As várias faces de Punk Klô, uma das primeiras drag queens de Santos

Em entrevista para A Tribuna, ela conta sua história e amor pela arte

Por: Giovanna Corerato  -  04/02/22  -  07:02
Atualizado em 04/02/22 - 12:19
Klô nasceu em Guarujá, mas foi em Santos que encontrou trabalhos em boates e casas noturnas
Klô nasceu em Guarujá, mas foi em Santos que encontrou trabalhos em boates e casas noturnas   Foto: Reprodução/Instagram

No final dos anos 1980, com seus 20 e poucos anos, Clodoaldo Souza de Melo decidiu ir contra tudo que já havia sido predestinado a ele por seus familiares, pelos seus professores de etiqueta e pela tradicionalidade da Base Aérea de Santos, onde estudou, para se tornar Punk Klô, uma das primeiras drag queens da região.


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Hoje com 53 anos, o artista relembra: nesses primeiros tempos, transformar-se era ainda algo furtivo. “Eu trabalhava em uma farmácia. Quando ia me montar (transformar-se em Punk Klô) falava para os meus amigos e parentes que eu estava indo para uma festa, mas sempre levava comigo uma mochila. Um dia, minha mãe a encontrou. Ela ficou assustada, dizendo que aquilo (vestido, peruca e salto) era roupa de mulher. Mas acabou aceitando, logo que expliquei que havia participado de um concurso de transformista”.


As dificuldades foram muito além do preconceito de alguns outros familiares, que diziam que Klô iria ‘morrer de aids’ antes dos 30 anos. O artista já teve que enfrentar malandros da noite quando voltava para casa depois das apresentações, principalmente quando levava no bolso o cachê.


“Meu pai me viu pela primeira vez na televisão no antigo programa Show de Calouros, do Sílvio Santos. Eu estava vestido de Carmen Miranda. Ele me perguntou se era realmente isso o que eu queria e eu disse que sim. Foi daí que ele aceitou essa minha nova vida e me pediu para que eu fosse sempre um bom profissional”, conta.


Origens

Klô nasceu em Guarujá, mas foi em Santos que encontrou trabalhos em boates e casas noturnas. Já chegou a se apresentar no Cafe de La Musique, esta em Guarujá, e em extintas danceterias, como as icônicas Lofty e Zoom, em Santos.


O pioneiro da arte drag em Santos já se monta há 30 anos e faz parte de sua rotina de trabalho reservar no mínimo 2h30 para fazer a maquiagem.


Quando era criança, Klô costumava usar as maquiagens de sua mãe. “Eu tinha 5 anos e, quando ela saía para fazer algumas entregas, eu pegava todas as maquiagens. Era ótimo, porque ela era representante da Avon. Largava todos os meus carrinhos e o autorama para usar as maquiagens da minha mãe”.


Punk Klô explica que a inspiração para seu nome foi o estilo musical em alta na época. “Quando eu comecei como transformista, lá pelo final dos anos 1980, passava nos telejornais sobre a Parada Gay e eu vi aqueles punks, pessoas com acessórios de couro, com um estilo um pouco sadomasoquista, e foi a partir disso eu comecei a gostar dos punks. Já o Klô vem da abreviação do meu nome: Clodoaldo”.


Voluntário

Punk Klô mostra que ser drag queen vai muito além de maquiagem, acessórios e roupas chamativas. O artista realiza vários trabalhos voluntários com as crianças da Apae Santos.


“Fui convidado para fazer um trabalho para a Apae. Aceitei e, nesse primeiro trabalho, me vesti de palhaço. Quando cheguei, as crianças estavam todas comendo numa mesa grande, mas quando me viram, vieram direto me abraçar. Fiquei emocionado e desde então sempre faço trabalhos voluntários para a instituição”.


Passado x presente

“O que me chateia hoje é ver a desvalorização do nosso trabalho. Há 30 anos, íamos para os clubes trabalhar e já tínhamos um valor combinado de cachê. Hoje em dia, as pessoas que nos contratam querem pagar com permutas e consumação no bar”, reclama Klô.


Antigamente, o trabalho do artista era fazer performances em casas de shows com música e figurino. Já hoje, Klô afirma que, por conta de seu reconhecimento na Baixada Santista, faz mais presenças VIP.


“Sou contratado muito mais para gerar aquela fofoca entre os convidados pelo fato de estar presente, tirar fotos, conversar e ir nos camarotes, do que me apresentar”.


Nesses 30 anos de trabalha como drag, Klô recebeu convites para participar de festas na Baixada Santista e em São Paulo, indo de casamentos a confraternizações. Em março, fará uma performance na festa CapsLock, na Capital. “Quando eu vou pra lá, tenho que dar uma caprichada maior, porque a concorrência é muito grande: nascem 500 drags por dia”.


Mesmo com 53, Klô diz sempre estar preparando o corpo. “Meu rosto não tem uma ruga e já emagreci sete quilos para essa festa em São Paulo, voltada ao público da São Paulo Fashion Week. Esse público aprecia uma boa performance”, anima-se Klô.


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