Quem não amaria ter o poder de acabar com a covid-19? Nesta pandemia, ninguém pode resolver sozinho essa terrível realidade externa. No entanto, pode fazer algo maravilhoso por si mesmo, que é silenciar o seu crítico interno - e, assim, fazer as pazes consigo mesmo, sentir-se melhor no seu ambiente. Todas as pessoas lutam (ou já lutaram) contra aquela voz interna que fica ‘cornetando’ que você é todo errado ou que não consegue ser do jeito que os outros esperam.
Não bastassem todas as dores que o novo coronavírus trouxe,uma estudante de marketing de 22 anos, que prefere não se identificar, tem sofrido tambémpor ser grande juíza de si mesma. Ela quer calar sua voz interiorque fica criticando-a por não alcançar as expectativas dos familiares que estão sob o mesmo teto há mais de 100 dias. Por exemplo, o pai não diz, mas demonstra achar que ela é preguiçosa, e não tranquila,toda vez que a vê recostada nacama ou no sofá; e isso a magoa.
“Quando ouço que a genteprecisa aprender algo de positivo com essa situação da covid, tudo que eu mais quero é aliviar essavoz interior e seguir mais leve, me aceitando como eu sou. Parece ainda mais difícil agradar osoutros, quando estou dormindo, acordando, almoçando e jantando junto... Como aliviar essa voz interior e seguir mais leve, me aceitando?”, quer saber essamoça, solteira, que só estuda atualmente.
Realmente a situação atual atingiu a vida de todos, com modificações profundas nas relações de trabalho, diversão, estudo, lazer - e, principalmente, familiares e consigo mesmo.No senso comum as mudanças poderiam ser descritas como100% negativas, mas o médico psiquiatra e psicogeriatraEduardo Calmon de Mouraorienta parar para refletir sobre esses 100%.
Durante a quarentena milhõesde pessoas foram obrigadas à ficarem em casa. “Obviamente, sermos obrigados a algo não é gostoso, mas será que, sem uma determinação, pararíamos um minuto a mais em casa comnossos familiares?”, provoca ele, alertando que:
Acrescente que, neste ‘quarto de espelhos’, estão também os familiares que vivem sob o mesmo teto, com os respectivos reflexos. “Se não gosto do que vejo, e não quero me julgar, me sobra somente criticar o os meus conviventes. Em um primeiro momento, se todos fazem isso, todas as críticas ficam cruzadas... e nada melhora”, continua o médico, avisando que sobe, então, uma tensão, quefacilita conflitos.
Caótica essa cena, não? Mas, nas palavras do médico, “e se pararmos de escondermos de nós mesmos?” Olhando com cuidado para si, uma pessoa pode perceber traços de beleza e virtudes em seu jeito de ser. Continuando a se olhar, com calma e serenidade, provavelmente encontrará ainda mais beleza e qualidades. “Em um passo de evolução, abrirá uma possibilidade de modificar-se nas características que não aprecia. É como se, nessa condição, fôssemos ‘convocados’a pensar em mudar o que não gostamos em nós mesmos”.
Da mesma forma, o médico incentiva olhar com cuidado paraos familiares e buscar também apreciar qualidades que, no tempo apressado de antes da quarentena, não se percebia nesses convives. Melhor ainda é contar a eles o que está vendo de positivo (neles e em si). “Críticas podem surgir. Mas, nesse contexto de veneração,serão entendidas como aceno a características a serem melhoradas - e não mais como desvalorização”, indica dr. Eduardo, justificandoque deixam de ser perversas por passarem a ser o que se chama de conselhos construtivos.
O especialista crê que, assim, a alma se tranquiliza e a saúde mental se fortalece. E mais: por aliviarem os julgamentos, quando esse grupo familiar sair de casa para o mundo, ao final da quarentena, deverá continuar apreciadores das qualidades humanas em casa e fora dela. “Enquanto isso, aos ‘juízes e julgados’, os consultórios de psiquiatria e psicologia estarão abertos...”
A Academia da Autoestima, idealizada pela terapeuta integrativa Marina Aniya, tem publicado vários conteúdos online para incentivar a autoaceitação nesses tempos difíceis. Em sua página no Pinterest, divulgou quatro maneiras básicas de aproveitar esta quarentena para evoluir nesse sentido: