Efeito Lupa: defeitos ficam mais evidentes na pandemia

No isolamento, muita gente se viu dando destaque exagerado às falhas próprias e alheias

Por: Fernanda Lopes  -  23/01/22  -  10:54
De acordo com Cláudia, se a pessoa não quer fazer análise, ela pode se auto-observar.
De acordo com Cláudia, se a pessoa não quer fazer análise, ela pode se auto-observar.   Foto: Adobe Stock

Com a pandemia, ficamos mais tempo dentro de casa, sozinhos ou com poucas pessoas ao redor. Consequentemente, nossos próprios defeitos e de quem mora conosco parecem ter ganhado um efeito de lupa – como se estivéssemos em um quarto de espelhos, onde tudo parece ampliado.


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“Para pessoas que estavam acostumadas a viver no automático, quando se viram com os familiares em casa, acabaram tendo as relações intensificadas. Algumas perceberam que escolheram a pessoa certa para compartilhar a vida e outras conheceram de fato quem estava ao seu lado, pois, antes, passavam poucas horas do dia ou da semana juntas”, exemplifica a psicanalista Cláudia Ribeiro Martins.


Há ainda os que ficaram sozinhos e viram, com o isolamento, seu “carrasco interno” mais intensificado. “Quando esse superego ou carrasco interno foi colocado na criação (por pai, mãe, irmãos...), criando um modelo de persona, as idealizações podem se intensificar, levando a pessoa a nunca se achar suficiente e sempre se frustrar”.


O desafio, então, é suavizar a crítica interna – e, assim, fazer as pazes consigo mesmo, sentir-se melhor nos ambientes. Todas as pessoas lutam (ou já lutaram) contra aquela voz interna que fica “cornetando” que você é todo errado ou que não consegue ser do jeito que os outros esperam, fazendo uma cobrança exagerada.


“Tudo passa pelo autoconhecimento. Se a pessoa não quer fazer análise, ela pode se auto-observar. Tentar enxergar o que foi positivo, legal, no dia. São perguntas que temos que nos fazer diariamente, estarmos presentes na nossa própria vida. Tem uma frase que eu gosto muito, que é ‘o mais importante não é o que o outro faz com você, mas o que você faz com o que o outro faz com você’”.


Dê uma desligada
Uma das formas para refletir sobre suas escolhas é se desligar um pouco. A meditação surge como uma opção. “Também se deve descobrir e valorizar suas virtudes. Identificar suas forças pessoais. Geralmente, as coisas que te trazem muito prazer estão associadas a seus valores”.


Cláudia dá um exemplo: “Quando coloca energia nas coisas e se sente muito bem, você pode ter a virtude do entusiasmo e agregar coisas boas ao mundo. O problema é quando você quer ter todas as boas qualidades e se espelha no outro. Não dá para ser perfeito. Perceba o seu brilho e observe o outro com generosidade”. Um dos caminhos para encontrar e identificar suas forças é pedir a opinião de amigos, familiares e pessoas próximas. “Mas tem que ser de peito aberto, para receber as coisas bacanas e também o que é preciso melhorar”.


E essa percepção pode ser incluída nas relações. “Você tem que pensar: ‘Se eu estou casado com essa pessoa, é porque escolho isso todo dia. Se você acha que morar com ela é um saco, lembre-se de que essa escolha é sua. Você pode ressignificar, fazer um balanço e perceber as coisas boas, valorizar a pessoa ao lado. Há sempre um caminho a escolher”.


Anote algumas dicas que podem ajudar a se sentir melhor consigo e nas suas relações interpessoais:



- Procure se conhecer melhor. Esse é um exercício para ser praticado a vida toda, sendo possível se surpreender com os próprios pensamentos. Tente perceber as suas virtudes, as suas forças e as valorize.


- Seja amigável e bondoso consigo. E não apenas com os outros. Para deixar de ser tirano consigo, comece compreendendo o seguinte aspecto: a perfeição não existe.


- Olhe, de verdade, para seus pontos fortes. Vale anotar tudo em que é bom, as suas qualidades e habilidades. Você ainda pode pedir ajuda às pessoas que te amam, e aceite as sugestões do que pode ser melhorado.


- Seja bondoso também com o outro. Da mesma forma que a pandemia mexe com você, ela afeta os outros. Por isso, tenha um olhar gentil e procure valorizar os pontos fortes de quem vive com você.


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