Trio de mulheres comanda a tecnologia de Santos

Gestoras da área de TI da Prefeitura contam suas experiências e a conquista do espaço na área

Por: Por Alcione Herzog  -  07/03/21  -  14:15
Atualizado em 19/04/21 - 17:11
 Elas são responsáveis pela Tecnologia da Informação de toda Prefeitura
Elas são responsáveis pela Tecnologia da Informação de toda Prefeitura   Foto: Isabela Carrari/divulgação PMS

Enquanto no País a desigualdade de gênero na área da tecnologia é uma triste realidade, Santos comemora a predominância feminina nos cargos públicos mais altos do setor. Pela primeira vez, a Cidade ostenta um trio de gestoras num dos mais importantes setores da administração municipal: o Departamento de Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicações (Detic).


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Santos tem o maior percentual de população feminina entre os municípios brasileiros (54,2%, de acordo com o Censo 2010/IBGE), mas não foi essa maioria numérica que proporcionou a Maria Augusta Bezerra da Silva, Eliana Marinho de Souza e Geisa Bertacchini Silva ocuparem as funções estratégicas. Experiência e eficiência dentro e fora da vida pública marcam a trajetória das três.


Desde janeiro, a chefe do Detic é a analista de sistemas Maria Augusta Bezerra da Silva, 54 anos, com experiência de quase 30 anos em consultoria empresarial e direção do setor de TI em várias cidades brasileiras. “Nunca pautei minha vida profissional pelo perfil mais masculino ou feminino das empresas e da carreira. Me guiei pelas minhas próprias metas. As mulheres que têm propensão para a TI não devem se deixar influenciar pelo que os outros vão pensar”, recomenda a especialista.


Criado no final da década de 1990 como Departamento de Informática, o atual Detic já começou sendo comandado por uma mulher, Maria Cecília Capelache. Sem ele, a Cidade literalmente para. Recentemente, no final de 2020, a chefia temporária do Departamento passou para Eliana Marinho de Souza, de 66 anos, atual coordenadora de Tecnologia da Informação (Coti). A Coti responde pelo desenvolvimento e supervisão dos sistemas utilizados pelo Município, como o Processos Digitais e o CPNet (controle de processos).


Formada em matemática e especializada em programação e análise de sistemas, Eliana conta que em todos os lugares por onde passou as mulheres sempre foram respeitadas por algumas de suas habilidades essenciais em cargos de gestão. “A mulher geralmente tem mais paciência e ouve mais. Sempre tivemos muitos papeis além do trabalho, como o de cuidar dos filhos, pais ou marido, e esta versatilidade ajuda em cargos de liderança. Com a divisão das tarefas domésticas e familiares o ganho será ainda maior para todos”.


Infraestrutura


Entre as carreiras de Tecnologia há algumas com presença feminina ainda menor, como a de Desenvolvimento, com apenas 13% de mulheres, contra 87% de homens. É o que aponta o estudo “Retrato de Desigualdade de Gênero em Tecnologia”, da plataforma de recrutamento digital Revelo.


Outro nicho da carreira com minoria significativa de trabalhadoras é a de Infraestrutura, responsável pela parte de manutenção dos computadores e redes. Na Prefeitura quem comanda esse trabalho prioritário é a servidora de carreira Geisa Bertacchini Silva, de 43 anos. Ela lidera 60 pessoas, das quais 95% são homens. Juntos zelam pelo bom funcionamento de milhares de terminais de rede.


Responsável pela Coordenadoria de Engenharia da Informação (Coengi), Geisa tem formação em gestão de RH, Direito do Trabalho e experiência em Ciência da Computação. Desde 2018 no Departamento de Tecnologia da Informação, a servidora já atuou na Seção de Benefícios e Direitos da Secretaria de Gestão e ajudou a implementar os processos digitais neste setor em 2015.


Para avançar foram necessários foco e autoconfiança. “Me concentrei no que eu queria, mesmo sabendo que poderia haver dúvidas de terceiros sobre minha capacidade. Sempre tem os que julgam a mulher bem-sucedida de subir na carreira por outros meios, que não os diretamente ligados ao desempenho profissional”.


Para Geisa, uma vez que as mulheres assumem postos de nível hierárquico superior, logo chegam os testes práticos e psicológicos. “Certas demandas parecem ser enviadas só para medir a nossa capacidade técnica. Como se dissessem: ‘deixa eu ver se ela é boa mesmo’”, afirma, lembrando que é preciso ter equilíbrio e jogo de cintura.


Necessários também é entender que o valor das profissionais está justamente em suas especificidades. Maria Cristina pondera que na ânsia de se equipararem aos seus pares homens, algumas mulheres acabam imitando o jeito deles trabalharem. Na minha avaliação isso é um erro. Temos nossas habilidades e competências e precisamos valorizá-las. Esse é nosso diferencial e esse é o caminho para a igualdade no reconhecimento profissional”.


Para a mais experiente do trio há muito mais motivos para celebrar do que para lamentar. “A mulher deve estar onde ela quiser”, diz Eliana. “Sofri, sim, e vi colegas sofrerem com preconceitos e pressão dentro e fora das empresas. A dupla ou tripla jornada ainda é um problema, mas o cenário já está mudando”.


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