O sonho da maternidade na pandemia

Adiar ou manter os planos é dúvida para muitas mulheres

Por: Por Alcione Herzog  -  14/03/21  -  18:25
A repórter da AT Revista Sheila Almeida realizou o sonho em 2020
A repórter da AT Revista Sheila Almeida realizou o sonho em 2020   Foto: divulgação/biografia studio

Um ano depois da primeira morte por Covid-19 no Brasil, o clima de incerteza sobre a pandemia persiste e afeta especialmente gestantes, mulheres que acabaram de da à luz ou que estão tentando realizar o sonho da maternidade.


Clique e Assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe acesso completo ao Portal e dezenas de descontos em lojas, restaurantes e serviços!


Para essa parcela da população, o receio sobre o que ainda está por vir é sentido em dose dupla. Evidências científicas sobre os efeitos da doença na mãe e no bebê ainda são muito incipientes. Ao mesmo tempo, a Ciência já referendou em fartas pesquisas o quanto o compasso de espera pode ser perverso para a fertilidade feminina após os 37 anos de idade.


Diante do dilema sanitário e pressionadas pela contagem regressiva de seus relógios biológicos, a maioria das chamadas “tentantes” tem optado seguir com os planos, conta Carol Monnerat, acupunturista especializada em fertilidade e doula.


Nos primeiros três meses após a Organização Mundial de Saúde (OMS) classificar a situação global como pandêmica, houve uma parada geral nos consultórios de reprodução assistida, conta a especialista. “Depois, quando se entendeu que a nova realidade sanitária era algo que demoraria bastante a passar, a corrida dos casais contra o tempo recomeçou. As mulheres se encheram de coragem e esperança”. Nove meses depois, a situação se reflete nas maternidades da região, como conta a líder do Projeto Parto


Adequado na Baixada Santista e médica-chefe da Maternidade do Hospital São Lucas, Izilda Ferreira Pupo. “Pra nós não houve diminuição na quantidade de partos. Então tivemos que adotar mudanças no
fluxo das parturientes para evitar aglomerações e separar casos suspeitos e confirmados das demais. Reforçamos os procedimentos de cuidados sanitários dentro e fora dos centros cirúrgicos”. Tempos desafiadores também para os médicos, que ainda estão tentando entender muita coisa sobre o novo vírus e suas mutações.


“Essa é uma doença ilógica, que evolui de forma muito individual. É imprevisível o modo como ela
age no organismo. Pode levar à morte uma pessoa saudável, de 34 anos, e pode passar sem alarde por outros indivíduos com o mesmo biotipo e idade”.


No entanto, apesar do comportamento inesperado da enfermidade, o que se observa é que a maioria das gestantes com a Covid tiram de letra essa fase. E o que é melhor: os bebês não têm nascido com o vírus. “Eles até podem pegar depois, em casa, das próprias mães ou das famílias. Mas não nascem doentes”, conta a médica, que há 41 anos ajuda mulheres a da à luz.


Mesmo assim, existem muito inconvenientes necessários que passaram a fazer parte da jornada de trazer uma nova vida ao mundo. “Nós, que tanto pregamos o parto humanizado, vemos que a pandemia de certa forma desumaniza o processo de gerar um filho. Temos agora uma série de medidas de segurança na maternidade, como manter o bebê sempre a dois metros da mãe”.


A orientação é que a criança só vá para o colo na hora de mamar e depois que a paciente higienizou bem as mãos. “Não dá mais para avós e tios ficarem babando. Acaba tirando um pouco do glamour e do aconchego dessa fase tão especial”.


A jornalista da AT Revista, Sheila Almeida, de 32 anos, teve de se reinventar para que a etapa tão almejada pudesse ser vivida da melhor forma em família. Os obstáculos impostos pela crise sanitária foram vencidos com criatividade e uma ajudinha da tecnologia. “Tentávamos ter bebê fazia mais de quatro anos e quando partimos para uma fertilização, começou a pandemia. Já tínhamos feito o investimento e começado o tratamento quando a doença, que até então diziam ser despreocupante, passou a preocupar”.


Quando a fertilização deu errado era março de 2020, justo a época em que as pessoas começaram a usar máscara e o comércio fechou pela primeira vez. Mas, o corpo de Sheila respondeu tardiamente às medicações e veio a gravidez de Maria Clara no mês seguinte, surpreendendo o casal e até a médica que conduzia o tratamento.


A notícia da chegada do novo membro da família foi com festa, mas de forma diferente. “Fizemos uma LiRevelacao no Facebook, com brincadeiras ao vivo para contar o sexo do bebê. O chá, festa tão sonhada por anos, foi um desafio logístico. Precisou ser toda adaptada”.


Foram três datas. Na época de menor transmissão da doença (entre o fim de setembro e 1 de novembro), com uma ida a casa de cada vovó, recebendo parentes na garagem, de máscara, em área aberta, para dar uma fatia de bolo, um refrigerante e tirar uma foto.


A única vez que reunimos poucos amigos foi num salão grande, respeitando o decreto Municipal, que exigia 1,5 metro de distância entre as mesas e até seis cadeiras em cada. “Teve pessoal da cozinha de máscara e faceshield e medição de temperatura na porta. A lembrancinha era entregue na entrada: uma máscara a cada participante. E em cada mesa havia enfeites de álcool gel 70%. Deu certo.


Não tivemos notícia de nenhum caso após o evento”. Como fazer para que as vovós materna e paterna, também isoladas, acompanhassem o pré-natal e o desenvolvimento do netinho?


A jornalista baixou um aplicativo de gestação e criou um grupo no whatsapp só para isso. Todos os
dias mandava um texto ou uma foto da barriga. Enviava semanalmente notícias atualizadas sobre peso, comprimento e estado de saúde do bebê. Orientações da doula, vídeos e fotos dos ultrassons também eram compartilhados. “Acho que isso aproximou mais. Em tempos normais elas não teriam tantas informações”.


Todos os cuidados no cotidiano foram seguidos à risca. Sheila passou a trabalhar em home office e tentou se blindar de toda a negatividade para evitar sentir medo. “Apesar de todas as notícias tristes, era impossível não acreditar na vida, gestando uma”.


Ter fé na vida é a profissão de Dra. Izilda e ela quem manda o recado para as mamães. “Eu faço questão de acalmar minhas pacientes e acho que quem quer ter neném tem de ir adiante, confiar no milagre da vida. Nunca mais vamos viver como antes, mas vamos ter de aprender a tocar a vida para frente com todas as cautelas”.


A médica diz que são raras as gestantes com Covid que precisam de internação e que evoluem para um estado grave. Em poucos casos pode haver a diminuição do líquido amniótico e aí é preciso garantir todos os cuidados de repouso, hidratação e acompanhamento criterioso do bebê.


Consideradas grupo de risco, gestantes que trabalham em contato com o público ou que precisam se locomover por meio de transporte público devem ser afastadas do emprego. A gerente de loja Lúcia do Carmo Cabrita Toledo, de 34 anos, não teve essa possibilidade. Em 3 de março ela descobriu que estava esperando Théo, hoje com quatro meses.


Além da gravidez não ter sido planejada, dias depois de saber que seria mãe pela segunda vez, mais uma surpresa: como em outros países, o Brasil também teria de parar. “Foi complicado lidar com tudo de uma vez”.


O afastamento do trabalho ocorreu apenas nos primeiros meses da pandemia. No meio do período gestacional, Lúcia foi chamada a retornar ao trabalho e teve muito medo. “A loja fica dentro de um shopping. A rotatividade era grande.


Foram dias muito difíceis. Passei a ter crises de ansiedade, que me acompanham até hoje”. Quando uma colega de trabalho pegou a doença o estado emocional da jovem piorou. “Aos oito meses de gestação finalmente me deixaram ficar em casa. Só saia para fazer exames”.


O maior receio de Lúcia era carregar o vírus, não manifestar os sintomas e passar para o bebê. “Graças a Deus meu filho nunca ficou doentinho. Mas é uma situação muito delicada”.


Sonho
Para as mulheres que vem de longos tratamentos para engravidar, a dica da doula e acupunturista Carol Monnerat é buscar formas de liberar as tensões. Ela explica que a qualidade dos óvulos e a reserva ovariana diminuem a cadaano. Na verdade, a cada mês. Não dá para esperar o fim da pandemia. “Astentantes tiveram que se encher de coragem e retomaram esse sonho mesmo
com dúvidas, medos e inseguranças”.


Nessa jornada, vale tudo para diminuir o estresse e a produção de cortisol no sangue. Segundo a medicina chinesa, uma gestação, para acontecer, requer um equilíbrio entre mente, coração e útero, diz Carol. Na medicina ocidental os nomes mudam para hipófise, hipotálamo e ovários.


Esse equilíbrio fica prejudicado quando há medo, insegurança, incerteza na rotina diária. “Ao meu ver, sim, a pandemia atrapalha as tentantes, porque a mente está preocupada, tensa.


O coração está atolado, com ansiedade. A acupuntura trabalha os processos emocionais e ainda auxilia a parte hormonal, ajuda no crescimento de folículos, na melhora da qualidade ovariana e nas condições para manter o embrião no útero”.


O que se sabe é que com a mente mais serena, alimentação saudável e sono dequalidade, as taxas de cortisol no sangue diminuem e a imunidade aumenta. “Florais de bach e aromaterapia também são alternativas para trabalhar emoções mais sutis”.


Logo A Tribuna
Newsletter