Vidro reciclado pode ser uma solução para o meio ambiente

O comércio de vidro reciclado permite reconstituir orlas e rende tanto quanto o tráfico de drogas.

Por: Marcus Neves Fernandes  -  19/06/22  -  15:28
Triturado até ficar com a  composição semelhante à da areia,  o vidro reciclado pode ser  usado contra a erosão de praias
Triturado até ficar com a composição semelhante à da areia, o vidro reciclado pode ser usado contra a erosão de praias   Foto: Adobe Stock

No mercado mundial, a areia é um dos insumos mais consumidos pela sociedade, que na busca por soluções sustentáveis imagina até mesmo praias de vidro reciclado.


Isso pode parecer estranho, mas países como Nova Zelândia, Estados Unidos e a ilha de Curaçao, entre outros, vêm testando essa possibilidade.


Fenômeno
Estudos apontam a viabilidade do triturado de vidro, principalmente em regiões costeiras com processos de erosão – um fenômeno que consome milhares de quilômetros de praias todos os anos.


Fora o aspecto científico, o que chama a atenção são as iniciativas coletivas, no estilo faça você mesmo, uma tendência que começou com os plásticos. Um exemplo é Precious Plastic. Nascida no Canadá, a fabricante se propôs a simplificar a reciclagem da resina, substituindo as grandes máquinas industriais por unidades menores, capazes de serem operadas dentro da garagem de uma residência.


Comunidades, em seus bairros, passaram a coletar, triturar e moldar o plástico em novos produtos, uma ação que agora vem também sendo aplicada ao vidro. Afinal, quimicamente, vidro e areia têm muito em comum.


Demanda
Assim foi na boêmia Nova Orleans (EUA), onde uma startup de estudantes universitários criou uma central de reciclagem de vidro, que pode ser ensacado e empregado na recuperação de praias e áreas de manguezais. O método consiste na trituração do material até que cada grão fique com tamanho inferior a dois milímetros, como os grãos de areia.


Demanda não falta, seja por fenômenos naturais, como terremotos, furacões, tsunamis, intempéries, seja pela ocupação humana do litoral.


Perdido
Um estudo recente, feito pelas universidades de Cambridge (Reino Unido) e James Cook (Austrália), indica que 4 mil quilômetros quadrados de áreas úmidas de maré foram perdidos globalmente ao longo de 20 anos (de 1999 a 2019).


No Brasil, estima-se que 60% dos 7.500 quilômetros de litoral são afetados pela erosão ou acúmulo de sedimentos. Equivalem a 4.500 km de zonas costeiras, 50% mais do que em 2003, quando foi feita a primeira medição. As regiões mais castigadas são Norte e Nordeste.


A verdadeira
Glass Beach, na Califórnia, é uma verdadeira praia de vidro. Inclusive, é proibido coletá-lo, sob pena de multa. Hoje, Glass Beach é uma atração turística. Ela surgiu nos anos 1960, quando um terreno nas proximidades virou o lixão da cidade. Com o tempo, os detritos foram sendo engolidos pelo mar. Os cacos acabaram sendo moldados pelo constante atrito gerado pela maré. Coloridos, esses seixos vítreos dão forma a uma paisagem no mínimo incomum, mas sempre um lembrete.


Em comum
A areia desse tipo de praia é tipicamente composta de quartzo – sílica e oxigênio, dióxido de silício. O vidro também. Podemos dizer que cerca de 70% de uma garrafa padrão são iguais à areia praiana. Para cada tonelada de vidro produzido, a mineração e o transporte geram quase 200 kg de resíduos. No entanto, se o vidro reciclado substituir metade das matérias-primas, o desperdício é reduzido em mais de 80%.


1 milhão de anos
O vidro é um material natural, que o engenho humano soube copiar e recriar. A obsidiana é um exemplo de vidro natural, resultado do calor intenso emitido por erupções vulcânicas, fundindo rochas e areia em vidro. Aliás, a cor do vidro depende dos minerais que são adicionados. Naturalmente, ele tende a ser esverdeado. Apesar do aspecto frágil, estudos sugerem que possa levar 1 milhão de anos para se decompor.


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