Você sabe o que é Metaverso? Entenda tudo sobre essa tecnologia

O que você queria saber, mas tinha vergonha (ou medo) de perguntar

Por: Marcus Neves Fernandes  -  30/01/22  -  12:00
O metaverso promete ser o futuro das redes sociais, a conexão definitiva do mundo físico com o virtual
O metaverso promete ser o futuro das redes sociais, a conexão definitiva do mundo físico com o virtual   Foto: Adobe Stock

Ela foi recebida como uma tecnologia que pode revolucionar o mercado, mudar o mundo. Até pode. Mas o que parece novo, algo inédito, uma descoberta, na verdade não é. O termo, aliás, completa 30 anos agora em 2022 e o simulador Second Life (lembra dele?) fará 20 anos em 2023. Então, por que tanta curiosidade pelo metaverso? O que mudou? O que vai mudar?


Todo esse recente interesse se deve ao anúncio do Facebook de tornar o metaverso uma prioridade, com US$ 10 bilhões de investimento. Pelo gigantismo, acusações de monopólio e até mesmo um apagão em outubro, tudo o que o Face toca ganha imediata relevância. E assim foi com o metaverso.


A proposta em si, que é a da criação de um ambiente virtual, não mudou. A diferença é que, agora, muitos atores estão melhores posicionados.


Prova disso, por um lado, são as primeiras iniciativas nesse novo mundo, como o Second Life. Hoje, olhando em retrospectiva, ele tem um ar de algo tosco, que mesmo assim atraiu milhões de usuários, até entrar no atual processo de declínio.


Atualmente, porém, aprendendo com os erros, projeta-se um metaverso muito mais imersivo e sensorial, a “conexão definitiva do mundo físico com o virtual”, o “futuro das redes sociais”... dizem as previsões, incluindo, obviamente, o e-commerce.


Para isso, ferramentas como o blockchain, criado em 2018, viabilizando as moedas virtuais, ampliam em muito as perspectivas. Hoje, há um banco de dados que registra as transações comerciais, permitindo maior controle e segurança nesse metacomércio.


Essas e outras inovações, aliadas à inteligência artificial, propõem visões que beiram a ficção científica, o gênero literário que, aliás, cunhou o termo. Foi em 1992, no livro Snow Crash, de Neal Stephenson – nele, o autor dá a essa realidade nuances não tão idílicas, com o metaverso sendo um espelho da sociedade, com suas intrigas, falcatruas e lutas pelo poder.


Hoje, laboratórios de metaverso, nas principais universidades do mundo, já analisam os desdobramentos dessa plataforma em áreas como a psicologia e a educação. São várias as possibilidades. O trabalho remoto, apreciado por muitos na pandemia, é uma delas. Há quem veja o surgimento do ciberaluno, o fim da escola física e um novo papel para o professor, com a sua transformação definitiva em um entertainer.


Caberá à sociedade compreender e controlar, da melhor forma possível, os aspectos ruins dessa nova realidade. Mesmo porque assim é o conhecimento humano: uma caixa de Pandora, impossível de fechar – e em constante mutação.


Na prática
Metaverso é como um mundo paralelo, capaz de se conectar com a realidade. Nesses ambientes virtuais, que se parecem e se comportam como um mundo físico, avatares (um cibercorpo) impulsionados por realidade aumentada e virtual permitirão que os usuários mergulhem no conteúdo digital em vez de simplesmente visualizá-lo quando acessam sites, plataformas de mídia social ou um aplicativo de mensagens. Promete-se uma experiência on-line integrada, na qual um único avatar move-se entre espaços como uma loja virtual e um auditório.


Um vislumbre
Desde 2020, na Universidade de Nottingham, no Reino Unido, 100 alunos de engenharia interagem entre si em forma de avatar, em um mundo virtual chamado Nottopia. O estudo concluiu que é possível, com computadores e softwares padrão, construir esse tipo de ambiente – que pode ser participativo. E esses mundos devem ser projetados de acordo com as habilidades, objetivos e expectativas dos usuários pretendidos.


Bom para o meio ambiente?
No Laboratório de Interação Humana Virtual, da Universidade de Stanford (EUA), pesquisadores acreditam que o metaverso pode ser bom ao meio ambiente. Eles descobriram que, se uma pessoa tem experiência de realidade virtual de cortar uma árvore, há mais probabilidade de ela economizar papel. “Não faltam soluções para as mudanças climáticas, falta vontade política”, diz Vanessa Keith, da Universidade de Columbia.


Torna-se possível identificar e rastrear pessoas pela forma como usam óculos de realidade virtual on-line
Torna-se possível identificar e rastrear pessoas pela forma como usam óculos de realidade virtual on-line   Foto: Adobe Stock

A quem pertence o cibermundo?
O mundo digital já faz parte do cotidiano de mais de 4 bilhões de pessoas. Isso apenas quando consideramos as principais ferramentas de comunicação on-line. E dessa rede, hoje, dependem, inclusive, pequenos negócios em todo o mundo.


O apagão de seis horas do Facebook, em outubro do ano passado, trouxe um momentâneo caos a esses setores, alertando para a enorme dependência dessas plataformas e a sua concentração em poucas empresas.


A pergunta básica é: quem vai dominar o metaverso? Em 2014, o Face adquiriu a empresa de realidade virtual Oculus por US$ 2 bilhões, dominando 60% do mercado. Tal monopólio preocupa governos, organizações sociais e cientistas. Nas mídias sociais, o Face moldou nossas vidas baseado em controle e vigilância, alimentado por nossos dados. O metaverso vai ampliar esse processo? Quem usa óculos de realidade virtual on-line talvez não saiba, mas a forma como movimenta seu corpo faz com que algoritmos possam identificá-lo e rastreá-lo.


Tudo isso já gera uma quantidade incomensurável de informações e permite uma infinidade de cruzamentos, funcionando como uma pesquisa diária, minuto a minuto, sobre costumes, comportamentos, tendências e suas variações – dados valiosíssimos e um poder capaz de interferir até mesmo em eleições.


Como evitar isso? A Coreia do Sul, por exemplo, criou a Aliança para o Metaverso. O objetivo é ter um espaço que “não seja monopolizado e que os participantes colaborem”, afirma Cho Kyung-sik, segundo vice-ministro de Ciência.


No metaverso, torna-se fundamental saber o quanto será possível promover e garantir valores, tais como uma sociedade aberta e inclusiva, a mobilidade social e a participação política.


Outro aspecto é a privacidade. Novamente, a literatura oferece inúmeros cenários em que sinônimos do “Grande Irmão” espreitam as liberdades.


Em um metaverso, do qual para muitos será até mesmo impossível não participar, essa preocupação cresce e permanece em aberto, uma caixa-preta em que nossos dados pessoais viajam o mundo a um simples toque no celular.


Propostas para regular o metaverso não faltam, algumas já estão até nos tribunais. Mas, para pesquisadores como Wendy H. Wong, da Universidade de Toronto (Canadá), o caminho é outro. “Alguns sugeriram que tratássemos o Facebook como um país hostil para contê-lo adequadamente. Isso parece desnecessário. O Facebook é um exemplo de novo tipo de infraestrutura global que precisa proteger e respeitar os direitos humanos”.


Seja como for, o ciberespaço, popularizado em 1984 no livro Neuromancer, de William Gibson, promete atrair bilhões de pessoas. Nesse futuro, pelo menos na literatura, todos se conectam em “uma alucinação consensual vivenciada diariamente”, escreve Gibson, antevendo, para muitos, os primeiros passos de uma nova realidade.


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