Ortopedista de Santos explica as causas e tratamentos para dor na lombar

Postura inadequada e excesso de esforço físico são alguns desencadeadores; saiba mais

Por: Cláudia Duarte Cunha - Colaboradora  -  15/01/23  -  18:34
Quase todo mundo, se já não teve, terá um episódio de travamento da coluna na vida
Quase todo mundo, se já não teve, terá um episódio de travamento da coluna na vida   Foto: Adobe Stock

Um dos principais motivos que levam as pessoas a procurar um médico, a lombalgia pode estar relacionada a posturas inadequadas, excesso de esforço físico ou até a causas mais sérias. O ortopedista Nicola Carneiro, mestre pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia e da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Coluna, fala sobre os fatores desencadeantes e as inúmeras possibilidades de tratamento.


A dor lombar tem sempre relação com algo que vai mal na coluna?


A lombalgia é qualquer dor que acomete a região lombar, podendo ou não ter relação com a coluna. Problemas como cálculo renal, endometriose e doenças intestinais podem se manifestar, entre outros sintomas, com a lombalgia. Ela também pode estar relacionada com a compressão dos nervos (ciático), alterações degenerativas que surgem com o passar do tempo (artrose) e causas mais sérias que acometem a coluna, como tumores metastáticos, além de reumatismos e doenças autoimunes.


Essa é uma das dores mais frequentes?


Ela figura como a segunda causa que faz com que pessoas procurem pronto-atendimento, ficando atrás apenas da IVAS (infecções de vias aéreas superiores).


Quais os principais motivos da dor lombar?


Em primeiro lugar, estão as lombalgias mecanoposturais, ou seja, relacionadas com postura inadequada e/ou esforços repetitivos. São dores que aparecem na região lombar quando a pessoa exige dessa área além do que ela suporta, ou seja, uma vez que a coluna é levada além do limite dela, a dor vem. E muitas vezes com bastante intensidade. Seja por postura inadequada, estresse, má posição prolongada no trabalho, esforços físicos, domésticos ou mesmo dormir de mau jeito ou em colchão inadequado. No entanto, existem várias outras causas de dor lombar relacionadas a discopatias degenerativas (desgaste progressivo dos discos intervertebrais), desgaste na coluna (espondilose) e compressões radiculares (raízes nervosas comprimidas por hérnia de disco, estenose de canal – estreitamento do canal vertebral –, estenose de forames vertebrais).


Como se faz o diagnóstico?


O diagnóstico é realizado depois de uma anamnese bem feita, por meio de exame físico e dos de imagens (raios X, ressonância magnética, além de uma tomografia computadorizada).


Existem maneiras de prevenir essa dor, que pode ser incapacitante?


Por via de regra, o tratamento das lombalgias é dividido em duas etapas. Primeiro, deve-se sair da crise, com tratamentos que variam de acordo com a intensidade. No caso de dores intensas, inicialmente é feita analgesia multimodal, que nada mais é do que o combate medicamentoso da dor, com analgésicos convencionais, anti-inflamatórios não hormonais, anti-inflamatórios hormonais (corticoides) e até mesmo analgésicos de ação central, derivados de opioides, e relaxante muscular.

A fisioterapia analgésica e a acupuntura são importantes coadjuvantes nessa fase. Depois do alívio da dor, seguimos para a segunda etapa do tratamento, que consiste em um processo de reabilitação muscular, que vai prevenir novas crises. Cinesioterapia (alongamentos e reeducação postural), RPG, pilates, quiropraxia, natação, hidroginástica, treino funcional, musculação e massagem são opções.


Todo mundo acaba tendo, pelo menos, um episódio de dor lombar na vida?


A lombalgia aguda é muito comum. Quase todo mundo, se já não teve, terá um episódio de travamento de coluna.


Essa dor pode se tornar crônica?


Qualquer dor que incomode por mais de três meses é considerada crônica. Portanto, a lombalgia crônica acaba sendo muito comum. Para esses casos, sempre existem recursos que são utilizados de acordo com o diagnóstico de cada paciente.


E pode sinalizar um problema mais sério?


Dor de alta intensidade, sem resposta aos medicamentos, dor noturna que acorda a pessoa à noite, queda de estado geral ou perda de peso e febre associada são sinais de alerta que necessitam de investigação. Dor irradiada e relacionada à compressão de nervos tem potencial de ser extremamente forte e pode necessitar de intervenções mais invasivas. Atualmente, existem terapias percutâneas (bloqueio/infiltrações) para alívio dos sintomas e também cirurgias endoscópicas, que geram menos lesão da musculatura que reveste a coluna e permitem recuperação mais rápida. Vale reforçar que cirurgias convencionais, que consistem em descompressão e artrodese da coluna (cirurgia para estabilizar o movimento de duas ou mais vértebras) são o último recurso de tratamento. No entanto, quando bem indicado, esse tipo de procedimento costuma ter excelentes resultados.


Como, em geral, é o tratamento?


Ele depende do diagnóstico. Existem dores intratáveis e situações que evoluem com quadro neurológico progressivo. Nesses casos, não há muito espaço para alternativas e a cirurgia se faz necessária. Agora, para os problemas menores, existe um leque grande de alternativas e a decisão da conduta cada vez mais é compartilhada, ou seja, o médico oferece as opções para o paciente e a decisão é conjunta.


Qual o papel da atividade física na melhora ou piora do quadro?


Antigamente, a atividade física era contraindicada para pessoas que tinham “problema” de coluna. Atualmente, esse conceito mudou completamente e a atividade física possui um papel importantíssimo no tratamento das mais diversas causas de lombalgias. A atividade física, com indicação médica e supervisionada por um especialista, é fundamental para a reabilitação muscular e garante mais agilidade, independência e uma boa qualidade de vida, principalmente com o avanço da idade. Com o passar dos anos, existe a tendência de desgaste articular e atrofia muscular. Os exercícios fazem com que o processo de envelhecimento natural seja mais prazeroso e indolor.


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