Bia Ferreira, atual e necessária

Cantora sergipana lança disco de estreia cheio de fortes mensagens

Por: Lucas Krempel & Da Redação &  -  23/05/19  -  01:37
  Foto: HAIstudio / Divulgação

“Existe muita coisa que não te disseram na escola. Cota não é esmola! Experimenta nascer preto na favela pra você ver! O que rola com preto e pobre não aparece na TV: opressão, humilhação, preconceito. A gente sabe como termina, quando começa desse jeito”.


Esse trecho é só o começo da letra impactante de 'Cota Não é Esmola', canção que impulsionou a carreira da cantora, compositora e ativista sergipana Bia Ferreira, um dos nomes mais festejados da nova música brasileira.


Prestes a lançar o seu disco de estreia, 'Um Chamado', Bia é uma voz consciente em tempos onde o racismo está cada vez mais latente. E junto com as poderosas mensagens, a sergipana transita por diversos gêneros musicais, de forma natural. Se iniciou no RAP, hoje está associada também ao soul, MPB, jazz, gospel, reggae, entre outros.


“Trago várias outras coisas para além do RAP. Não gosto de me colocar como uma mulher do RAP. Tem muitas mulheres do RAP que estão nessa correria há muitos anos. E acho que seria roubar o protagonismo delas, que se esforçam para viabilizar o gênero. Não é a bandeira que carrego, mas o RAP estará aí porque é referência e influência do que faço”, comenta Bia, que conversou com A Tribuna por WhatsApp.


A artista conta que as pessoas não enxergam o trabalho que tem por trás de um cantor. “Elas pensam que é só subir lá e cantar. Mas tem todo um trabalho de estudo por trás disso, que faz com que seja bem feito. É você ler coisas, ter base bibliográfica e teórica para o que você está dizendo, estudar oratória, saber falar com as pessoas”.


Para embasar o seu discurso, Bia cita a Igreja Lesbiteriana. “A ideia e proposta é essa. Fazer com que a pessoa se sinta num ambiente onde ela absorva a mensagem de forma diferente. Da mesma forma que acontece com a igreja, que faz uma lavagem cerebral nas pessoas com mecanismos de oratória. Podemos usar essas técnicas para coisas boas, informar as pessoas sobre as demandas de luta contra o racismo, não homofobia, entre outras coisas”.


Shows no exterior


Mesmo sem ainda ter lançado o disco de estreia, Bia já desperta a atenção de outros mercados. No início do ano, se apresentou em Portugal, Alemanha e México.


“A aceitação do meu trabalho fora do Brasil tem sido surpreendente. Cheguei em Portugal, fizemos seis shows sold out (esgotado). Em Lisboa foi sold out com uma semana de antecedência. As pessoas sabiam cantar todas as músicas, se comoviam. Na Alemanha foi ainda mais chocante. O show foi cantado em português e falei um pouco em inglês. Um dos jornais disse que foi o melhor show de artista brasileiro em Berlim nos últimos dois anos”.


E o retorno ao Velho Continente já está confirmado. Voltará no fim do ano para mais uma sequência de apresentações. “As pessoas não entendem o que estou cantando, mas depois vão pesquisar e traduzir”.


Debute


Previsto para as próximas semanas, o disco de estreia será um compilado de tudo que Bia já apresentou, mas nunca registrou em estúdio. Além disso, duas canções inéditas foram adicionadas no repertório.


“Se formos falar financeiramente, esse disco não sairia. Muita gente acredita no disco. Ele tem muito amor empregado em cada letra, som e batida. São pessoas que acreditam em uma revolução que está em curso. A gente não se calou nesse momento bem crítico da história. Tem muitas referências do gospel, soul, r&b. Ele está gostoso de ouvir, está pra dançar, mas o principal é a mensagem. Ninguém tem mais desculpa pra dizer que não sabia”.


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