Big Brother Brasil: uma espiadinha de sucesso

Em sua 21ª edição, reality show continua despertando paixões e mobiliza as redes sociais

Por: Egle Cisterna  -  18/04/21  -  19:40
     BBB chega na reta final de sua 21ª edição levantando debates de temas atuais
BBB chega na reta final de sua 21ª edição levantando debates de temas atuais   Foto: Reprodução

Quase ninguém admite que tem interesse em saber da vida alheia, de dar aquela espiadinha, carregada de um certo voyerismo. Mas esse interesse existe! E talvez seja um dos principais motivos que faça a fórmula do Big Brother Brasil (BBB) chegar na reta final de sua 21ª edição levantando debates de temas atuais, com grande audiência, e mobilizando as pessoas nas redes sociais.


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Mesmo sem mudar a essência do formato original, em que participantes ficam confinados em uma casa, participando de provas para receber um prêmio milionário ao final, o programa que estreou no País em 2002, comprado da produtora holandesa Endemol, deu uma guinada nas duas últimas edições e volta a estar na linha de frente entre os mais vistos e comentados.


Um levantamento da Kantar Ibope Media mostra o poder desse tipo de entretenimento. Em 2020, o reality brasileiro foi um dos programas mais comentados do mundo no Twitter. No ano do isolamento, o BBB20 bateu todos os recordes de postagem nessa rede social, com 287 milhões de menções no ano – crescimento de 373% em relação a 2019.


Papel das redes


Para o professor da ESPM e doutor em Comunicação da Universidade de São Paulo (USP) Renato Gonçalves, apesar da estrutura do programa se manter a mesma desde o início, ao longo do tempo, ele foi se adaptando.


“Quando começou a ser exibido, a TV era a rainha das mídias. Com as redes sociais crescendo, a televisão teve que se reinventar. O BBB é um sucesso por entender o cenário das redes e ser pautado pela internet”, avalia. “A Globo entendeu as questões da internet e usa isso a favor da audiência do programa. Além disso, o fato de ter a Globoplay popularizou ainda mais, pois é um formato mais fácil que o pay-per-view”.


O especialista destaca ainda que outro fato importante para alavancar a audiência está na utilização de celebridades entre os participantes, prática adotada a partir de 2020. “Com isso, não começam a audiência do zero e já se sai com um capital afetivo desde o começo. O público já começa a assistir com alguma empatia pelo famoso”, diz Gonçalves.


O programa, que já revelou anônimos como Grazi Massafera e Sabrina Sato, passou a contar com influencers e artistas em seu elenco de escalados, como Fiuk, Karol Conká, Rafa Kaliman, entre outros.


Reflexo da sociedade


“O BBB é um espelho da nossa sociedade. A gente se projeta lá e qualquer atração que faça a relação com nosso cotidiano chama muito a nossa atenção”, analisa o doutor em Comunicação e professor da Universidade Anhembi-Morumbi, Vicente Gosciola, que também é pesquisador de novas mídias.


Ele acredita também que o isolamento social no período de pandemia fez com que a audiência do programa se consolidasse. “Ao assistir uma série, por exemplo, você não verá pessoas confinadas, ainda que ela esteja sendo gravada agora, em tempos de pandemia. Mas, no BBB, eles estão lá fechados dentro de uma casa. E quem está assistindo, também no isolamento, vai se identificar muito rápido com a situação”, aponta.


Futuro


Gonçalves crê que as tensões e as discussões são um dos caminhos pensados para se manter a audiência. “Na semana que passou, por exemplo, houve uma baixa votação, pois não tivemos uma polêmica. O programa tende sempre a criar uma narrativa para manter essa audiência”, comenta Gonçalves.


Ele considera que a participação de influencers e famosos possa se esgotar neste ano. “Não sei se a pipoca e o camarote vão ser continuados. Até porque, para o lado dos influenciadores pode não ser vantagem pelo que aconteceu nesta edição”, diz ele, referindo-se aos cancelamentos, perda de seguidores e patrocinadores que alguns participantes sofreram.


Para que o programa sobreviva a novas edições, os especialistas apostam na continuidade da reinvenção. “Estamos em uma fase muito favorável, equilibrada com o público. Agora, depois de tantos anos, que já se formou uma nova geração, a entropia pode acontecer. Há necessidade de se reinventar, de trazer novidades para o telespectador”, finaliza Gosciola.


Guinness


A audiência na TV também foi destaque na edição 2020, com a final tendo os melhores índices desde 2010, alcançando, no total, 168,5 milhões de espectadores no canal aberto e no Multishow. Outro exemplo do sucesso foi o 10º paredão, que atingiu a maior participação popular em um programa no mundo, com 1,5 bilhão de votos, na disputa entre Felipe Prior, Manu Gavassi e Mari Gonzalez.


O feito fez o programa entrar para o Guinness, o livro dos recordes. A atual edição, logo nas primeiras semanas, já superou os números de audiência do anterior.


Proximidade com o real é o segredo, crê ex-BBB


A jornalista santista Juliana Goes fez parte do elenco de participantes da edição do BBB de 2008. Ela acredita que o segredo é a proximidade com a realidade das pessoas e a possibilidade de acompanharem hora após hora o comportamento humano, as relações interpessoais à flor da pele.


“Com o plus de que as pessoas que estão ali vivem um jogo, entendendo a forma de reagir, as estratégias. Mas, no fundo, no fundo, é a simplicidade da vida humana, a curiosidade que temos em saber como uma pessoa reagiria em uma determinada situação”, diz.


Ela sente que o programa mexe com os anseios, com quem somos e no que acreditamos. “E isso vai despertar o lado bom – do carinho, da empatia, de você torcer por alguém – como o do incômodo, tocando em algumas feridas, em alguns valores que são fortes e vão causar reações”, avalia.


Mais veloz


Juliana, que hoje tem uma atuação forte nas redes sociais, fala que a principal diferença desta edição para a da qual fez parte é justamente a popularização da internet.


“Naquela época, elas (redes sociais) não existiam. O que tinha era Orkut. Twitter, Instagram e Facebook vieram depois. Hoje, a internet torna tudo mais veloz, tanto memes quanto cancelamentos. E não só velozes: mais intensos”.


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