Boa Mesa: A importância do consumo responsável

É preciso respeitar a sazonalidade dos pescados, para que não haja sobrepesca, assim como fazemos com as frutas da época

Por: Da Redação  -  02/04/21  -  21:01
Assim como muitas frutas têm as estações do ano, o peixe também
Assim como muitas frutas têm as estações do ano, o peixe também   Foto: Marcelo dos Santos/Divulgação

Os pesquisadores do Instituto de Pesca defendem que junto com um aumento da informação do consumidor sobre os pescados, tende a surgir uma maior preocupação com as origens e características de cada produto, o que se relaciona à tendência do consumo responsável, que engloba aspectos ambientais, sociais e econômicos.


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“Quando se fala de pesca responsável, se refere às boas práticas na atividade em si: não praticar pesca predatória, respeitar o defeso, evitar espécies que estão em listas de ameaçadas, fazer a escolha correta de petrechos, buscar reduzir o rejeito na pesca”, diz a pesquisadora do IP, Ingrid. Já o consumo responsável, pormenoriza, envolve diretamente o consumidor, relacionando-o com esses preceitos. “É o conhecimento de que existem espécies que estão ameaçadas de extinção que ele deve preterir na hora da compra, também em relação ao tamanho dos peixes que são comercializados, que deve obedecer a certas regras, entre outras coisas”, complementa.


Já Erika levanta também a questão da sazonalidade de cada espécie e faz uma analogia às frutas da época. “Assim como muitas frutas têm as estações do ano, o peixe também, pois tem épocas em que está no defeso e não pode ser capturado e tem épocas em que está disponível e é mais facilmente pescado", detalha. Conforme elucida, a observância à essa sazonalidade está relacionada tanto à manutenção dos estoques pesqueiros quanto à qualidade e preço do que está sendo vendido.


Saúde


Especificamente quanto aos valores encontrados, Erika menciona que esse ainda é um empecilho para maior aceitação do pescado. No entanto, acredita estar havendo melhoras no cenário. “Ainda escutamos do consumidor que o pescado é muito caro, e com menor rendimento quando comparado à carne bovina, por exemplo. Entretanto, como nesse ano tivemos uma alta no preço de algumas carnes, o peixe ficou mais competitivo e, assim, o consumidor que não levava esse produto para casa por causa do preço, começou a levar”, assegura.


De outro lado, a especialista credita essa maior procura a um apelo à saudabilidade do pescado, fazendo com que as pessoas levem em conta esse valor agregado num momento de preocupação com a saúde. No que diz respeito ao preço, garantem as especialistas, os Penacos são um caminho interessante, por serem espécies que frequentemente são pescadas em quantidade e acabam descartadas, por que a indústria não vê valor comercial.


“Consumo responsável tem muito a ver com isso: reconhecer a procedência do pescado e relacionar a uma comunidade que esteja trabalhando em regime de economia familiar, dar preferência a este tipo de processo”.


Chefs e restaurantes engajados


Já há restaurantes que trabalham com esse conceito, trazendo ao consumidor o conhecimento de que o pescado que ele está comendo foi obtido pelo trabalho de determinada comunidade, como uma atividade tradicional. Entre eles está o Soutu, do chef Fabio Leal, o Made e Paru, de Dario Costa, o Fim Fim, de Felipe Cruz e José Rosa, entre outros. Para Ingrid, isso é um processo educativo: levar ao consumidor uma preocupação que não está internalizada. “Nesse nosso universo de consumo, muitas vezes olhamos para os produtos e não enxergamos quem produziu. Existe uma dissociação entre aquilo que nos nutre, o alimento, e aquelas pessoas que o produziram”, pondera a pesquisadora.


Consumo


Levando em conta todos os aspectos que envolvem o consumo de pescado e a importância que adquire, a Secretaria de Agricultura realiza ações de pesquisa e extensão voltadas ao fomento da cadeia, e já confere um olhar próprio para os Penacos. "Nós participamos de diversos eventos levando a discussão dos Penacos enquanto uma pauta importante para o consumo sustentável e, consequentemente, o desenvolvimento sustentável", aponta Erika, citando o exemplo do Simpósio de Controle de Qualidade do Pescado (Simcope), que ocorre bianualmente. “Muita gente passou a nos buscar interessada no tema”, anima-se.


“Nós participamos de alguns fóruns na nossa região e levantamos frequentemente esse debate: a Baixada Santista é produtora de produtos de origem animal, o peixe está em todo lado, tem-se toda uma cultura da pesca que está estabelecida na região”, agrega Ingrid.


O IP, juntamente com a Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS), também da Secretaria, integra o Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Baixada Santista (Condesb), que possui uma câmara temática sobre agricultura, pesca e economia solidária, e está elaborando projetos participativos com comunidades tradicionais, debatendo as oportunidades que podem ser geradas com a pesca artesanal.


“Percebemos que o termo Penaco precisa ser popularizado e precisamos ajudar a promover a cultura do consumo dessas espécies. É também uma função nossa, no IP, trazer um pouco dessa preocupação.”, enfatiza Ingrid. “Isso, casado com a gastronomia, os restaurantes, pode trazer resultados muito bons”, conclui.


Receitas


Lombinho de peixe branco com vinagrete de salsão , chef Fabio Leal (Soutu)


Ingredientes : 1 peixe cabrinha cortado em 2 filés do lombo; 1 limão cravo em suco; 1/2 tomate italiano sem sementes bem picadinho; 1/2 unid. cebola roxa, bem picadinha; 20 folhas de salsinha bem picadinhas; 1/2 talo de salsão, bem picadinho; 1/2 colher de pimenta calabresa moída e sal rosa moído.


Preparo: destacar os lombinhos do pescado em forma de tiras. Misturar os demais ingredientes, exceto a pimenta e reservar por 10 minutos. Dispor o pescado e delicadamente colocar o tempero por cima, finalizar com a pimenta e servir.



Pescado Tamboril ensopado com leite de coco, especiarias e cúrcuma da terra, chef Fabio Leal (Soutu)


Ingredientes : 800 g de pescado tamboril cortado em cubos; 50 g de manteiga clarificada; 1 cebola branca bem picada; 2 dentes de alho picado; 1 colher (sopa) de gengibre ralado; 1 colher (café) garam massala; 1 pimenta dedo-de-moça bem picada; 1 limão Tahiti em suco; 300 ml de leite de coco; sal a gosto; salsinha picada a gosto.


Preparo: marinar o pescado por máximo 20 minutos no suco de limão. Em frigideira funda derreter manteiga e refogar a cebola, alho, gengibre, a pimenta, a curcuma e a garam massala. Colocar os pescados e refogar levemente, acrescentar leite de coco e deixar cozinhar levemente. Quando incorporar, apagar o fogo e acrescentar a salsinha, mexer levemente.


Dica: garam massala é um condimento à base de cravo, canela, cardamomo, louro, pimenta e noz moscada


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