Transição da Educação Infantil para Fundamental requer cuidados

Escolas preparam medidas para ajudar os alunos

Por: Sheila Almeida  -  25/10/20  -  15:51
As crianças devem ser preparadas gradualmente para a transição
As crianças devem ser preparadas gradualmente para a transição   Foto: Divulgação/Adobe Stock

Quem não se lembra da primeira vez que mudou de fase escolar, esperou a festa de formatura ou recebeu o primeiro “canudo”? Ritos representam o fim de uma etapa e o início de outra. Se adolescentes já criam essa expectativa, imagine crianças. Mas muitas delas, por conta da necessidade de isolamento social, estão passando 2020 tendo aulas apenas on-line.  


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Independentemente disso, elas terão que transitar entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental – passando da fase lúdica para a que exige mais maturidade e autonomia – após ver professores e amigos só pelas telas. 


Na região, as escolas estão preparando medidas para não impactar, nem frustrar expectativas infantis. Lembrando que os cuidados com a doença precisarão persistir no ano que vem – mesmo presencialmente, haverá menos contato físico. Ou seja, professores não vão poder estar sempre tão perto dos pequenos alunos nessa fase de transição. Por isso, educadores explicam a necessidade de familiares auxiliarem no preparo, sem impor cobranças ou medos.  


Segundo a diretora e mantenedora do Colégio Vértex, Elvira Panozzo, essa transição é um momento muito importante na vida escolar. “Define o perfil de como a pessoa será como estudante”. E os pais têm um papel fundamental nesse processo. “Embora pareça, a criança ainda não tem essa independência que os adultos, muitas vezes, acham que já possui. Por isso, os responsáveis devem caminhar junto, ficar em contato com a escola e os professores, observar lições e atividades”.  


Elvira comenta que, numa época normal, a transição da Educação Infantil para o Fundamental I já é complicada, pois nem todos chegam na nova fase no mesmo nível. “Com a pandemia, o desafio  


será maior. Além de focar na alfabetização, será preciso fazer uma avaliação diagnóstica para colocar a sala toda no mesmo nível. Deveremos ter um olhar bem criterioso, acolhedor e trabalhar o emocional dos alunos”. 


Denise Minte de Almeida, diretora e psicopedagoga da Escola Ensina Mais Turma da Mônica, acredita que o mais importante é que a família prepare os pequenos para entender um sentimento bastante importante: a empatia. “O se colocar no lugar do outro. Porque as crianças poderão voltar cada uma com um grau de aprendizado distinto, tendo vivido problemas e traumas diferentes por conta do isolamento social. Entender o outro sem julgar será essencial”. 


O processo ficaria mais fácil se tudo tivesse corrido da maneira normal, presencialmente, diz Carla Fernandes Meira, coordenadora pedagógica da Educação Infantil do colégio Walt Disney. Não só porque os professores estão mais acostumados a lidar com esse tipo de lição, mas porque, nas interações sociais, as crianças constroem os seus espaços, personalidade e formas de lidar com o mundo. Minimizando essa falta, a escola tentou promover a maior quantidade de encontros possíveis, mesmo que virtualmente.  


“Como as interações ficaram mais prejudicadas na quarentena, uma forma que encontramos de promover encontros individuais, em grupo e manter o vínculo foi a continuidade das experiências em forma de brincadeiras que estimulam o raciocínio, valorizam a curiosidade, o encantamento e a imaginação. Mais do que a memorização”, explica Carla.  


Ela conta que no caso da escola Walt Disney a mudança nessa faixa etária não será tão sentida, pois a transição mais impactante, quando as crianças mudam de prédio para estudar, ocorre no segundo ano (do Ensino Fundamental). “Mas nós seguimos enviando, bimestralmente, materiais para investigações. Assim, as crianças tiveram a possibilidade de construir e desvendar jogos, obter fotos da turma e manter vínculo afetivo”. 


Com essas mudanças, é esperado que, em 2021, muitas escolas mudem também a forma de ensinar. Kathleen Branco Cavaignac Baida, diretora da Casa Branca School, que promove agora o retorno das aulas presenciais em esquema de rodízio, conta que o grande desafio da educação será acolher, mais do que nunca.  


“Estamos preocupados com a parte emocional e a cognitiva. Uma nova maneira de ensinar será implantada, priorizando vivências, troca de experiências e mais ludicidade por mais tempo. Estamos analisando o material didático, priorizando aulas divertidas. Temos o ano todo para isso, sem perder o foco na alfabetização, mas respeitando o momento”. 


Essa prioridade de respeitar o tempo é o que também ressalta Renata Maria Smolka e Gaia, diretora pedagógica do Colégio do Carmo. Para ela, o mais importante é: “Deixe que as crianças sigam falando e pensando como crianças”. Afinal, qualquer transição, apesar de marcante, precisa ocorrer de um jeito natural. Quem iria para o prédio do Ensino Fundamental não fará essa troca de uma vez, como corria sempre. “Vejo muita gente querendo acelerar processos. Por aqui, não vamos começar o Ensino Fundamental no prédio do Carmo. Vamos ficar por dois meses na Educação Infantil, pois devemos para eles essa experiência de transição. Os alunos virão para esse prédio durante o ano para tomar lanche, assistir às aulas. Alguns pais acham isso desnecessário. Não queremos atrasar nada, mas respeitar o rito de passagem”.  


O que fazer 


Entre várias dicas em comum, os educadores destacaram práticas importantes que já podem ser incorporadas em casa, para tornar o cotidiano dessa fase 2020/2021 mais simples – para escolas e alunos nessa fase de desenvolvimento escolar. Confira:  


Aplique uma rotina


Há quem acredite que é melhor deixar as mudanças para o ano que vem, pois 2020 está sendo um ano difícil. Até porque, muitos pais, em home office, não estão conseguindo dar atenção aos pequenos, às lições, ao trabalho e ao lar. Mesmo assim, segundo especialistas, é melhor já regrar novamente horários e afazeres para que as crianças não sintam tanto a volta para as aulas presenciais.  


Sem traumas 


Outra preocupação é não repassar angústias para as crianças, principalmente amedrontando quanto à quarentena e à necessidade de prevenção. 


As crianças não devem ter medo de nunca mais abraçar ou não sir mais de casa. Elas precisam entender que é uma fase. Caso contrário, traumas podem, a médio prazo, interferir no que garante saúde e bem-estar para elas, como a prática de esportes ao ar livre e a comunicação.  


Autonomia 


Faz parte do amadurecimento ter autonomia. Ela será importante para a prevenção do coronavírus – por diminuir a necessidade de proximidade física – e para o próprio desenvolvimento da criança. 


Se os professores não puderam estar ao lado para, vagarosamente, criar responsabilidades aos poucos, cabe aos pais iniciar esse processo. Entre as formas de fazer isso estão: distribuir tarefas simples, como colocar pratos na mesa para a refeição; organizar uma mochila ou arrumar brinquedos. 


Isso cria o famoso senso de responsabilidade, pertencimento e iniciativa para resolver problemas cotidianos simples que serão comuns em pouco tempo, como, escovar os próprios dentes, trazer lápis apontados e usar o apontador sozinho quando preciso. 


Não subestimar 


Não é preciso fazer algo pela criança, caso ainda não consiga. Com 5, 6 anos, ela já entende explicações. Mas, se alguém sempre fizer uma tarefa por ela, acabará não tendo a iniciativa de começar a resolver. 


Se a criança errar, é preciso sempre explicar o porquê de corrigir algo. E se tornar a errar, os educadores indicam repetir a explicação, de outra maneira. Uma dica é que muitas crianças nessa idade são sinestésicas: entendem quando conseguem sentir o efeito ação e reação. Então, às vezes, é melhor explicar que algo machuca o amiguinho e perguntar se a criança gostaria de estar no lugar do outro e ter de se submeter a um castigo. Quando uma criança entende, ela passa a acertar mais facilmente. Se ela não errar, não terá a oportunidade de tentar melhorar.  


Não pressione


Deixar claro que o ano seguinte será de uma transição importante na educação é legal. Mas tudo depende de como o tema será abordado. O aluno não deve ter medo das responsabilidades que vai adquirir. O ideal é mostrar e comemorar que uma nova fase ainda mais importante vai começar.  


Quando se amedronta o estudante apontando, por exemplo, que a partir de tal data ele vai para a escola de gente grande ou passar a ter prova, cria-se uma trava em relação ao novo – o que pode se estender para outros momentos da vida. A educação é importante, em todas as fases. Não é só no Fundamental que o ensino vai ficar sério. É preciso entender que todo o processo torna a criança um ser humano melhor. 


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