Oftalmologista de Santos explica vantagens da nanotecnologia em cirurgias de catarata

Apenas os profissionais de Santos têm o nanolaser em toda América do Sul

Por: Willian Guerra  -  05/12/21  -  10:13
Atualizado em 05/12/21 - 10:37
A catarata, que se desenvolve lentamente ao longo dos anos, é a principal causa de cegueira curável no mundo entre as pessoas acima dos 50 anos
A catarata, que se desenvolve lentamente ao longo dos anos, é a principal causa de cegueira curável no mundo entre as pessoas acima dos 50 anos   Foto: Adobe Stock

Provavelmente você já ouviu falar em algum momento sobre a nanotecnologia. A ciência que se dedica ao estudo de estruturas microscópicas ganhou reconhecimento mundial principalmente com a chegada dos poderosos smartphones. Ter a tecnologia de um computador de ponta na palma da sua mão é um fruto da nanotecnologia. Mas se engana quem pensa que para por aí. Ela pode contribuir também em estudos de Física, Química e também na Medicina.


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Quase como vemos em filmes de ficção científica, as possibilidades que antes ficavam apenas na imaginação hoje já são reais. Na saúde oftalmológica, as ideias, então abstratas, agora são mais do que concretas. Pesquisadores da Alemanha desenvolveram uma nova técnica para consertar os danos causados pela catarata.


A doença que se desenvolve lentamente ao longo dos anos é a principal causa de cegueira curável no mundo entre as pessoas acima dos 50 anos, segundo um estudo divulgado pela revista científica Lancet. No Brasil, o último censo do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) mostrou que, mesmo com o crescimento do número de cirurgias entre 2009 e 2019, a doença é responsável por 49% dos casos de cegueira totalmente tratável no País. Ainda de acordo com o CBO, aproximadamente 2 milhões de brasileiros descobrem a complicação ocular todos os anos. A previsão é de que esse número suba ainda mais nos próximos anos, em decorrência do aumento da expectativa de vida não só do brasileiro, mas da população mundial.


Como é hoje?


Embora tenha se tornado mais acessível nos últimos anos, a cirurgia de catarata ainda não consegue cobrir toda a demanda armazenada. Mesmo com a longa fila de espera e a demora para recorrer ao oftalmologista, o índice de restauro da visão é altíssimo quando o procedimento é realizado com sucesso.


Profissional da saúde há mais de 40 anos, o médico oftalmologista Eduardo Paulino explica como é feita a cirurgia. “No método atual, nós partimos o cristalino em pequenos pedaços. Através de um facoemulsificador, é emitido um ultrassom para emulsificar as partículas do cristalino, extraindo a catarata”.


Embora o resultado final seja satisfatório na maioria dos casos, Paulino ressalta que existem alguns riscos controláveis. “Por ser um sistema que esquenta muito a ponteira cirúrgica, o cirurgião deve estar consciente de que ele pode ter de evitar microqueimaduras no local da incisão, edemas na córnea que é a calota externa dos olhos, bem como o trauma das células internas da mesma que pode gerar em raros casos um sofrimento maior com um pós-operatório mais demorado”.


Vale lembrar que outro laser denominado Femto, que tem indicação na cirurgia, é incapaz de emulsificar a catarata totalmente, servindo apenas de apoio para certas fases da cirurgia tradicional realizada com ultrassom.


Caso nenhuma complicação apareça e o paciente cumpra as orientações dadas pelo médico no pós-operatório, ele terá a sua visão melhorada cerca de um mês após a cirurgia. No entanto, mesmo com o problema corrigido, o uso de óculos ainda pode ser preciso, se o médico assim achar necessário.


Com a nanotecnologia


Mesmo com o sucesso da cirurgia tradicional, a Medicina avançou junto com a tecnologia. Eduardo Paulino conta que, há quatro anos, a sua equipe foi estagiar na Alemanha para conhecer um novo método para combater essa doença. Desenvolvida na cidade de Nuremberg e aplicada em um grande centro médico de Stuttgart, a técnica prometia ser ainda mais precisa e eficaz, sendo também menos traumática para o paciente.


“Diferentemente do ultrassom, que tem um impacto ocular muito mais intenso, o nanolaser não esquenta. Além disso, ele controla a intensidade e o número de disparos que emulsificam o interior do cristalino. Isso agrega uma segurança maior para todos e traz um trauma menor para o paciente. É como se fosse comparar uma britadeira (ultrassom) com uma luz na forma de laser (nanotecnologia) trabalhando no interior dos olhos”, ressalta Eduardo Paulino.


O especialista ainda explica que esse laser, diferentemente do Femto, pode realizar toda a cirurgia sem o uso do ultrassom.


Com a precisão possibilitada pela nanotecnologia, o médico oftalmologista sinaliza ainda uma consequente maior segurança e a diminuição no tempo estimado para a cirurgia e também para a recuperação no pós-operatório.


Mesmo com essa novidade, o profissional salienta que a técnica tradicional não será esquecida. “O nanolaser é delicado, então ele será usado para cataratas não tão agressivas. As graves continuarão sendo tratadas com o procedimento já existente, porque o ultrassom tem mais agressividade para quebrar a densa opacidade gerada pela doença nesses casos”.


Após receber o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o recém-chegado aparelho já foi utilizado em pelo menos cinco cirurgias realizadas por Eduardo Paulino e sua equipe, contando com a supervisão de um engenheiro responsável alemão. Todos esses procedimentos foram bem-sucedidos, com resultados satisfatórios no pós-operatório.


Propósito


Trazida de forma pioneira para o Brasil pelo Instituto de Olhos Eduardo Paulino, a tecnologia está longe de ficar somente nas mãos do grupo. A ideia da equipe médica é disseminar o conhecimento por todo continente sul-americano. Segundo os alemães que estiveram treinando Eduardo Paulino, apenas os profissionais de Santos têm o nanolaser em toda América do Sul. Ainda conforme o mesmo grupo de idealizadores da Alemanha, além do país de origem, a tecnologia já é amplamente utilizada no Japão e recentemente foi aprovada pela Food and Drug Administration (FDA), órgão dos Estados Unidos semelhante à Anvisa.


Cientes do avanço para a Medicina, os especialistas santistas planejam cursos profissionalizantes para que mais médicos saibam manusear o laser e, assim, possam utilizar a técnica. “Já registramos inscrições de cirurgiões de São Paulo, do Nordeste e de outras capitais do País. A nossa preocupação é disseminar a informação. Não pretendemos ser os únicos. Queremos agregar”.


Atenção aos sinais

Os sintomas da catarata não surgem logo no início da doença. Por isso, ela é considerada um mal silencioso. Os sinais começam a aparecer de forma progressiva, com sintomas leves, a princípio. Conforme o problema avança é que a pessoa passa a sentir incômodo e dificuldade para enxergar. Os seguintes sintomas são característicos da catarata:


- Diminuição da acuidade visual, ou seja, dificuldade de enxergar;
- A visão fica embaçada/nublada/ esfumaçada/confusa/turva;
- Visão dupla;
- Surgimento da dificuldade para ler, dirigir e andar;
- Sensibilidade à luz;
- Alteração da percepção de cores;
- O grau dos óculos começa a mudar com frequência;
- A visão fica com “brilho” devido a lâmpadas ou ao sol;
- Dificuldade para fazer as atividades diárias, por causa de problemas de visão;
- Escurecimento da visão.


Mesmo que você tenha tais sintomas, apenas o médico oftalmologista consegue diagnosticar com precisão se tem o problema. Por isso, a recomendação é que consultas sejam feitas anualmente, ou de seis em seis meses, caso a pessoa já tenha algum histórico de complicações. Isso evita com que a catarata atinja um nível quase de perda total da visão e um risco cirúrgico maior. “Quanto mais precoce for indicado o ato pelo médico, mais segura a cirurgia como um todo”, resume Paulino.


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