Cine Roxy chega aos 85 anos sem medo do streaming

Estabelecimento santista se mantém como um dos mais antigos cinemas de rua

Por: De A Tribuna On-line, com informações de Egle Cisterna  -  17/03/19  -  23:15
  Foto: Reprodução

Há mais de oito décadas, o cenário cultural santista era muito diferente do atual. Para assistir a um espetáculo ou ir a um cinema, boa parte das opções ficava no Centro. Mas em 1934, o empresário Antônio Campos Junior decidiu apostar em uma sala de exibição perto da praia. Nascia assim o Cine Roxy, que acaba de completar 85 anos.


Nascido em Campos, no Rio de Janeiro, o empresário chegou à Baixada Santista para jogar no Santos, mas logo acabou se envolvendo com a exibição da sétima arte.


“Ele já tinha salas no Centro de Santos, com outros sócios. O Roxy foi o primeiro que era só dele, onde construiu o prédio e instalou tudo. Foi o primeiro cinema na praia. As pessoas o chamavam de louco”, conta Toninho Campos, atual diretor do Roxy e neto do fundador da empresa.


O cinema contava com 3 mil lugares e foi inaugurado, em 15 de março, com a exibição do filme O Cântico dos Cânticos, baseado no romance do escritor alemão Hermann Sudermann, e estrelado por Marlene Dietrich. A sala foi batizada com o mesmo nome do cinema nova-iorquino.


Toninho, com 66 anos, não chegou a conhecer o prédio original, que foi erguido na Avenida Ana Costa. A construção foi demolida e um novo edifício foi erguido e inaugurado em 1957, com 1.500 lugares e tratamento especial de som. Na reabertura, o filme em cartaz era Ilha dos Trópicos, dirigido por Robert Rossen e estrelado por James Mason e Joan Fontaine.


São deste prédio as recordações mais antigas de Toninho do cinema da família. “A primeira lembrança que tenho é de um evento, do início dos anos 1960, quando foi exibido o filme José vendido no Egito, quando meu avô inaugurava alguma novidade no local, talvez o cinemascope”, conta ele, que nasceu em São Paulo, mas veio morar em Santos ainda na infância, quando tinha 10 anos.


Censura


Entre os anos 60 e 70, Toninho ajudou o pai, Francisco, a cuidar da empresa.


“Eram tempos bem pesados para o cinema. Havia uma censura em Brasília, mas os filmes também eram censurados no local. Se a censora viesse aqui e não gostasse de um pedaço do filme, ela mandava cortar. E em Santos a coisa era bem pesada”, lembra.


Outras Mudanças


Nesta fase de maior cerceamento, Toninho ficou fora da região, passando uma temporada em Londres, na Inglaterra. Ele chegou a ser dono de cinemas no Rio Grande do Sul.


Foi no final dos anos 1990, que Toninho começou uma nova reformulação no Roxy. “Enquanto no Hollywoody Boulevard, em Los Angeles, os grandes cinemas estavam sendo vendidos para a Igreja Universal, em Santa Mônica, que é a praia como Santos, eu vi que todos os cinemas antigos tinham virado de 5 ou 7 salas e tinham movimento enorme. E pensei ‘é por aí que eu vou’”.


Em 2003, ele inaugurou cinco salas no tradicional endereço da Avenida Ana Costa. Hoje, além deste ponto, o Roxy possui 17 salas distribuídas em quatro complexos entre Santos, São Vicente e Cubatão.


Futuro


Toninho já começa a avaliar as mudanças para os próximos anos do Roxy.


“Fiz a digitalização do cinema há 5 anos, que estou acabando de pagar. Depois disso, vou começar a pensar em mais algum projeto”, ele adianta que o foco deve ser o conforto do público e tecnologia, como a utilização de laser ou LED.


Ele não acredita que o streaming possa acabar com as salas de cinema e afirma que isso acaba despertando a vontade das pessoas para a experiência na telona.


“O diferencial aqui é gente. As pessoas não vão só no cinema para ver filmes. Vão para encontrar pessoas, para o social. Ninguém aguenta ficar a semana inteira trancado vendo Netflix em casa sem ver ninguém”, conclui.


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