Solidariedade sem fronteira: Jovens da Bahia realizam sonho estudantil na Baixada Santista

Equipe Riso acompanha e ajuda crianças de Belmonte, na Bahia, da infância até se formarem em faculdades santistas

Por: Sheila Almeida & Da Redação &  -  02/12/19  -  17:12
Os jovens vem da cidade de Belmonte, no sul da Bahia, de apenas 23 mil habitantes
Os jovens vem da cidade de Belmonte, no sul da Bahia, de apenas 23 mil habitantes   Foto: Carlos Nogueira/ AT

Cinco jovens de Belmonte, cidadezinha de 23 mil habitantes no sul da Bahia, estão realizando um sonho em comum e cursando faculdade em Santos. Não é coincidência. Eles atravessaram os 1,6 mil quilômetros de distância juntos. Parte deles começou a caminhada em 2008, quando um casal santista decidiu morar metade do mês na Bahia e os outros 15 dias em Santos, criando a organização não governamental (ONG) Equipe Riso. A instituição acompanha crianças e suas histórias,oferece cursos, viagens, passeiose convivência até que cheguem e concluam a formação universitária. A primeira deve acontecer no fim de 2022. A meta é que 30 crianças, pelo menos, se graduem pelo projeto social metade santista.


A ideia foi de Maurício Rodrigues dos Santos, de 53 anos, dentistaque escolheu o nome da ONGpela sua profissão, como conta a esposa, Tatiana Santos, mais conhecida como Tata. Ela era agente de viagens e virou pedagoga, por conta da iniciativa.


“Tudo começou para eu me ocupar. Conhecemos a cidade,porque o irmão do Maurício, também dentista, se formou e foi para lá. O Maurício foi atender voluntariamente indígenas e eu não tinha o que fazer. Comecei a ficar com as crianças na praça para contar histórias. Isso faz 15 anos”, diz, explicando a semente do projeto.


Quando 2008 chegou ao fim, anos após o pontapé inicial, as famílias das crianças de Belmonte pediram para os santistas continuarem com a iniciativa.


Então, amigos foram se juntandoe, a cada 15 dias, levavam alguma coisa para ensinar. Hoje, os encontros são fixos. Há na cidade baiana uma sede com aulas de capoeira, percussão, balé, violão, reforço escolar e outras atividades.


Protagonista dessa história e da primeira turma, a aluna Regiane Santos Silva, de 18 anos, cursa hoje Ciências Contábeis. Escolheu a profissão pela trajetória doprojeto e ajudou a tornar os sonhosde todos ali mais concretos.


“Quando um caminhão de uma entidade governamental passou por Belmonte ensinando como montar uma ONG, fui a responsável por anotar tudo e aprender, já que a Tata e o Maurício não estavam e antes era só um projeto. Vi que para tudo precisava de contador.Eu nem sabia o que era contador. Fui aprendendo, cuidando de tudo e me envolvi”, diz a menina quehoje mora e estuda em Santos para ser contabilista.


Fora do ninho


Entre as atividades mais importantes da ONG estão as viagens. Algumas para perto,outras nem tanto. Em 2017, a turma atual de universitários foi para a França. Cada vez que viajam, os jovens vão ganhando cultura, experiência e autonomia.


O motivo é porque eles precisam, para cursar a faculdade, morarem repúblicas e cuidar de tudo sozinhos. A morada da turmaé na sede da ONG, à Rua Oswaldo Cochrane, 106, no Embaré.


As casinhas são locadas paraos estudantes, que só pagam a própria comida e contribuem mensalmente com R$ 200 à instituição. Não pagam a faculdade. Tudo se viabiliza com doações e eventos que são divulgados nas redes sociais da Equipe Riso, no Facebook e no Instagram.


Para os jovens, o presente é um sonho. Estão ganhando a possibilidade de ter futuro que nunca esperaram, como diz Ryan Oliveira dos Santos, de 18 anos, estudante de Educação Física.


“Como toda criança, só pensava em ser jogador de futebol. Belmonte é cidade pequena, não tem faculdade, não há emprego, nada. Os jovens não têm o que fazer. Se fosse para morar lá depois dos 50 anos, tudo bem. Mas tem muita gente com 17 anos já envolvida com droga”.


Lais Regina Barros Cambussu, de 19 anos, estudante de Jornalismo, acrescenta que a distração dos jovens na cidade natal são bares ou igrejas. Por isso ela não pensa em voltar para lá – a não ser para ajudar. Até a saudade da família já venceu, assim como o contrário. “Minha mãe diz que ganhou na loteria com tudo o que fazem por mim”, diz, ressaltando que a mãe já fez festival de acarajés em Belmonte em prol da instituição.


Louyse Oliveira Santos, de 18 anos, vai precisar de um pouco mais de saudade para vencer. Ela é estudante de Gastronomia e,se mantiver as boas notas e se tornar fluente em francês, passará o próximo semestre na França. “É um sonho, estou bem nervosa”.


Brenner Pereira dos Santos,de 18 anos, estudante de Educação Física, também é muito agradecido. Ele lembra que todos trabalham– exigência do projeto – e estudam. “Aprendo muito e não voltaria para Belmonte não”, comenta.


No dia das entrevistas, Maurício Santos se emocionou ao ouviros jovens e saiu para limpar as lágrimas. Tudo o que quer é formar mais gente. “As pessoas nos perguntam por que gasto tanto dinheiro com isso. Não tem gente que bebe? Que vai para balada? Eu não tenho vícios e prefiro gastar assim. A gente tenta abrir o mundo para eles. A nossa missão é formá-los para uma vida melhor”.


Como ajudar


No fim de novembro, saiu o décimo caminhão com móveis, doces e outras doações para Belmonte. Tudo é vendido em feiras por lá, garantindo o projeto, que ainda tem as doações. O auxílio pode ser feito pelo WhatsApp (13) 99707-1999.


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