Lilia Cabral traz para Santos peça em que contracena com a filha

Em entrevista, atriz fala da ligação com a Cidade e dos 44 anos de carreira

Por: Stevens Standke  -  26/06/22  -  07:29
Atualizado em 26/06/22 - 12:07
Na peça A Lista, a atriz contracena com a sua filha, Giulia
Na peça A Lista, a atriz contracena com a sua filha, Giulia   Foto: Pino gomes/ divulgação

Uma das grandes atrizes brasileiras, Lilia Cabral quer, por meio da sua arte, tocar as pessoas. E é justamente esse efeito que ela acredita que a peça A Lista terá no público da região, quando apresentar a montagem no próximo sábado, às 21 horas, e no domingo que vem, às 19 horas, no Teatro Municipal Braz Cubas, em Santos. O espetáculo ainda permite a Lilia dividir o palco com a filha, Giulia Bertolli, de 25 anos. Elas interpretam, respectivamente, uma aposentada e uma jovem vizinha que, juntas, enfrentam e decifram a solidão de cada uma – as entradas custam R$ 100, no site www.ingressodigital.com, e membros do Clube do Assinante A Tribuna têm 20% de desconto na compra dos bilhetes. No bate-papo a seguir, Lilian, que completa 65 anos em 13 de julho, nos leva por uma viagem pelas memórias da sua consagrada carreira e fala dos seus novos projetos e do afeto que tem pela Baixada Santista.


Como é a sensação de voltar a se apresentar em Santos depois de tanto tempo?
Eu fui com duas peças para a Cidade. A última foi Divã, em 2006. Desde então, não voltei mais. É muito gostoso retornar, pois tenho um monte de histórias com Santos. Como sou paulistana, na minha infância e em boa parte da minha adolescência, passei várias férias e carnavais na região. Ou a gente ficava no apartamento do meu tio em Santos e curtia a praia do Gonzaga até o último minuto, ou então ia para São Vicente, onde ficávamos em um hotel de frente para a praia. Às vezes, íamos para Praia Grande, para a casa da avó de um primo. Fui menos para Guarujá, mas lembro que a vista da cidade ecoava em mim, alimentava os meus olhos. Eu fazia questão de voltar queimada para São Paulo (risos). As férias na Baixada Santista sempre foram muito esperadas, porque, como eu era bem estudiosa, o céu e o mar da região me traziam a paz de que eu realmente precisava.


Você tem alguma passagem curiosa na Baixada?
Certa vez, a minha mãe fez um biquíni de crochê para mim. Ele era a coisa mais linda, só que eu não sabia que o crochê cedia quando a gente entra na água e tive que voltar correndo para o hotel, para trocar de roupa (risos). Como eu me diverti na região! Em um Carnaval na época da Escola de Arte Dramática (da Universidade de São Paulo, USP), fui com uma turma para Praia Grande. Nós ficamos em uma casa onde cabiam cinco pessoas com conforto, mas que, no final das contas, tinha 15. Outra recordação que guardo é a da inauguração da Imigrantes. Foi um acontecimento! Todo mundo saiu de São Paulo para a Baixada ao mesmo tempo, inclusive a minha família. Que cilada! Imagina como foi...


Na peça A Lista, você contracena com a sua filha, Giulia, mas não é a primeira vez que trabalham juntas.
É verdade. Quando eu fiz a novela O Sétimo Guardião (entre 2018 e 2019), a Giulia participou interpretando a minha personagem mais nova e, inclusive, houve uma sequência em que nós duas interagíamos uma com a outra. A gente se dá superbem em cena. Somos muito cúmplices.


Alguma vez, não conseguiu segurar a emoção de estar dividindo o palco com a Giulia?
Isso já aconteceu várias vezes. Algo marcante foi que, como a peça estreou on-line, devido à pandemia, demorou para a gente se adaptar aquele contexto todo novo, de fazer o espetáculo para quatro câmeras, sem ter a resposta do público. Quando passamos a realizar sessões com pessoas na plateia, jamais achei que, em plena pandemia, lotaríamos o Teatro Riachuelo, no Rio de Janeiro, pois ele tem mil lugares. Foi a primeira apresentação da Giulia para um público tão grande. Lembro que nos olhamos... Éramos mãe e filha desesperadas para controlar a emoção. Esse momento foi impactante.


A Giulia sempre mostrou inclinação para ser atriz?
Com 13, 14 anos, ela quis estudar interpretação no Tablado, no Rio. Mas, desde os 3 anos, me acompanhava no teatro, no cinema, na TV. A Giulia nunca ficou entediada, mesmo quando eu precisava repetir uma cena 20 vezes. Também viu inúmeras vezes todas as minhas peças. E como gosta de escrever, ela ainda foi fazer Letras. Acho que o ator precisa ser culto; ele não pode parar de estudar, nem pensar que já sabe tudo. Não me preocupo com a Giulia nesse sentido.


Que legal que você, mesmo com 44 anos de carreira, procura não se acomodar.
Tento sempre me aprimorar. Cada dia é diferente, e se eu não me abrir aos novos conhecimentos e oportunidades que surgem, vou emburrecer, ficar no automático. Sem falar que não consigo atuar só ficando na técnica. Penso demais no modelo que gostaria de ser para os outros, sabe? Mas não tenho a necessidade de estar sempre por cima, até porque a vida não funciona desse jeito. Todo dia, a gente pode melhorar, aprender algo. Isso não significa que não tenha noção do meu valor. O que quero é ser uma referência de forma muito verdadeira.


Você se tornou atriz escondida, contra a vontade dos seus pais. Quando conquistou sucesso e reconhecimento, teve a chance de conversar com eles sobre isso?
Não houve essa oportunidade, pois eles morreram sem ver o meu sucesso de verdade, com as pessoas comentando muito sobre um personagem ou projeto que fiz. Após a novela Hipertensão (1986), assinei o meu primeiro contrato longo com a Rede Globo. Lembro que a minha mãe morreu em 1987, pouco tempo depois de saber dessa minha conquista. Ela já andava bastante doente, parecia que estava aguardando eu conseguir uma segurança na profissão. Fiquei bastante abalada ao perdê-la. Já o meu pai assistiu ao meu monólogo Solteira, Casada, Viúva, Divorciada em 1993 e morreu em seguida, por complicações da diabetes. Eu sou católica, rezo muito e acredito que tenho uma proteção lá no céu. Às vezes, parece que uma mão me carrega e indica o caminho que devo seguir. Os meus pais também não tiveram a chance de conhecer a Giulia, uma pena!


Tem projetos em vista na televisão e no cinema?
Eu vou voltar para a tevê somente no ano que vem. Estou muito orgulhosa do longa-metragem que acabei de fazer, uma comédia bem cuidada que tem o nome provisório de Tire Cinco Cartas e que vai estrear nas salas de cinema no próximo semestre. No filme, eu interpreto uma mulher que sonha em ser uma grande cantora, mas que não leva nenhum jeito para isso. Ela, então, se torna taróloga no Rio e, de repente, precisa voltar fugida para o Maranhão, sua terra natal. Também estou lutando para conseguir produzir o roteiro que a Giulia escreveu, chamado Me Leve para Ver o Mar. Gosto de pegar uma coisa pequenininha e fazê-la evoluir. Você pode me dar uma caixa de fósforos que eu não vou achar ruim, porque, de alguma forma, vou transformar aquilo em algo legal.


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