias 16 e 23 de março, de maneira virtual. “Sempre me causa surpresa e muita alegria quando recebo convite e homenagens”, afirma ela.


As mostras acontecerão on-line, respeitando o que vem acontecendo no mundo todo por conta da pandemia. Adélia é a primeira cineasta negra do País e rompeu barreiras por seu talento, caráter, perseverança e seu olhar social e transgressor.


A cineasta participará de uma live especial na abertura do evento, dia 16, às 19h30, nas redes sociais do festival e no YouTube do Sesc Santos. Na ocasião, será exibido um vídeo retrospectiva de sua carreira e ela será entrevistada pela diretora do SFF, Paula Azenha, e pela jovem diretora santista Vitória Felipe. Também será disponibilizado um e-book gratuito intitulado Adelia Sampaio: O Segredo da Rosa, no qual a diretora relembra, em primeira pessoa, sua trajetória de vida e carreira.


“Este ano teremos duas edições. Em março, pela Lei Aldir Blanc e o ProAC, esta edição totalmente on-line com mostras competitivas dedicadas a filmes dirigidos por mulheres. Um panorama do nosso cinema que precisa ser valorizado e debatido”, afirma um dos organizadores, André Azenha. Já a sexta edição do festival acontece em junho, entre os dias 22 e 29.


Produção


Nascida em 1944, Adélia Sampaio ficou conhecida após lançar Amor Maldito (1984). Rodado durante a ditadura militar, foi o primeiro longa feito por uma mulher negra. Por seu tema, a relação amorosa entre duas mulheres, foi rejeitado pela Embrafilme (estatal de cinema da época) e pelo circuito exibidor. Entrou em cartaz em oito cinemas de São Paulo apenas – e ainda assim foi preciso que a cineasta aceitasse lançá-lo como uma pornochanchada.


De lá para cá, segundo ela, pouca coisa mudou. Perguntada se o adaptaria para os dias atuais, reforçou que faria exatamente a mesma coisa da época. “E pasmo ao perceber que a violência doméstica, a homofobia e o preconceito continuam. Pouca coisa mudou, porém, fico feliz quando exibo o filme para uma plateia de jovens e percebo que eles refletem com clareza o que tento mostrar no filme”, lamenta.


A cineasta ainda elogia algumas produções que tem visto, como Bacurau, Boas Maneiras e Paraíso Perdido, dizendo que “há uma evolução e isso é muito legal”. No entanto, afirma que o espaço feminino nas direções de longas e curtas evoluiu pouco. “Tenho assistido filmes e sinto falta de uma narrativa de cinema. Há que se descobrir que o plano e o contraplano determinam, com certeza, o discurso”.


Ditadura


Como vítima da ditadura, Adélia diz que hoje vivemos um momento de interrogação. “O mar não está para peixe”, pontua. Ainda assim, sobre o uso político da ditadura nos dias atuais, afirma que viveu e sofreu o Golpe Militar de 1964, mas não se acovardou. “Tão logo que pude, me juntei ao jornalista Paulo Markun e rodamos o Doc. AI-5 O Dia Que Não Existiu, hoje na minha página do Youtube. Como jogaram fora os papéis das sessões, conseguimos reconstituir as cenas com atores. Nem o diário oficial existia”, reforça. Para os negros, seu recado é a percepção do inevitável preconceito. Ao mesmo tempo, deixa uma recado: “O caminho é longo, mas vamos chegando”.


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