Fama de mau, mas gigante gentil. De um jeito ou de outro, Tremendão. A música brasileira sentirá falta das várias facetas de um de seus maiores compositores: Erasmo Carlos. O amigo de fé, irmão camarada de Roberto Carlos morreu nesta terça (22), aos 81 anos, no Rio de Janeiro. Ele foi internado às pressas no Hospital Barra D’Or e intubado, vítima de uma paniculite (inflamação da camada de gordura abaixo da pele), agravada por infecção cutânea .
“Ele era o mais roqueiro da dupla com o Roberto. Se existiu uma Jovem Guarda, se teve um lado mais rock and roll na música do Roberto, se deveu mais a ele, que sempre foi o cara mais selvagem”, analisa o jornalista e articulista de música de
Jotabê explica que, até o florescimento da dupla de compositores Roberto e Erasmo, a música jovem era inteiramente baseada em versões de canções de rock norte-americanas, com arranjos e ritmo quase idênticos aos originais.
“Não havia uma expressão que falasse a língua dessa geração. E eles chegaram expressando o que a juventude pensava e sentia e assumiram o papel de liderança geracional”. Uma juventude periférica, enfatiza Jotabê, pelas raízes de ambos, mas especialmente de Erasmo. “Ele era o cara de rua”.
Porém, enfatiza a simbiose artística com Roberto. “Ele se adapta à música do amigo. Se o Roberto é ecológico, ele vai junto; se é religioso, também. Mas quando ele passa a compor com Roberto, ele moderniza a obra deste”.
“Ele manteve essa influência por décadas, como um molde do que é ser jovem. Por exemplo, no Rock in Rio, ele estava lá. Gente como Titãs, Paralamas, Lulu prestaram homenagens a ele, que envelheceu de maneira íntegra e balizou a estética para os que vieram depois dele”.
O encontro com Roberto, a vida e a obra
Os primeiros passos de Erasmo na música se deram ainda na década de 1950, quando formou o quarteto The Snakes ao lado de Arlênio Lívio, José Roberto China e Edson Trindade. Os três eram ex-integrantes do grupo The Sputniks, no qual haviam tocado junto com Tim Maia e Roberto Carlos.
“Era
“Com o Roberto Carlos, também, a gente foi convivendo e ficando amigo. Houve muitas brigas, por exemplo, de turmas, mas que nos aproximaram muito. Aquela coisa de ‘brigamos juntos’, sabe? Dessa amizade de amigo, a gente foi se identificando musicalmente, também. Com meu conjunto vocal, fui fazendo coro para ele. Até o dia em que nós resolvemos fazer uma música, um rock em português,
Nas redes sociais, o parceiro de uma vida, Roberto Carlos, externou sua emoção: “Minha dor é muito grande, nem sei como dizer tudo o que eu penso desse meu amigo querido, meu grande irmão. Meu ídolo por tudo, pela sua lealdade, sua inteligência, sua bondade, por tudo o que eu conheço dele. Um ser humano maravilhoso esse meu irmão. É um privilégio para mim ter um amigo, um irmão assim por todos esses anos. Difícil encontrar palavras: o meu amigo Erasmo Carlos. Ele viverá para sempre em meu coração”.