'Achei que a história seria importante pra ser contada', diz Mark Ruffalo sobre novo filme

Em "O Preço da Verdade", ator assume personagem mais denso. Ele fala sobre a produção e como foi trabalhar com dois brasileiros na equipe

Por: Paoula Abou-Jaoude & De Los Angeles, Especial para A Tribuna &  -  13/02/20  -  10:18
Atualizado em 13/02/20 - 10:30
Ruffalo quis usar o cinema para propagar mensagem como ativista, mas em busca de unir as pessoas
Ruffalo quis usar o cinema para propagar mensagem como ativista, mas em busca de unir as pessoas   Foto: Divulgação

O ator Mark Ruffalo está de volta às telas, após retomar seu papel em Vingadores: Ultimato, o filme mais visto na história. Em O Preço da Verdade, novamente assume um personagem mais denso. Na entrevista abaixo, ele fala sobre o longa e como foi trabalhar com dois brasileiros na equipe.


Como você se envolveu com esse projeto, e por que decidiu produzir o filme?


Depois de 2016 (eleição de Trump), eu percebi como as coisas ficaram divididas (nos EUA) e como até ativismo é uma coisa divisora para as pessoas. Então, eu quis usar o cinema para propagar minha mensagem como ativista, mas sem a intenção de dividir ainda mais as pessoas, mas sim uni-las. Eu queria contar histórias que eu acho socialmente importantes, como a questão da água e nossa saúde. Mas tinha que ser do ponto de vista humano e não em termos políticos. Eu li esse artigo sobre o advogado Rob Bilott, e como já fiz muito ativismo como ambientalista, especialmente sobre água, eu imediatamente conectei-me com a história. Não conheço ninguém no mundo que queira beber água envenenada. Achei que a história seria importante para ser contada, e de maneira com a qual todos, não só se identificassem a respeito, mas que também despertasse uma conversa mais séria sobre o sistema.


No filme, o Rob Bilott é um homem simples e calmo. Foi importante mostrar este lado do personagem?


O Rob Bilott é assim na vida real. E Todd Haynes e eu decidimos desde o início sermos honestos em nossa abordagem. Como ator, você tende a criar cenas grandiosas, com um grande discurso no meio do filme. Mas isto não seria honesto. Fiquei um pouco preocupado, tentando imaginar se o público ficaria do lado do personagem, se o acharia forçado. Eu tinha toda compulsão em criar o discurso grandioso, mas eu tive que me disciplinar. Achei que era mais eficaz dessa maneira. Quando ele monta toda a história da DuPont, ela poderia ter sido mostrada de uma maneira bombástica, mas não, tudo é simples e calmo. Como uma reportagem. Acredito que quando você interpreta uma pessoas real, você tem a obrigação de ser honesto ao personagem. Se você o encontrar, vai perceber que ele é assim mesmo. Mas ele é muito mais atraente em pessoa do que do jeito que eu o interpretei no filme (risos).


É difícil contar uma história tão complicada assim e ainda fazer com que o público se identifique com ela?


Eu acho que é por isso que eu queria que o Todd Haynes dirigisse esse filme. Ele conhece a vida interior do personagem tão bem. É algo que sempre está nos filmes dele. Os personagens dele são pessoas lutando contra um sistema opressor, e eles foram sempre alienados pelo sistema de alguma forma ou de outra. Eu também sabia que ele nos daria um lado mais humano para a intricada história judicial do caso, e é isso com que o público acaba se conectando. Eles entendem o complicado processo e conseguem acompanhar o drama do personagem. Encontrar esse equilíbrio torna tudo muito mais humano e nos leva à compreensão.


O que o mais surpreendeu a respeito dessa história?


Embora o nível da fraude tenha sido extraordinário, em diversas maneiras, o que mais me chocou foi o fato de que eles sabiam que as pessoas estavam ficando adoecidas. Eles sabiam dos defeitos de nascença. E eles prosseguiram com aquilo tudo sem criar nenhum tipo de debate interno sobre os problemas. Também a idiotice de eles entregaram ao Rob Bilott todas as informações. Isso me chocou também. Eles deram a ele tod</CW>os os arquivos, todos os documentos.


O filme tem dois brasileiros na equipe técnica: o compositor Marcelo Zarvos e o editor Affonso Gonçalves. Como foi trabalhar com eles?


Eles têm um incrível talento. Tivemos sorte de tê-los no filme. Eles fizeram o filme funcionar muito bem na pós-edição. Lembro de conversar com o Fonzie – é assim que chamamos o Affonso -, a respeito de o quanto ele perfeitamente entendia não só a linguagem cinematográfica do Todd Haynes, mas como também a linguagem cinemática do filme. Ele havia trabalhado com o Todd antes, e eles têm a mais perfeita sintonia. É bonito vê-los trabalhando juntos. Quanto ao Marcelo, ele veio nos salvar no último minuto. Usamos a música dele feita para outros filmes como uma trilha temporária, e quando eu assisti ao filme, eu achei que era uma trilha perfeita. Mas, originalmente, estávamos trabalhando com um outro compositor que não deu certo e o perdemos. Então o Marcelo veio trabalhar com a gente e ele criou essa incrível trilha sonora num curtíssimo período de tempo. É uma trilha incrível. Nosso filme deve muito ao trabalho desses dois. E aproveito para dizer “obrigado” em português. (risos).


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