As horas mais escuras

O cinema é um bom meio para se refletir sobre a tragédia do 11 de Setembro, 20 anos depois

Por: Eduardo Cavalcanti - Colaborador  -  29/08/21  -  18:15
 O cinema é um bom meio para se refletir sobre a tragédia do 11 de Setembro, 20 anos depois
O cinema é um bom meio para se refletir sobre a tragédia do 11 de Setembro, 20 anos depois   Foto: Imagem ilustrativa/Joshua Hoehne/Unsplash

De todas as sequências de imagens apresentadas nos noticiários, ao redor do mundo, no dia 11 de setembro de 2001, as mais impressionantes, obviamente, são as dos aviões colidindo contra as torres gêmeas do World Trade Center. Mas as mais humanas, as que mostram o ponto de vista de quem estava nas ruas de Nova Iorque no momento da tragédia, fazem parte de um outro conjunto de registros – os do documentário Fahrenheit 11 de Setembro (2004), do caçador de polêmicas Michael Moore. E se as cenas da colisão são espetaculares, o desespero no nível do chão é aterrador.


Clique e Assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe acesso completo ao Portal e dezenas de descontos em lojas, restaurantes e serviços!


Vinte anos depois, o maior ataque terrorista da história só conseguiu ser superado, em termos de impacto global, pela pandemia da Covid-19. Mesmo assim, poucas narrativas conseguem se equiparar em teor dramático. O cinema produziu incontáveis longas-metragens e documentários sobre o assunto, mas três filmes conseguiram tratar do tema de um modo mais marcante que os demais. Cada um deles aborda uma fase do principal acontecimento político mundial das últimas duas décadas.


Michael Moore foi o primeiro a abordar de frente, sem fazer concessões, as circunstâncias que cercaram o atentado, bem como as consequências imediatas. Fahrenheit 11 de Setembro é, antes de tudo, um impiedoso ataque ao então presidente norte-americano George W. Bush. O filme tem tudo menos a isenção que se espera de um documentário, mas quem se importa com o conteúdo integralmente editorializado de Moore, quando ele é lançado como uma granada que explode à queima-roupa?


Além das cenas que documentam os últimos momentos do WTC e suas testemunhas, o diretor revela o antes e o depois da mãe de um soldado que vê com orgulho o filho sair de casa para, supostamente, lutar pela liberdade no Iraque, e a mudança radical da mesma mulher, arrasada, quando o jovem volta para casa num caixão. Por mais que alguém possa questionar o modo como Michael Moore conduz sua história, a dor vista no filme é real demais e capaz de se sobrepor a qualquer objeção quanto ao tratamento das questões políticas.


Do mesmo modo, por maiores que sejam as reservas quanto à escolha de Adam Sandler para um papel dramático, elas dificilmente serão mais fortes que a impressão final deixada por Reine Sobre Mim (2007). O filme traz um tipo diferente de vítima do 11 de Setembro. Charlie Fineman (Sandler) fica traumatizado e se fecha para o mundo depois de perder toda a família num dos aviões sequestrados, e precisa ser resgatado por um amigo de faculdade (Don Cheadle) de seu universo que se reduz a videogames e discos de classic rock (algo que, fora do contexto melancólico do filme, seria difícil considerar ruim).


Se Reine Sobre Mim põe em foco a perda em toda sua extensão emocional, A Hora Mais Escura (2012), da ganhadora do Oscar Kathryn Bigelow, faz uma análise fria, quase documental, da busca a Osama Bin Laden, o responsável pelos atentados em Nova Iorque e Washington. Nessa trilha, o filme deixa claro como a tortura era um recurso usual entre os agentes encarregados de obter qualquer informação que levasse à captura do terrorista mais procurado do mundo. Finalmente, Bin Laden acabou morto pelos marines em seu bunker no Paquistão, numa operação recriada em detalhes brutais pela diretora.


Um filme que não faz parte desse pacote, mas que se relaciona de um modo decididamente sinistro com o 11 de Setembro, é o cultuado Fuga de Nova York (1981). Quase 20 anos antes, o diretor John Carpenter mostrava o avião do presidente dos Estados Unidos sendo sequestrado por uma terrorista (nesse caso, 100% americana) e jogado contra um prédio de Manhattan, com as torres do World Trade Center logo ao lado.


Se o filme serviu de inspiração para Bin Laden e seus seguidores, nunca se saberá. O certo é que Hollywood não costuma falhar quando se trata de recriar nas telas episódios que marcaram a história. O 11 de Setembro continuará sendo uma inspiração por muitas décadas ainda. Até porque, mesmo que seja superado, ele não tem como ser esquecido.


Tudo sobre:
Logo A Tribuna
Newsletter