'Chorão: Marginal Alado' esclarece polêmicas entre Chorão e Champignon

Baixista comentou em entrevista ao filme os altos e baixos vividos em sua amizade com Chorão uma sem

Por: Bia Viana  -  06/04/21  -  08:44
Champignon deu sua última entrevista no documentário 'Chorão: Marginal Alado'
Champignon deu sua última entrevista no documentário 'Chorão: Marginal Alado'   Foto: Divulgação

Chorão e Champignon foram a identidade do Charlie Brown Jr. por quase toda sua estrada, porém, a amizade entre os dois sempre foi descrita como uma relação de cão e gato. Entre altos e baixos, viveram uma relação intensa, que hoje é documentada com mais detalhes no filme Chorão: Marginal Alado, que estreia nesta quinta-feira (8).


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Para entender essa relação de forma mais assertiva, o diretor Felipe Novaes conversou com Champignon e utilizou sua entrevista no documentário. Entretanto, mal sabia o cineasta que este seria um dos últimos registros do baixista - Champignon se suicidou uma semana após a gravação.


"De fato, foi a entrevista mais dura de fazer pro documentário. Ele me respondia coisas diferentes. Eu fui dando corda, papos interessantes, ele era um cara super inteligente. Chegou um momento em que fui muito honesto com ele: 'tô fazendo um filme sobre o Chorão, seu parceiro, não faz sentido fazer esse filme sem o teu olhar. Quero tentar entender como se davam essas dificuldades todas', e ele foi se sentindo mais a vontade. Ele diz coisas importantíssimas para o filme", contou Felipe.


Chorão "adotou" Champignon na banda quando o baixista tinha apenas 12 anos. Abraçado pelo frontman, os dois criaram uma relação parecida como de mestre e aprendiz, que envolvia muito carinho e amizade assim como muitas broncas, brigas e discussões. Toda essa dualidade sempre aconteceu em público, contando com hiatos da banda e idas e vindas do baixista no Charlie Brown Jr.


Claro que a notícia de sua morte foi uma surpresa para todos. Para o cineasta, o incidente alterou um pouco a rota do filme. "A pauta da saúde mental, do suicídio, não estava bem trabalhada na sociedade. A morte do Chorão, a partir da morte do Champignon, ganhou outro patamar. Começamos a perceber que tinha algo nessa hsitória que nos levava para o caminho do filme".


Outra mudança é na percepção sobre os detalhes de sua conversa com o baixista. "Lógico que revendo a entrevista depois da morte, as palavras tomam outras proporções. Foi a última entrevista, as palavras adquirem outro valor. Foi muito difícil falar da morte dessas duas pessoas, a linha é muito tênue entre o sensacionalista e o piegas", revelou Felipe. A partir das duas mortes, a trama também tece questionamentos sobre os extremos do sucesso e fama, relacionando assuntos como drogas, violência e depressão.


Amizade shakesperiana


O produtor Hugo Prata acredita que a relação entre Chorão e Champignon tinha um conflito típico da dramaturgia clássica. "É engraçado como as regras que eu estudava pra ficção puderam ser aplicadas no documentário. A dualidade do herói é sempre uma jornada, quase sempre falamos disso no teatro e cinema. E o Chorão foi nos oferecendo isso".


"Tem um arco dramático fortíssimo, um skatista desacreditado que virou uma potência com um final dramático, teve conflitos, antagonistas... E a relação dele com o Champignon é ao estilo de Otelo, com ciúmes, disputas, isso tudo foi rico de construir".


"Era um bocado difícil de montar, colar essas imagens. O processo mais difícil foi lapidar. É muito comum algo que acontece durante o documentário e muda tudo. A história do Champignon é exatamente isso", esclareceu.


Hugo relembra a trajetória da dupla, que teve suas idas e vindas durante os anos de banda. "Ele pegou um moleque, colocou ele na banda, viraram parceiros, tiveram uma treta enorme, acabou a banda, voltara, tiveram outra treta enorme, o cara morreu... O Champignon ficou num vazio muito grande. Ele dá a entrevista e sete dias depois... É algo muito épico, dramático, shakesperiano. É o silêncio mais constrangedor que a gente conseguiu construir, que não estava no roteiro, vamos dizer".


Para contar essa história saindo do óbvio, foi preciso um olhar de valor, que entendesse a relação e buscasse mostrar os dois lados da moeda. "É um poço de polêmicas, e a gente se ligou que tinha a oportunidade de colar alguma coisa quebrada. Todo mundo sabia das tretas, mas houve sim um carinho desde o começo", finalizou Hugo.


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