Anote a receita de Bolo de Mel, tradição do Ano Novo Judaico

Segundo a tradição, os desejos são para que o ano que se inicia seja doce

Por: Fernanda Lopes  -  18/09/20  -  21:23
Bolo de mel leva um calda doce
Bolo de mel leva um calda doce   Foto: adobe stock

A culinária faz parte da essência das tradições judaicas. Mais do que necessidade ou prazer, o alimento tem um papel simbólico e as refeições e sua preparação são repletas de rituais e regras.


E o anoitecer desta sexta será de festa e confraternização para as famílias judaicas. Ao toque do shofar, irão comemorar a véspera de ano-novo, que no judaísmo é a data da criação do mundo, o Rosh Hashaná.


A comunidade judaica inicia a partir da noite desta sexta-feira (18) as celebrações de seu ano 5781, o Ano Novo Judaico, chamado de Rosh Hashaná. Os festejos pela data acontecem até o início da noite do próximo domingo (20). Para celebrar, prepara-se um farto e simbólico jantar. E é à mesa que podemos desvendar e entender muitas das tradições e crenças desse povo .


“A culinária judaica é rica e variada, refletindo a absorção e adaptabilidade criativa do povo judeu aos lugares e sabores por onde passavam”, explica a chef do restaurante da Hebraica, Miriam Lobel.


O Tishrei é o sétimo mês do calendário hebraico, quando se tem duas grandes festas: o Rosh Hashaná e o Iom Kipur (Dia do Perdão). Este ano, as celebrações acontecem em setembro.


São festas essencialmente religiosas, que põem o indivíduo em um duplo tribunal. É um período em que o homem tenta se aproximar de seu criador. No limiar do ano-novo nos lembramos de nossos atos e pedimos que o todo poderoso nos inscreva no Livro da Vida.


Daí vem a saudação de Rosh Hashaná: Shaná Tová Tikateivu: ‘Que sejas inscritos para um ano bom e doce’.


E para que o ano seja doce, não pode faltar o mel. “Comemos pratos adocicados para que tenhamos um ano doce. Iniciamos a refeição com uma maçã banhada no mel. E nenhum dos pratos deve ser muito ácido ou picante”, explica a chef Andrea Kaufmann.


Família reunida
E é no Tishrei que a cozinha fica movimentada nas casas de tradição judaica. “Tem sempre briguinhas de quem vai preparar este ou aquele prato e onde será o jantar. Mas depois que isso é resolvido, a refeição é feita com toda a família reunida e há uma longa lista de itens a serem feitos”, conta Andrea.


“ Assim como em muitas festividades judaicas vários alimentos simbólicos são ingeridos na refeição da primeira noite de Rosh Hashaná, e um pedido é recitado para cada alimento”, explica Miriam Lobel.


Um dos itens que não pode faltar na mesa de Rosh Hashaná é o challah ou chalot, o pão em forma de trança, que no ano-novo ganha a forma redonda. “É um símbolo de continuidade e eternidade, pois o círculo não tem fim”, explica Bortman, que passou a sua receita do pão para o Boa Mesa.


Mel


O cardápio contempla muitos pratos passados de geração para geração. Segundo a tradição, os desejos são para que o ano que se inicia seja doce. Por isso, mel e frutas secas pontuam a maioria das iguarias servidas na data.


O bolo de mel leva uma calda doce, que umedece a massa firme, quase de pão. Mas as nozes, por exemplo, são evitadas. O valor numérico da palavra noz é igual ao da palavra chet, que significa pecado.


“A cozinha judaica é plural. Cada povo judeu de cada parte do globo tem suas características específicas, no entanto as cozinhas judaicas mais conhecidas aqui no Brasil são as do leste europeu-- com seus peixes defumados, muita batata e beterraba--, e a israelense --uma comida muito próxima da árabe”, explica Andrea.


RECEITA DE BOLO DE MEL


Ingredientes massa: 4 colheres (sopa) de leite aquecido; 4 colheres (sopa) de açúcar; 2 xícaras (chá) de farinha de trigo; 6 ovos; 2 tabletes de fermento biológico; 1/2 xícara (chá) de damasco picados; 1 xícara (chá) de azeite de oliva; 1/2 xícara (chá) de uva passa sem semente. Para a calda: 1 xícara (chá) de mel; 1 xícara (chá) de uva passa sem semente.


Preparo: para a massa, coloque em uma tigela o leite, o fermento e o açúcar e misture até dissolver. Tampe a tigela e deixe descansar durante 10 minutos, em local aquecido. Enquanto isso, bata por 3 minutos, na batedeira, o azeite, reservando 1 colher de sopa, e os ovos e despeje sobre o fermento. Adicione, aos poucos, a farinha de trigo peneirada. Em seguida, incorpore as uvas passas e o damasco. Com o azeite reservado, unte uma assadeira para pudim ou de bolo inglês. Coloque a massa até a metade da altura da assadeira, cubra e deixe crescer em local aquecido, por 40 minutos, ou até dobrar de volume. Leve para assar em forno médio, preaquecido, por 48 minutos, ou até que enfiando um palito, ele saia limpo.
Para a calda, misture em uma panela o mel, as uvas passas e 1 xícara (chá) de água. Leve ao fogo e cozinhe por 20 minutos, ou até obter uma calda. Retire do fogo, misture o rum e regue o bolo ainda quente.


Alimentos simbólicos
Maçã -
mergulha-se uma fatia de maçã doce no mel, A maçã é considerada pela Torá como algo prazeroso. Uma fruta nobre, ideal para ser consumida no aniversário da criação.

Challah - a challah servida em Rosh Hashaná é redonda, símbolo de continuidade e eternidade, como o círculo que não tem começo nem fim; sem ângulos, nem arestas, um pedido para um ano sem conflitos. Costuma-se mergulhar o pão no mel em vez do sal habitual, em todas as refeições desde Rosh Hashaná até o sétimo dia de Sucot.


Mel - o valor numérico da palavra "dvash" (mel) equivale ao valor de "Av Ha'Rachamim" (Pai Misericordioso): assim o mel representa a esperança de que a sentença decretada pelo Supremo Juiz seja amenizada pela Sua compaixão


Tâmara- costuma-se ingeri-la para que acabem nossos inimigos (em hebraico, yitámu, parecido com tamar).


Abóbora, moranga ou cenoura- a palavra "mern", em yidish, pode ser traduzida como "cenoura" e também como "se multipliquem". Por isto come-se cenoura - para que os méritos se multipliquem.


Romã- costuma-se ingerir em sinal para que aumentem os méritos como os caroços da romã. Há uma explicação que diz que a romã possui 613 caroços - o número das mitsvot da Torá.


Peixe- devido sua multiplicação rápida, o peixe é um símbolo de fertilidade. No jantar de Rosh Hashaná, costuma-se servir a cabeça do peixe ao dono da casa em recordação da promessa bíblica: “o senhor fará com que sejas cabeça e não cauda (...) contanto que obedeceis aos mandamentos do eterno Deus” (Deuteronômio 28:13). Representa então o desejo de se estar sempre na vanguarda.
Ingredientes que devem ser evitados- não se come nada temperado com vinagre em Rosh Hashaná para não ter um ano amargo.


Nozes-também não devem ser ingeridas nestes dias. Um dos motivos é porque as nozes provocam pigarro que pode atrapalhar as orações do dia; outro motivo é que o valor numérico da palavra egoz (noz) corresponde ao da palavra chet (pecado) sem o alef.

Fontes: chef Andrea Kauffman e site http://www.chabad.org.br.


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