Novela 'A Dona do Pedaço' inspira o mercado de bolos e doces na região

Empreendedores da Baixada Santista estão crescendo no meio, que é tema da novela das nove

Por: Joyce Moysés  -  29/07/19  -  16:23
Empreendedores da região investem em diferentes tipos e sabores de bolos e doces
Empreendedores da região investem em diferentes tipos e sabores de bolos e doces   Foto: Alexsander Ferraz/ AT

A sorridente e iluminada Maria da Paz (Juliana Paes), da novela global A Dona do Pedaço, mostra que é possível ter sucesso no mercado de bolos e doces. Para Camila Ribeiro, analista de negócios e gestora do Programa Mulheres Empreendedoras no Sebrae SP, “a personagem retrata o perfil da mulher guerreira brasileira, inspirando quem tem o sonho de abrir e administrar o próprio negócio”. 


O empreendedorismo feminino ganha força no mundo (só no Brasil há quase 8 milhões de mulheres com esse perfil). Entre os desafios, Camila destaca três: 1) A profissional lidar com ela mesma, de modo a se sentir capaz e desenvolver habilidades; 2) Saber gerir o seu tempo; 3) Ter acesso a crédito para iniciar o negócio. “Além disso, ainda encontramos barreiras sexistas”, ressalta a analista do Sebrae, que afirma ser possível vencer todos esses desafios. “As mulheres, em sua maioria, empreendem gerando valor e solucionando reais problemas da sociedade, capitalizando oportunidades. Prezam pela produtividade e eficiência, buscam incentivo em redes de empreendedoras, mentorias, eventos...”.  


Com receitas da AT Revista  


Neide Leite Lima Santos é um exemplo disso. Apesar de amar cuidar da família, a inquieta dona de casa percebeu que precisava de algo mais. “Comecei a assistir ao programa Note e Anote, da Ana Maria Braga, para pegar receitas e entender como funcionava o mundo da confeitaria. Testei fazer bolos e doces em casa, e ofereci à família e aos amigos. Mais confiante, passei a vendê-los”.  


Em 2008, já com uma clientela satisfatória, abriu a Neide Leite em Guarujá. “O início foi solitário, exigiu paciência e persistência. Hoje, a doceria é um sucesso. No ano passado, mesmo em meio à crise, reformei a loja; e o retorno tem sido incrível. Foco, determinação e amor pelo que faço são meus maiores segredos. Fico feliz por adoçar o dia de clientes e amigos”.  


Neide é grata a Ana Maria Braga, pois o famoso “acorda menina” da apresentadora a fez despertar para a vida. “Também tenho uma pasta com várias receitas da AT Revista”, conta a doceira. Um dos bolos mais pedidos da sua loja é o Flávia Leite (nome que homenageia a sua filha), adaptado do Bolo Charge, publicado há dez anos na seção Boa Mesa. Ele é de chocolate com recheio de brigadeiros gourmets  


Confira a receita no site.  


Elogios Motivam  


Fabrícia Marques do Rosário também nunca sonhou em ser boleira, embora gostasse muito de cozinhar com a avó desde criança. Formada em Negócios da Moda, trabalhava na loja de decoração da mãe no Super Centro Boqueirão, em Santos. “Quando uma amiga colocou à venda a sua chocolateria lá, insistiu para que a comprasse. Minha cunhada, recém-saída de um emprego na Capital, sugeriu uma sociedade. Arrisquei, vendendo o carro e financiando o resto em 18 vezes”.  


No primeiro dia, Fabrícia fez um bolo. As pessoas gostaram. No segundo, dois – aprovados com louvor!  


No início, ela preparava tudo em casa, de manhã. À tarde, trabalhava na loja da mãe e, à noite, retornava à cozinha, para assar mais bolos para o dia seguinte. “Passados três anos, alugamos uma casa; hoje, temos um espaço maior, com cozinha exclusiva”, conta a idealizadora da Chococau.  


Sua cunhada resolveu sair da sociedade, quando Maurício Ornelas, o marido e braço direito de Fabrícia, adquiriu a parte dela e assumiu as compras e o financeiro. O casal reformou a loja, que hoje está do jeito que a boleira sonhou. “É cansativo, exige abrir mão de uma série de coisas para investir no negócio, mas dá para ser muito feliz. Quando um cliente prova um doce e elogia, quando capta o carinho com que cozinho, vem a certeza de que aquilo vale a pena”, diz Fabrícia, que considera seus trunfos a qualidade dos ingredientes, o amor ao criar o menu e a simpatia no atendimento.  


Preocupação com as pessoas   


Quando iniciaram a doceria Miroane, em 1996, Eliane Sant’Ana havia acabado de se graduar em Serviço Social e a sócia e mãe, Izaura Correa, só tinha estudado até a 4 a série do Ensino Fundamental (hoje, é formada em Gastronomia). O intuito era sustentar a família. E a marca é resultado da junção das sílabas dos nomes das três filhas de Izaura: Mirian, Rosangela e Eliane.  


“A empresa se tornou conhecida na região principalmente pelos bolos e nos permite cruzar com pessoas incríveis, entre clientes, fornecedores e colaboradores”, relata Eliane, reforçando que empreender nesse ramo implica em ter empatia. “Todos merecem respeito e confiança. Procuramos desenvolver o melhor que há no outro pela alimentação e interação”.  


E há permanente busca por qualidade nos ingredientes e nos processos de fabricação, levando em conta a sustentabilidade ambiental – com programas de uso consciente de água e eletricidade, por exemplo. “Por último, é crucial que haja constante atualização da marca, com novos produtos, conceitos e relações”, avisa Eliane.  


Toque masculino  


Se essas mulheres são as donas do pedaço? Claro. Só que Guarujá tem um boleiro de sucesso: Jorge Silveira, funcionário público que fazia bolos depois do expediente por hobby e presenteava os colegas de trabalho com os doces como uma forma de ser gentil e firmar relacionamentos. Mas a sua cuca de banana (receita da mãe) agradou demais, cinco anos atrás, e gerou encomendas.  


“Eu me identifiquei com a personagem Maria da Paz nos primeiros capítulos, pois também preparava bolos na cozinha de casa e entregava de porta em porta e de bicicleta. Gosto da sua garra, da sua luta, mas percebo mais gente fazendo bolos e achando que vai enriquecer como na novela”, comenta ele, que ainda não está rico, mas pretende ficar um dia. Jorge já tem quatro unidades da Bolo Du Bom (está abrindo a quinta) e seis franqueadas.  


A receita campeã do boleiro leva maçã, canela e nozes. E há uma novidade: o bolo de pote, que tem excelente aceitação. “Geladinho, promete fazer ainda mais sucesso no verão”, diz o empreendedor, que trabalha nesse negócio com a mulher, Roberta (boleira e funcionária pública também), e os dois filhos.  


Sua maior realização: honrar o pagamento dos 30 funcionários. “Formamos todos internamente. Nunca contratamos confeiteiros de fora. Eu sinto muito orgulho da garra que têm e da felicidade que ficam com o trabalho bem feito”.  


A Bolo Du Bom nasceu do talento de Jorge Silveira, funcionário público que fazia bolos depois do expediente
A Bolo Du Bom nasceu do talento de Jorge Silveira, funcionário público que fazia bolos depois do expediente   Foto: Alexsander Ferraz/ AT

Como se fosse da vovó  


Assim como na novela, na Casa dos Bolos do Gonzaga, em Santos, o sabor mais vendido também tem canela. “O bolo de canela, maçã e castanhas é o queridinho do santista. Na minha loja de São Paulo, os clientes preferem o de cenoura”, explica Adriano Benício Soares, que junto com a mulher, Dayane Pereira da Silva, toca duas unidades da Casa dos Bolos.  


Segundo ele, as pessoas falam sempre sobre a novela e associam os bolos de vovó, que são a marca da loja, com os que deram fama à personagem de Juliana Paes. “Tudo é feito aqui. Não usamos corantes, conservantes e nada artificial ou pré-pronto. O bolo de maçã tem a fruta mesmo, assim como os das nossas avós e essa é a nossa receita de sucesso”. 


Receitas artesanais como as da vovó são o carro-chefe da Casa dos Bolos
Receitas artesanais como as da vovó são o carro-chefe da Casa dos Bolos   Foto: Alexsander Ferraz/ AT

Logo A Tribuna
Newsletter