Respeito às diferenças é tema fundamental na Educação

Professores e alunos são unânimes em afirmar que a inclusão nos ambientes escolares é positiva.

Por: AT Revista  -  29/10/18  -  20:15
  Foto: Adobe Stock

Se “o sonho da igualdade só cresce no terreno do respeito pelas diferenças”, como afirma o professor e escritor renomado Augusto Cury, ensinar as crianças a aceitar a diversidade é uma das mais importantes ações na pavimentação deste terreno, já que são capazes de levar a um futuro mais humano.


As escolas e o universo acadêmico se mobilizam cada vez mais para, de forma multidisciplinar, agregar pessoas com deficiência no ensino regular, transformando diferenças em diversidade.


Como consequência, afirmam os educadores, os benefícios atingem tanto as protagonistas da inclusão – as crianças com deficiência – quanto os alunos que aprendem a lidar com as condições especiais e o olhar do outro.


Foi-se o tempo da Educação Especial segregada. Na verdade, a inclusão de crianças com qualquer tipo de deficiência na Educação regular já é uma premissa da Constituição Federal, que completa três décadas de vigência neste ano.


O artigo 208 da Carta Magna especifica que é dever do Estado garantir atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) exige que escolas tenham professores preparados para auxiliar a formação de alunoscom necessidades especiais a se integrarem nas classes comuns.


De acordo com a psicóloga Fernanda Teixeira, a inclusão nos ambientes escolares,quando bem aplicada, é extremamente positiva para todos. “É bom tanto para aquele que teoricamente é diferente quanto para os demais alunos. A convivência é construtiva porque a criança vai sendo convidada a olhar o outro e respeitar suas limitações, a partir de uma perspectiva diferente da sua”.


No entanto, a escola, os pais, o corpo docente e os funcionários devem aderir ao contexto da inclusão de forma natural. “Professores qualificados e uma equipe multidisciplinar são essenciais para conduzir o convívio e o aprendizado. A linha entre a inclusão e a vitimização é muito tênue e, por isso, cautela e atenção são essenciais”.


Renan, de 8 anos, está sendo alfabetizado no ensino regular, com a ajuda dos amigos
Renan, de 8 anos, está sendo alfabetizado no ensino regular, com a ajuda dos amigos   Foto: Vanessa Rodrigues

Exemplos


No Colégio Santa Cecília, crianças com deficiência são trabalhadas em sua individualidade para que possam ser incluídas, afirma a professora Denise dos Santos Fernandes, coordenadora do Ensino Fundamental I (2º ao 5º ano). "Há uma avaliação de cada aluno. Criamos formas, materiais e estratégias baseados no que ela é capaz de fazer. Mas nosso objetivo é que cada uma delas possa acompanhar o aprendizado dos demais e seguir com seu grupo até a formação, visando a autonomia na vida adulta".


A escola afirma ter como princípio a inclusão de alunos com algum tipo de deficiência – visual, auditiva ou mental – em quase a totalidade das aulas, mas dedica parte do tempo de aprendizado a práticas individuais em um espaço chamado Sala de Recursos. "Nela, trabalhamos com objetos para facilitar o processo de aprendizagem e que podem lhes dar autonomia para que acompanhem as aulas com os amigos", explica a coordenadora.


Entre eles estão a caixa de estímulo tátil, jogos de memória, alfabeto móvel, globos terrestres adaptados e livros em braile.


Renan Nobrega Soares, de 8 anos, é um aluno do Ensino Fundamental diagnosticado com paralisa cerebral e está sendo alfabetizado no ensino regular. O principal instrumento é a prancha de comunicação alternativa, por meio do qual ele relaciona frases a imagens correspondentes.


O que pareceria difícil de ser concretizado em um cenário convencional é uma realidade na vida escolar de Renan: a socialização nas aulas regulares, junto com a classe. Segundo a coordenadora, cada dia um aluno da sala fica responsável por auxiliar o amigo nas atividades e na hora do lanche.


No Liceu São Paulo, tecnologia e acompanhamento psicopedagógico são os principais recursos para permitir que crianças com síndromes como autismo possam acompanhar o ensino regular de forma construtiva e inclusiva. “Trabalhamos as suas especificidades de maneira lúdica juntamente com os psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas desses alunos. A lousa digital é um dos meios utilizados para desenvolver os conteúdos de uma maneira adequada, auxiliando na fixação dos conteúdos. Assim, estamos conseguindo alcançar nossos objetivos”, garante Regina Claudia Fuschini Miranda, diretora da escola.


Braile inclusivo


Permitir a alfabetização conjunta entre crianças com deficiência visual e outras que enxergam normalmente também é o objetivo de um projeto que nasceu na Universidade São Judas Tadeu – campus Unimonte. A ideia partiu do tecnólogo em Engenharia, professor e doutorando em Educação Renato Frosch, que uniu a tecnologia da impressão 3D para criar objetos lúdicos às linguagem alfabética e em braile.


“Ligamos uma ideia a uma técnica”, resume ele. Frosch criou arquivos digitais que se materializam através de impressora em três dimensões. Por enquanto são 50 arquivos, que viram peças como animais, objetos e respectivos nomes escritos nas duas linguagens. Ele levou sua criação para a comunidade internacional neste mês por meio do Laboratório de Inovação Cidadã da Secretaria-Geral Ibero-Americana.


A intenção é que o projeto seja aperfeiçoado e oferecido aos governos para utilização nas escolas públicas. Os arquivos estão disponíveis gratuitamente – para transformá-los em material didático, é preciso ter uma impressora digital.


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