Foram anos de reflexões, muito estudo sobre formatos e linguagens literárias e um exercício intelectual intenso para transformar em livro a proposta original: escrever um romance em que a personagem principal convive com a mesma deficiência da autora, a cegueira quase completa, mas de uma forma diferente do que existe no universo literário. Após essa jornada, a autora santista Victoria Schechter, lança nesta segunda (23) em Santos seu primeiro livro, Prismas, pela Editora Patuá. O evento será às 19h, no Revo Manufactory (Av. Epitácio Pessoa, 737).
“Quis tratar o tema de forma real, porque poucas vezes houve um retrato preciso de uma pessoa com deficiência visual. O que encontro na Literatura é sempre uma tragédia, uma história de superação. Não tem nada de superação. Deficiência não é algo que você supera. É algo com que você aprende a conviver”, diz a autora. Em São Paulo, a noite de autógrafos foi na última quinta-feira (19), na Vila Madalena.
Prismas tem como personagem principal a jovem Isabel que, assim como Victoria, é deficiente visual. A autora explica que o livro não é autobiográfico, mas representa um momento especial porque retrata o cotidiano de alguém que é deficiente, mas sem capacitismos.
O livro narra o cotidiano de Isabel sob o ponto de vista da protagoniosta e também com a presença e as impressões de outros personagens, como as amigas, a babá da infância, a irmã e um ex-namorado.
Trajetória
Victoria nasceu em Santos e estudou na Cidade até concluir o Ensino Médio. Ingressou na Faculdade de Letras da Universidade de São Paulo e, nesse momento, já ensaiava tirar da cabeça os primeiros rascunhos sobre a Isabel, personagem que ela idealizava desde a adolescência.
Depois da faculdade, Victoria fez um curso de formação de escritores, com a vertente ficção, no Instituto Vera Cruz. Imersa na Literatura, suas linguagens e formas de expressão, a jovem santista seguiu para a Europa, onde concluiu, no final do ano passado, mestrado em Literatura Modernista e Contemporânea na University of East Anglia, na cidade de Norwich, em Norfolk, nordeste da Inglaterra.
Victoria tem deficiência visual desde pequena, e só 5% de visão, assim como seu pai, o empresário santista Renato Monteiro. O acesso aos estudos sempre ocorreu com o auxílio da tecnologia, como aplicativos e ferramentas digitais que convertem textos escritos em áudio, por exemplo. A tecnologia também a auxilia com as tarefas cotidianas, já que ela mora sozinha na Inglaterra.
O livro Prismas estará à venda no lançamento e depois poderá ser comprado pelo site da editora (editorapatua.com.br) e no Instagram da autora (@filapreferencial).
Em breve, o livro físico e o e-book também estarão na Amazon, inclusive com versão acessível para quem lida com a deficiência visual.
Literatura única
“A literatura de Victoria Schechter é única porque é única a sua perspectiva. A cegueira já foi algumas vezes retratada como uma questão sensorial, como um acesso distinto às imagens do mundo. Aqui, a partir da experiência da autora e de sua grande habilidade em sintetizá-la, a cegueira se torna algo maior, se torna uma importante questão social, que afeta de maneira forte e inesperada cada uma das relações humanas. Não são só as imagens do mundo que ganham outra dimensão: é a própria compreensão do mundo que se transforma pelo olhar clarividente da autora”, diz o escritor e crítico literário Julián Fuks.
