Caco Ciocler fala dos bastidores do filme 'Partida'

O longa, lançado em 2019, já está disponível nas plataformas de streaming

Por: Do Estadão Conteúdo  -  25/06/20  -  13:01
Caco falou que as chances do filme não dar certo eram enormes
Caco falou que as chances do filme não dar certo eram enormes   Foto: Divulgação

De onde saiu a ideia maluca de colocar o Brasil, com suas contradições, dentro de um ônibus? De fazer um filme sem roteiro, mas com uma ideia (legítima) na cabeça? Retrospectivamente, Caco Ciocler é o primeiro a admitir que as chances de que Partida não desse certo eram enormes, mas deu.


Partida estreou na 43ª Mostra Internacional de Cinema, em 2019. Integra a seleção do Cine Drive-in que o Belas Artes inaugurou no Memorial da América Latina, na Capital, no último dia 17. E desde o dia 18 está disponível no streaming, nas plataformas Now, Vivo Play, Oi Play, Petra Belas Artes e Looke. 


Tudo isso é muito simbólico. O filme, a estreia no cinema, o destino final nas plataformas que estão substituindo as salas nesse período de pandemia. Por conta do isolamento, Caco conversou com a Reportagem pelo telefone. Lembra que Partida nasceu como um experimento e que, nesse sentido, o mais difícil foi o que antecedeu a gravação. Não havia patrocínio, a trupe seria ao mesmo tempo de personagens e técnicos. Mas antes de tudo havia um sonho.


“Sempre quis fazer uma viagem de carro ao Uruguai para passar o Ano-Novo com (o presidente) Pepe Mujica. Havia o que, para mim, era uma lenda, que ele morava num sítio e recebia as pessoas. O Brasil estava naquela escalada de radicalização. (Jair) Bolsonaro detonava todo mundo. Nunca estivemos tão divididos nas redes sociais.


Amigos e parentes rachados”, recorda-se o ator e diretor. “Quando Georgette Fadel começou com aquele plano de se candidatar a presidente, comecei a pensar que seria a companheira de viagem ideal. Ela iria dirigindo o carro e eu captando com a câmera o pensamento político dela, porque a intenção era essa. A maioria, como se manifestava, estava confusa, então parecia necessário construir um pensamento político embasado. A gente estava se agredindo, ofendendo. A ideia inicial de Partida, o ponto de partida, era colocar uma ordem”.


No início era só uma curiosidade de Caco pelo pensamento da amiga e atriz Georgette Fadel. Mas aí começaram a pensar num filme e, se era para ser filme, precisava de outra câmera, de gente para cuidar do som. O carro ficou pequeno. “Não tínhamos patrocínio, nem nada para oferecer às pessoas. Cada um que se incorporava tinha a sua demanda, sua história. O carro virou ônibus e o filme que não tinha roteiro começou a virar, de alguma forma, também a história dessa trupe. E eu virei o diretor disso tudo".


Georgette continuava no centro, mas Caco, que já tinha experiência de direção – um curta e um longa –, sentiu que talvez não desse certo. Todo mundo pensava muito igual. Era preciso alguém para expressar o outro lado. ”Foi quando entrou em cena outro amigo, Léo Steinbruch. 


“O Léo trouxe a dinâmica que a gente precisava. Georgette e ele brigavam feito cão e gato, mas a grande lição que a gente tirou do experimento pode parecer banal, mas foi que o ódio não constrói. Eles divergiam em tudo, mas convergiam no afeto. Desligava a câmera e, mesmo que continuassem brigando, se provocando, eram abraçados".


Quando Partida estreou na Mostra, Caco achou que o filme talvez tivesse ficado defasado. O Brasil parecia mais calmo, mas agora, em plena pandemia, "com esse desgoverno”, ele sente que ficou atual de novo. "Para mim, esse filme foi sempre representativo daquilo que a gente vivia e continua vivendo, agora pior, porque tudo que a gente temia aconteceu, e redobrado ”No filme, a trupe chega ao Uruguai, encontra o Mujica. “Foi uma coisa linda, ele é um homem doce”, diz Léo.


E Caco: “É um sábio. Faz uma análise da situação do mundo que não apenas é válida, como ficou mais abrangente. Precisamos nos mobilizar para salvar o Brasil, o planeta”.


No ônibus, houve de tudo. Momentos de tédio, de tensão, de dúvida. E se nada desse certo? Um dia, depois da gravação de uma daquelas discussões intensas, Caco brincou com o amigo: “Como é que se sente como o vilão da nossa história? ”E o Léo: “Que vilão, cara? Sou o heroizão”. 


A peça de Felipe Hirsch deve estrear depois da pandemia. Caco está no ar na reprise da novela Novo Mundo. “Guardo a lembrança de que foi uma novela feliz, com uma equipe muito bacana”.


Sobre o “experimento”, diz: “Fiz o curta Trópico de Câncer e o longa Esse Viver Ninguém me Tira, que foi uma encomenda. 'Partida' é meu primeiro longa autoral, e vejo que já tem muita ficção no jeito como a gente trabalhou. Dirigi e atuei na nova temporada da série 'Unidade Básica' Depois disso tudo, quero me aprofundar no cinema fazendo ficção". 


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