'Construí uma história linda', afirma Danton Mello, que completa 40 anos de carreira

No ar na novela Um Lugar ao Sol, o ator fala da relação com o irmão, Selton Mello, das filhas e sobre diabetes

Por: Stevens Standke  -  23/01/22  -  10:48
Danton Mello, 46 anos de vida e 40 de carreira
Danton Mello, 46 anos de vida e 40 de carreira   Foto: Neto Ponte/Divulgação

Um cara do bem, tranquilo e precoce. Danton Mello faz parte de um time seleto: de pessoas que, com 46 anos de idade, têm uma carreira bem-sucedida... de 40 anos! Natural de Passos, Minas Gerais, o ator pode ser conferido na novela global das nove, Um Lugar ao Sol, no papel de Mateus. E até o fim do ano, vai marcar presença com frequência no cinema: nos filmes Predestinado: Arigó e o Espírito do Dr. Fritz e Ninguém é de Ninguém. Sem falar da animação nacional Chef Jack, em que faz um outro tipo de função recorrente na sua trajetória: a de dublador. “Antes de Predestinado e de Ninguém é de Ninguém, eu era ateu. Só que esses dois trabalhos me trouxeram uma série de questionamentos, de forma que, hoje, não sei mais como me defino em termos de fé”, afirma Danton no bate-papo.


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A seguir, o mineiro conta ainda como administra a saudade das filhas Luísa e Alice, que moram nos Estados Unidos, e fala da relação com o irmão, o ator e diretor Selton Mello, do engajamento em campanha sobre a diabetes e da paixão por tatuagem. “Tenho uma lista das que quero fazer, só que não consigo”, diz.


Por causa da pandemia, Um Lugar ao Sol teve todos os seus capítulos gravados antes de estrear. O que achou dessa experiência?

Foi tudo muito diferente, porque novela costuma ser uma obra aberta. De modo que, se um ator brilha, o papel dele cresce, enquanto outros personagens vão diminuindo com o passar dos capítulos. Dessa vez, não houve isso. A dinâmica das gravações também foi bem diferente. Normalmente, levaríamos dez meses para fazer a novela; em Um Lugar ao Sol, demoramos quase dois anos. Apesar de termos a mesma carga horária de sempre, fazíamos no máximo quatro, cinco cenas por dia, devido aos protocolos sanitários super-rígidos. Sendo que, antes da pandemia, rodávamos quase 30 cenas por dia. Tem outro aspecto que mudou bastante: quando a gente grava uma novela, costuma conviver nos bastidores com o elenco inteiro, independentemente de contracenar ou não com determinado colega. Não aconteceu nada disso. Cada um tinha um camarim só seu e saía dele apenas para gravar as cenas. Os atores passaram a se trocar sozinhos, sem auxílio dos camareiros. Vi, inclusive, muitas mulheres se maquiando sozinhas. E as cenas externas foram cortadas e adaptadas para o estúdio. Cidades cenográficas que estavam paradas foram usadas por causa disso.


Como tem sido a repercussão do seu personagem, o Mateus?

Está sendo bem positiva. Vejo uma torcida por ele. Eu gosto muito do Mateus. Ele é um cara humano, íntegro, correto e amoroso. Um grande parceiro, que se joga totalmente na relação com a Lara (Andréia Horta) e abre mão de viver no interior por causa dela. Sem falar que a ajuda na busca maluca de entender o que ocorreu com o ex-namorado. Mas a Lara não tem a mesma troca com o Mateus, e é difícil uma relação dar certo quando os dois não jogam junto.

Tem projetos em paralelo à televisão?

Este ano será de bastante cinema para mim. Estou feliz demais com isso. Em abril, deve ser lançado Predestinado: Arigó e o Espírito do Dr. Fritz, que era para ter estreado em julho de 2020 e acabou adiado por causa da pandemia. Agora, em dezembro, rodei outro filme, que está programado para o fim do ano: Ninguém é de Ninguém, adaptação de um livro da Zibia Gasparetto, com um personagem diferente de tudo o que fiz – um cara machista, abusador, desprezível. E no meio do ano, vou lançar a animação Chef Jack, que foi feita por um estúdio de Belo Horizonte. Ela gira em torno de um chef meio arrogante que participa de um reality de culinária e tem como parceiro um garoto que é fã dele. Eu já dublei várias animações, mas essa é a primeira nacional que faço.


Predestinado e Ninguém é de Ninguém têm temática espírita. Você é religioso?

Antes desses filmes, eu era ateu. Só que esses dois trabalhos me trouxeram uma série de questionamentos, de forma que, hoje, não sei mais como me defino em termos de fé. O espiritismo me fascina, mas não sigo nenhuma religião e estou em busca de respostas. Tenho me aprofundado nesse tema. O fato é que, no dia a dia, sou um cara que procura praticar o bem.

Como é a sensação de completar 40 anos de carreira e ter 46 anos de idade?

Eu comecei muito cedo, mas me acho superjovem e estou cheio de energia. Continuo em busca de desafios, de aprendizados. Olho para trás e vejo que já fiz tanta coisa, mas, a cada novo projeto, bate um nervosismo, como se fosse o meu primeiro trabalho. Construí uma história linda, tenho orgulho de tudo que já fiz na televisão, no cinema e no teatro.

Conseguiu ter infância e adolescência “normais” ou precisou se privar de algo?

Já pensei bastante a respeito disso e não sinto falta de nada, porque sempre levei o trabalho de uma maneira bem leve. Comecei fazendo comerciais, depois vieram as novelas e eu conseguia dividir as coisas. Não deixava de ter a hora de brincar, viajar, curtir com os amigos, ir à praia... Não me arrependo de nada. Algo bom de eu ter começado pequeno é que amadureci mais cedo e logo tive um senso de responsabilidade, para a minha vida como um todo.

Você e o Selton (Mello, irmão) têm vontade de trabalhar juntos de novo?

A gente fala muito sobre isso. Já fizemos alguns trabalhos juntos bem legais e, para retomarmos essa parceria, tem que ser algo especial, como o que aconteceu no nosso encontro na série Sessão de Terapia. Nós torcemos um pelo outro e nos ajudamos. Estamos toda hora em contato. Um consulta o outro sobre novos projetos, decisões a tomar etc.

As suas duas filhas moram nos Estados Unidos. Como lida com a distância, ainda mais agora na pandemia?

Hoje, estou mais tranquilo, porque elas já se vacinaram – antes de mim, inclusive. É engraçado como em tudo na vida eu precisei ser precoce. A gente sabe que cria os filhos para o mundo e que, uma hora, eles vão embora, mas tive que cortar o “cordão umbilical” cedo, pois as minhas filhas foram morar nos EUA com 11 e 13 anos. A mais velha, a Luísa, já tem quase 21. Sofri demais de saudade. Toda brecha entre os trabalhos, eu viajava para os Estados Unidos. Como a minha família é maravilhosa e bem unida, recebi bastante ajuda para conseguir lidar com a distância das minhas filhas. Me orgulho da vida que as duas estão construindo lá fora. Elas já estão na faculdade.

Você tatuou a bandeira de Minas na perna. É uma declaração de amor à sua terra natal?

Sim. Eu nasci em Passos e logo fui para São Paulo. Mas me sinto muito bem em Minas, lá é a minha raiz. Essa foi a minha primeira tatuagem, já com 40 anos. Tenho uma lista das que quero fazer, só que não consigo.

Atualmente, você é um dos embaixadores da campanha sobre a prevenção e os cuidados com a diabetes. Como é a sua relação com a doença?

Descobri que era diabético há oito anos, durante os exames de check-up que faço anualmente. Apesar de ter mãe e avô com diabetes, não deixou de ser um susto. Costumo dizer que cuido muito bem dos meus personagens, mas, com o diagnóstico, percebi que não estava cuidando da minha saúde como deveria. Com o tempo, comecei a ser chamado para dar depoimento em congressos, participar de lives e acabei abraçando a causa. Quero ajudar a levar a mensagem de que é possível ter diabetes e qualidade de vida.

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