A força dos coletivos no fomento da cultura de cada dia

Grupos ajudam a estimular a arte e a atrair públicos mais diversos

Por: Egle Cisterna & Da Redação &  -  06/10/19  -  15:35
Atualizado em 06/10/19 - 15:53
Coletivo teatral Trupe Olho da Rua nasceu da necessidade de levar peças para as praças da Cidade
Coletivo teatral Trupe Olho da Rua nasceu da necessidade de levar peças para as praças da Cidade   Foto: Arquivo

Juntar esforços para fortalecer a arte, chegar a espaços públicos e atrair o público, mas num formato onde não há uma hierarquia, no qual todos os participantes têm poder de decisão. Esta é a forma básica dos coletivos culturais. Na Baixada Santista, muitos artistas optaram por essa formação para desenvolverem seus trabalhos. 


Dentro deste conceito, uma nova editora está surgindo na região, a Expressão Livre, que reúne quatro artistas, onde cada um realiza funções específicas, que vão desde criação das ações, curadoria literária, produção de eventos, produção geral das capas à impressão dos livros. O projeto, pensado a partir de 2013, começa a dar os últimos passos para decolar ainda neste mês. 


“A forma coletiva de produzir arte é uma alternativa palpável para a grande maioria dos artistas que trabalha e dedica sua vida profissional à arte. É um caminho de união que fortalece o resultado final”, afirma o artista integrante do coletivo, Rafael Palmieri.  


Ele acredita que o principal desafio deste formato de produzir cultura sem uma liderança e de forma colaborativa é autogestão do grupo e as relações interpessoais entre seus integrantes. 


Em Praia Grande, a Casa do Poeta Brasileiro, fundada em 1976, é definida pelo escritor e presidente da entidade Celso Corrêa de Freitas como “o abrigo natural e representativo dos escritores, músicos, cantores, artistas plásticos e praticantes de artes diversas”. Com uma roda literária e um sarau mensal, o coletivo abre espaço para todos os artistas. 


“Para mim, coletivo é força. Coletivos são extremamente importantes para a cena, para a Cultura. Estamos nos desenvolvendo como artistas”, diz Gabitopia, uma das organizadoras da Batalha do Caoz, uma disputa de rimas que acontece uma vez por mês em São Vicente e reúne cerca de 20 pessoas, principalmente mulheres e público LGBTI+. O grupo já reuniu dez músicas para gravar a primeira compilação de músicas. 


Multiplicando coletivos 


Em Cubatão, o Coletivo 302 surgiu, em 2014, com a proposta de falar da cidade e de sua identidade. Mas a iniciativa foi além da apresentação dos espetáculos do grupo formado no Teatro do Kaos. Os artistas conseguiram ativar um núcleo cultural dentro do Parque Anilinas e dar espaço para que outros coletivos se formassem ali na área batizada de Galpão Cultural. 


“Nós fizemos uma ocupação cultural dentro do Parque. Entendíamos que, com a criação do nosso coletivo, precisávamos de um espaço. Achamos um local, fizemos todas as tratativas com a Prefeitura e conseguimos entrar”, lembra um dos fundadores do302, Matheus Lípari. Hoje, o local conta com várias atividades culturais, não apenas voltadas ao teatro, com grande circulação de pessoas, além outros quatro coletivos formados neste espaço. 


O Trupe Olho da Rua, um coletivo teatral formado há 17 anos, em Santos, nasceu da necessidade de levar peças para praças da Cidade. Um dos fundadores, Caio Martinez Pacheco, lembra que a presença destes grupos, em todos os campos da Cultura, no diálogo com o poder público, ajuda a melhorar as políticas deste segmento. 


“O Facult, por exemplo, só existe porque vereadores, políticos e vários coletivos se juntaram para fazer isso acontecer em conjunto com a Prefeitura”, destaca Pacheco. Mas, apesar da importância destes grupos, ele tem a percepção de que o número de coletivos vem reduzindo. 


“Já tivemos muito mais, mas está numa onda decrescente, pois teve muito orçamento cortado e projetos redimensionados. São coisas que deixam o cenário muito difícil e muita gente vai embora da região”, diz ele, que estima que a Baixada Santista tenha hoje cerca de 40 coletivos teatrais. 


Nova editora 


O início oficial da editora Expressão Livre está marcado para o final deste mês, no dia 26, na Estação da Cidadania de Santos, quando serão lançados os dois primeiros títulos: Terra Fértil, de Rafael Palmieri, e 1968 ou os Pássaros, de Marcelo Ariel, em parceria com Ana Moravi. Um diferencial da editora é o formato cartonero, onde as capas são feitas de forma artesanal, com papelão reutilizado. Essa técnica, que surgiu na Argentina nos anos 2000, é geralmente feita de forma artesanal e tem também como marca de estilo as capas pintadas uma a uma e costuradas, o que torna cada exemplar diferente e único. 


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