Rafaella Laranja comemora 15 anos de carreira e planeja alçar voos maiores

Cantora e compositora santista é conhecida por dedicação ao samba. Ela relembra fatos marcantes da sua trajetória

Por: Stevens Standke  -  11/10/20  -  18:42
  Foto: Foto Alexsander Ferraz

“Foram 15 anos bem intensos. Me considero bem-sucedida”, afirma Rafaella Laranja sobre a sua carreira de cantora e compositora. Completamente apaixonada por música – e em especial por samba –, a santista começou a se envolver ainda pequena com esse universo, mas demorou para decidir se profissionalizar e colocar o seu talento à prova. Tanto é que chegou a atuar como advogada por um período.


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Hoje, a artista de 35 anos se prepara para levar a sua carreira para o próximo nível – o que envolve o Rio de Janeiro –, assim que a pandemia permitir. Na entrevista, Rafaella fala, entre outros assuntos, do quanto o seu pai (Marcello Laranja, presidente do Clube do Choro de Santos) foi fundamental para mergulhar de cabeça na música, da produtora que montou em pleno isolamento social e da repercussão das dez lives que fez – com as quais arrecadou mais de 2 toneladas de alimentos para ajudar entidades e pessoas que enfrentam dificuldades na região.


TRANSIÇÃO O que sente ao olhar para trás e ver tudo o que conquistou nestes 15 anos?
Posso dizer que foram 15 anos bem intensos. Tive muitas dúvidas no começo, antes de entrar em um processo de transição, em que precisei escolher entre ser advogada ou cantora. Por bastante tempo, achei que ter sucesso como artista era algo fora da realidade. Então, optei por estudar Direito e cheguei a advogar um pouco. Mas, no final das contas, a veia artística acabou falando mais alto.


Graças a Deus, me considero uma cantora bem-sucedida, por todos os trabalhos que fiz, pelos amigos e pelo público maravilhoso que tenho. Sou conhecida em Santos e tratada com bastante carinho. Me sinto muito realizada e feliz.


Quando largou o Direito para valer?
Foi em 2011. Mas me formei em 2008. Nos dois primeiros anos da faculdade, eu estagiava em um escritório de advocacia durante o dia e tinha aulas à noite. Aí, a partir do terceiro ano do curso, resolvi fazer a faculdade de manhã, para poder estagiar no Tribunal de Justiça à tarde e ficar com a noite livre, para cantar. Olha o esquema que bolei, para não me afastar totalmente da música (risos).


Isso me permitiu realizar alguns bicos, trabalhos pontuais como backing vocal de grupos de pagode, festas e participações em shows. Depois de passar no exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), fui atrás de um emprego na área e o que os escritórios ofereciam era basicamente pagar para trabalhar, levando em consideração o que iria gastar com condução, vestuário e almoço. Por essa razão, decidi prestar concurso público.


Fiquei um ano me preparando, em um cursinho, e enquanto isso, fazia trabalhos extrajudiciais, como inventários e divórcios consensuais, inclusive para alguns amigos. Só que não adianta. Quando algo tem que acontecer... Quanto mais você foge, mais aquela coisa te chama.


Refere-se a que exatamente?
Após um ano estudando, fiquei na lista de espera de alguns concursos. Como eu estava apertada de grana e precisava, de alguma forma, trabalhar, algumas casas noturnas da Cidade me abriram espaço para cantar e montei o meu primeiro trio (voz, violão e percussão). Nessa época, ainda aprendi a tocar pandeiro sozinha, porque, quanto mais músicos há no grupo, menos você consegue um cachê bacana.


Canto de tudo, mas sou apaixonada por samba e as pessoas me curtem bastante nesse gênero. Desse modo, o Direito foi ficando naturalmente de lado. Faz nove anos que vivo exclusivamente da música. Apesar de cantar desde os 14, 15 anos, estou completando 15 anos de carreira, pois em 2005 foi quando fiz o meu primeiro show profissional, com banda e venda de ingressos.


  Foto: Foto Alexsander Ferraz

EVOLUÇÃO Que acontecimentos mais a marcaram ao longo da carreira?
Um deles foi conseguir viabilizar o meu primeiro disco, o Minha Cara, que comecei a produzir em 2016 e lancei em 2018 (disponível em todas as plataformas digitais). Nos anos de 2014, 2016 e 2017, fiz junto com a Nadja Soares show em que cantava canções da Elis Regina e que me trouxe crescimento musical muito grande. Aí, em 2018, em um workshop em São Paulo, fui chamada pelo produtor Rick Bonadio para o Caixa de Talentos, programa da Band que ganhei no dia em que participei.


Depois disso, dividi palco com a Luciana Mello, em show em Santos, dedicado aos 60 anos da bossa nova. No fim de 2018, comecei a ir para o Rio de Janeiro, onde gravei minha primeira composição, Pagar Pra Ver. E em 2019, trabalhei igual louca; gravei com o Sombra a música chamada Do Balacobaco e recebi em Santos a faixa de mérito do samba.


Me senti honrada com essa homenagem, por ser uma representante da classe feminina em um gênero em que a presença masculina ainda é mais forte. Estamos evoluindo, mais mulheres incríveis têm conquistado espaço e respeito no samba.


Foi muitas vezes ao Rio?
Algumas, mas veio a pandemia e precisei dar uma pausa nessas idas. Minha ideia é fazer networking, até conseguir me apresentar por lá, que é onde o samba realmente acontece. Uma das pessoas maravilhosas que conheci no Rio é o Rafael dos Anjos, diretor musical do Diogo Nogueira e profissional que está produzindo um monte de gente bacana. Também conheci o Bira Presidente, do Fundo de Quintal. Duas semanas antes do início da quarentena, ele havia me convidado para cantar no lendário Cacique de Ramos.


CORONAVÍRUS Como está administrando os reflexos da pandemia?
Antes do isolamento social, eu estava bem pra caramba. Tinha as casas onde me apresentava regularmente, uma agenda de várias festas, casamentos e eventos para fazer, ou seja, havia conquistado uma estabilidade, de verdade. Eu sabia exatamente quanto teria de dinheiro a cada mês.


Aí, veio a pandemia e zerou tudo. Vai demorar para ocorrer a retomada do meio musical e da noite. Para não dizer que não vou fazer nada até o fim do ano, tenho uma festa agora em outubro. A partir de fevereiro, estarei com a agenda cheia, pois os trabalhos que eu tinha fechado foram adiados para 2021. E como parou tudo por causa da covid-19, a única opção que tive foi investir nas lives.


Já fez quantas?
Dez, todas ligadas a uma causa social – foram mais de 2 toneladas de alimentos doados para pessoas e entidades, por meio das transmissões. Antes da pandemia, eu já estava com a proposta de trabalhar melhor o meu canal do YouTube; a quarentena apenas acelerou isso.


Como já tinha uma certa estrutura, uni forças com amigos para montar a WOrange, produtora que surgiu, a princípio, para fazer as minhas lives e que agora, como nos profissionalizamos bem, vai cuidar das transmissões de outros artistas, entre eles a Helga Nemetik.


Hoje, conto com apoiadores e patrocinadores nas minhas lives, porém, financeiramente, continuo no aperto. O que ganho na transmissão é pouco. Graças a Deus, tenho um marido que está segurando as pontas. Ao longo da minha carreira, passei por diversos perrengues, cheguei a trabalhar muito ganhando quase nada. Isso faz parte da caminhada, não é mesmo?


Lembro que uma vez quase perdi a voz, porque cantei por dez horas, praticamente sem parar, e no dia seguinte, tinha nova apresentação. Eu não sou de ficar recusando trabalho.


  Foto: Foto Alexsander Ferraz

Quais os planos daqui para frente?
Não dá para planejar muito lá na frente. Afinal, a gente não sabe direito o que vai acontecer. As lives é fato: vieram para ficar e se mostraram ferramenta bem bacana para reforçar a proximidade com o público. Durante a pandemia, as redes sociais permitiram que mais gente conhecesse o meu trabalho, inclusive uma galera que não é daqui da região.


Quando as coisas começarem a normalizar, quero alçar voos mais altos. Amo Santos, tudo que conquistei até hoje foi na minha cidade, tive um crescimento legal nela, mas pretendo ampliar isso. Não planejo lançar um outro álbum e, sim, singles, até ter material suficiente para um EP, de repente apenas de composições minhas. Pois desejo voltar a escrever, aumentar minha presença enquanto compositora. Além de Pagar Pra Ver, escrevi Nossa União, essa música de minha autoria junto com o Edgar Pereira. Vou um passo de cada vez.


FAMÍLIA Qual foi a sua grande inspiração para seguir carreira na música?
A minha família sempre foi muito musical. O meu avô colecionava discos de jazz. O meu pai, Marcello Laranja, é um apaixonado pela música brasileira e atual presidente do Clube do Choro de Santos. Eu nasci na Cidade, só que vivi por 21 anos em São Vicente. A minha maior escola é a da boemia, em função do meu pai. Ele organizava rodas de samba na nossa casa em São Vicente. Vinha até gente de São Paulo participar.


Chegou a estudar música?
Aos 7 anos, comecei a aprender a tocar piano, no entanto não concluí esse curso. Aí, com 14, 15 anos, eu, que sempre me envolvia em atividades artísticas na escola e com os amigos, passei a ter aulas de canto. Já frequentei várias rodas de samba em Santos. No Carnaval, tenho um bloco, o Mulher com Colher, e fiz parte do coro em discos de escolas de samba. Sem falar que cantei num desfile de Santos.


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