Veja como se afastar de pessoas tóxicas e manipulações da vida real

Conheça as táticas usadas por Indivíduos indigestos para alimentar o conflito no cotidiano

Por: Por Alcione Herzog  -  28/02/21  -  17:05
Karol Conka faz o estilo polvo
Karol Conka faz o estilo polvo   Foto: divulgação globo

A eliminação com recorde de rejeição da rapper Karol Conká no BBB 21 foi quase uma catarse coletiva no mundo do entretenimento. Se no reality show tudo se resolve no paredão, no cotidiano comum não existe a opção de voto para “eliminar” indivíduos indigestos de nossa convivência. Afinal, os vilões da vida real estão em todos os lugares - da política ao ambiente de trabalho, da turma da faculdade aos eventos de família.


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Como lidar, então, com pessoas tóxicas? Primeiro é importante entender um pouco do perfil. Pegaremos emprestado o conceito de “pessoas-polvo”. Esses animais do mar têm vários tentáculos usados para alcançar suas presas das formas mais improváveis. Também possuem um mecanismo de soltar uma tinta preta, que deixa o ambiente nebuloso e confunde quem está perto.


Inteligentes e considerados “gênios do oceano”, os polvos também têm uma capacidade de memória mais complexa do que se imagina. Conseguem se lembrar dos locais onde há alimentos e retêm informações sobre os lugares que visitaram recentemente.


Psicólogos, como Jennifer Mather, da Universidade de Lethbridge, no Canadá, já demonstraram em suas pesquisas que os polvos têm capacidade de fazer previsões e de sequenciar ações. Algumas espécies também são consideradas “mestres do disfarce”. Podem mudar sua forma, seus movimentos e seu comportamento para serem confundidas com peixes e serpentes marinhas venenosas.


Todas essas características foram imprescindíveis para que esse molusco sobrevivesse por milhões de anos aos seus predadores. As “pessoas-polvos”, ao contrário, agem de forma semelhante apenas para se sobressair, diz a psicanalista e psicóloga Maria Cristina Dalia.


“São pessoas que gostam de ‘causar’. Elas precisam aparecer de alguma forma. Usam seus tentáculos para enredar os demais. Se alimentam do conflito que causam e dificilmente admitem que são tóxicas. Raramente procuram ajuda, pois não acreditam que precisam. São dissimuladas e se recusam a reconhecer os estragos emocionais que causam”, resume.


As relações tóxicas podem se manifestar em níveis mais leves ou mais intensos. Para Andreia (nome fictício), o processo aconteceu em meio a uma amizade com um rapaz, há oito anos.


“Eu sempre disse que ele era meu melhor amigo, meu irmão. Sempre compartilhei tudo com ele. Achava a nossa amizade linda. Porém, em uma certa época, eu e meu namorado fomos convencidos a montar um comércio com ele. Ali eu comecei a descobrir uma outra pessoa. Ele era muito manipulador. Totalmente tóxico, mas só fui descobrir depois de anos”, conta.


A desilusão a fez pensar que nunca mais poderia confiar em alguém. “Ele me afetou muito emocionalmente. Sempre me humilhava perto dos outros amigos. Dizia que era uma forma de ‘brincadeira’ e que eu tinha de ter mais


senso de humor. Mas as piadinhas de sempre não me divertiam. Só ele e os outros davam muitas risadas”.


A situação se prolongou e a jovem entendeu que precisava se afastar. A sociedade nos negócios acabou, mas o pesadelo não. “Ao perceber que eu estava me afastando, ele agiu de forma mais pesada. Me envenenou para todas as amigas e amigos em comum. Eles foram saindo de perto de mim. Ele manipulou todos. Sofri, mas hoje consigo respirar aliviada. Foi a melhor coisa ter saído de perto dele”.


O que fazer


Uma vez detectado que a relação não é saudável, o conselho é sempre o distanciamento. O problema é quando as pessoas entendem que a convivência é prejudicial, mas não têm forças para iniciar o desligamento.


A psicóloga Larissa Costa lembra que a questão dos relacionamentos abusivos é muito mais difundida hoje do que no passado. No entanto, ainda é difícil para as vítimas saberem como se desvencilhar da situação, justamente pela inteligência e capacidade de persuasão do abusador de múltiplos tentáculos.


“Esse tipo de perfil é mais comum do que pensamos e está próximo do que chamamos de transtorno de personalidade narcisista”, define Larissa.


Para a psicóloga, essas pessoas costumam ser muito carismáticas e têm um senso inflado de sua própria importância, uma profunda necessidade de atenção e admiração excessivas. Sempre vivem relacionamentos conturbados e demonstram falta de empatia pelos outros. “Mas também sabem se mostrar carinhosas e confundir suas presas. Deixam muitas marcas por onde passam e nem sempre têm a noção exata do tamanho do mal emocional que geram”.


Tanto Maria Cristina quanto Larissa enfatizam que evitar ou encerrar relacionamentos tóxicos envolve muito autoconhecimento. “É preciso se perguntar: ‘estou nesta relação por que quero ou por que estou carente e acho que não sou boa o suficiente para viver relacionamentos mais positivos?’”, propõe Larissa.


Quem costuma ser vítima dessas situações precisa abrir os olhos e parar de achar que tem de agradar a todos, diz Maria Cristina. O conselho é válido inclusive para as relações tóxicas conjugais ou que envolvam algum grau de parentesco. “Muitas pessoas acabam se submetendo a coisas que lhe ferem porque não sabem dizer não. Ou então pensam que vão conseguir salvar, mudar o outro. Há ainda os que julgam que rejeitar o abusador é uma atitude egoísta”, alerta a psicóloga.


A história da máscara de oxigênio é o exemplo clássico. No avião, em caso de despressurização, a recomendação é que cada passageiro coloque o equipamento nele próprio e só depois ajude a colocar em quem tenha alguma dificuldade. Se não for assim, todos morrem asfixiados.


“Se resguardar, se proteger é essencial, até para depois pensar em ajudar terceiros. Tem uma Karol Conká na sua vida? Corte os tentáculos, afaste-se e respire”.


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